Dentro de dois anos, a inflação na zona euro estará próxima da meta definida pelo Banco Central Europeu (BCE), de 2%, afirmou Vítor Constâncio em declarações à Bloomberg. O vice-presidente da autoridade monetária esclareceu que se trata de uma convicção pessoal e surge uma semana antes de o BCE divulgar as novas previsões para o ritmo de crescimento dos preços entre os países que integram a moeda única europeia.
Atualmente, o BCE antecipa uma taxa de inflação de 1,6% para 2018, abaixo do objetivo estabelecido no mandato da instituição. Mas variáveis como a subida das cotações do petróleo, assim como as medidas de injeção de liquidez na economia da zona, vão justificar uma revisão em alta das projeções da entidade sediada em Frankfurt.
Na zona euro, os preços estão a evoluir abaixo da meta do BCE desde o início de 2013, causando preocupação entre os responsáveis pela política monetária, sobretudo porque se trata de um sintoma de uma recuperação débil da economia, depois da crise que estalou a partir de 2008. “Vamos assistir a um período de vários meses de inflação muito baixa”, disse Constâncio, “e, por vezes, de inflação negativa”. Em abril, os preços registaram uma evolução negativa de 0,2%.
Esta tendência vai começar a inverter-se a partir do derradeiro trimestre de 2016, segundo o antigo governador do Banco de Portugal. “Estou muito confiante de que a previsão para o próximo ano de que a inflação ficará acima de 1% se vai materializar e que continuará a subir no ano seguinte”, acrescentou Vítor Constâncio.
O responsável do BCE disse que as medidas não convencionais adotadas pela instituição têm provocado efeitos positivos, mas reconheceu que a manutenção de taxas de juro negativas tem efeitos colaterais, afetando a rendibilidade dos bancos, questão que não pode ser ignorada durante um “longo período de tempo”. As declarações de Vítor Constâncio foram realizadas após a divulgação do relatório de estabilidade financeira, em que o BCE considera a emergência de movimentos populistas e um ritmo de crescimento mais baixo entre as economias emergentes como fatores que podem causar turbulência financeira.
Sobre o impacto de uma eventual saída do Reino Unido da União Europeia, tema que vai ser decidido pelos eleitores num referendo que terá lugar a 23 de junho, Constâncio referiu que os bancos estão “bem preparados” para responder à volatilidade que possa ser desencadeada por este evento.