Já há dias que se andava nisto. Mourinho vai assinar, Mourinho está quase a assinar, não falta muito para haver fumo branco em Old Trafford, não tarda nada Mourinho vai assinar e… bom, lá assinou. Como todos os contratos de trabalho mandam, também neste há duas partes. De um lado, há o trabalhador, neste caso José Mourinho, conhecido treinador, tanto pelos troféus como pelo tom no mínimo autoconfiante. Do outro, há a empresa. Como se sabe, o Manchester United, um dos maiores clubes da história do desporto e nome incontornável nisto do futebol mundial. Mas quem é o nome por trás da estrutura dos red devils?
Malcolm Glazer. É esse o nome do multimilionário norte-americano que, a pouco e pouco, foi comprando o Manchester United. Depois de um período em que compraram ações do clube de forma gradual, em 2005 a família Glazer (Malcolm, que morreu em 2014, colocou os seus seis filhos a gerir o clube), passou a deter o clube por completo. A compra do clube por parte dos Glazer foi feita através de um esquema complexo que atraiu as críticas de muitos adeptos do clube: a família comprou o clube, tendo-se endividado nesse processo. Mais tarde, passou essa dívida para o clube, que até hoje continua a pagá-la.
Andy Green, analista financeiro e adepto do Manchester United, calculou que os custos desta aquisição, incluindo juros, rodeiam os 800 milhões de libras, isto é, mais de mil milhões de euros.
Esta mudança de donos (até então, o Manchester United era detido por várias partes, uma vez que estava na bolsa desde a década de 1980) levou a que vários adeptos do Manchester United começassem o movimento “Love United, Hate Glazer”. Isto é, em português, “Ama o United, odeiai o Glazer”. Esse movimento ficou celebrizado pelas cores verde e amarelo (cores do Newton Heath, o clube que deu origem ao Manchester United), que desde então fazem parte da paisagem em Old Trafford. Também houve quem tenha ido mais longe, ao ponto de criar um novo clube: o Football Club United of Manchester, que atualmente joga na National League North, um segmento regional do sexto escalão do futebol inglês.
Apesar de ser um movimento que teve origem nos adeptos, as cores do “Love United, Hate Glazer” não foram erguidas só por anónimos. Também David Beckham, antiga glória daquele clube nos anos 90 e no início do século, apresentou-se nas bancadas para ver um jogo com um cachecol verde e amarelo.
A verdade é que o risco financeiro parece ter sido compensado pelo aumento de receitas do clube. Foi o próprio Andy Green, o tal analista financeiro fã do Manchester United, que o reconheceu, em declarações ao The Guardian em maio 2015, a propósito dos 10 anos dos Glazer à frente do clube onde se destacaram Bobby Charlton, Eric Cantona, David Beckham e também Cristiano Ronaldo. “Eles tiveram muita sorte, mas quando se tem muita sorte numa leveraged buyout [compra de uma empresa financiada com dívida] é isto que acontece — tem-se um retorno fantástico”, disse.
Uma das razões apontadas para esse sucesso foi a campanha de internacionalização do clube, gerando receitas em merchandising um pouco por todo o globo. Segundo o The Guardian, em 2015 a dívida do Manchester United tinha baixado para 380 milhões de euros — menos de metade daquela que o clube tinha quando os Glazers começaram.
Olhando para os números de troféus conquistados, os anos dos Glazers estão longe de serem catastróficos a nível interno. Desde que pegaram no clube em 2005, o Manchester United venceu cinco Premier League (o tri de 2006-07, 2007-08, 2008-09, depois em 2010-11 e finalmente em 2012-13).
Já a nível internacional, o mesmo não poe se dito. Há “apenas” uma Liga dos Campeões, conquistada em 2007-08 — Cristiano Ronaldo tem parte nesse 1-1 com o Chelsea, marcando o golo dos red devils e vencendo o troféu de homem do jogo.
A verdade é que desde que os Glazers entraram, o clube tem tido uma postura relativamente mais conservadora no que diz respeito à aquisição de jogadores, ao contrário de outros rivais, como os vizinhos do Manchester City ou o Chelsea FC, que também passaram a ser geridos por multimilionários estrangeiros. Prova disso foi a venda de Cristiano Ronaldo ao Real Madrid em 2009 e as poucas soluções subsequentes para tentar preencher o espaço do madeirense.
Mas não é com a entrada dos Glazer que o desaire do Manchester United começa. É antes com a saída de um outro nome, esse sim, consensual entre aquelas bancadas vermelhas: Sir Alex Ferguson. Desde que o treinador escocês que revolucionou o Manchester United se reformou em 2013, o clube de Old Trafford, o clube tem demorado a recuperar a forma de outros tempos. Até agora, só conquistou um título: a FA Cup, nesta época, naquele foi o último jogo do técnico holandês Louis Van Gaal. Pior mesmo só o seu antecessor, David Moyes, a quem coube a árdua tarefa de se seguir a Alex Ferguson no comando dos red devils e que acabou por não conquistar nada.