O antigo presidente, o ex-secretário-geral e o ex-administrador financeiro da FIFA fizeram “um esforço coordenado” para “enriquecer” à custa da organização que regula o futebol mundial. A conclusão é da própria FIFA, que está há meses a fazer uma investigação interna a possíveis más práticas. No total, entre aumentos de salários e bónus variados, os três ex-dirigentes acumularam cerca de 71 milhões de euros nos últimos cinco anos.
“Os documentos e as provas levantam questões sérias sobre a forma como um conjunto de correções a contratos foram aprovados a favor de Blatter [ex-presidente], Kattner [ex-administrador financeiro] e o ex-secretário-geral Jérôme Valcke”, lê-se num comunicado de imprensa emitido esta sexta-feira pela FIFA. “Essas correções resultaram em pagamentos maciços — no valor de milhões de dólares — em forma de salários e bónus entre 2011 e 2015 aos antigos dirigentes da FIFA”, continua o documento
A investigação interna, que está a ser levada a cabo pela sociedade de advogados norte-americana Quinn Emanuel, permitiu já concluir que a FIFA fez múltiplos contratos e correções com os antigos dirigentes, muitas vezes com pouca distância temporal. Isso aconteceu, por exemplo, em abril de 2011, nas vésperas de eleições para a liderança da organização. “Quando ainda não era certo se Blatter ia ser reeleito, tanto Valcke como Kattner viram os seus contratos prolongados por mais oito anos e meio, até 2019, com grandes aumentos salariais e de bónus”, diz o comunicado. Além disso, os novos contratos tinham cláusulas que permitiam que ambos os responsáveis recebessem uma indemnização caso Blatter não fosse reeleito. O ex-secretário-geral Jérôme Valcke receberia perto de 160 milhões de euros e o ex-administrador financeiro Markus Kattner teria quase 90 milhões de euros à espera.
Na semana passada, Kattner foi despedido da FIFA devido às conclusões desta investigação. Na quinta-feira, a sede da organização na Suíça foi alvo de buscas por parte do Ministério Público helvético, com quem a Quinn Emanuel tem estado a colaborar. Joseph Blatter e Jérôme Valcke estão a ser formalmente investigados pela Justiça suíça por alegadas práticas criminais à frente da FIFA.
“Antes de 2013, as pessoas que assinavam os contratos eram, em princípio, as mesmas que os aprovavam”, concluiu a investigação. “Eles tinham a autoridade de que precisavam e simplesmente diziam à contabilidade e aos recursos humanos (o departamento geralmente encarregado pelos contratos de trabalho na FIFA, que respondia a Kattner) quanto devia ser pago e a quem”, refere igualmente o comunicado. Em 2013, a FIFA criou uma subcomissão para definir e analisar os salários e bónus a pagar aos dirigentes. E, apesar de o contrato de Blatter ter sido revisto, os de Valcke e Kattner nunca sofreram alterações.
Mais: dias depois de a Justiça norte-americana ter lançado, em maio do ano passado, uma grande investigação à FIFA, esta subcomissão aprovou a extensão de contrato de Kattner por mais quatro anos (até 2023). Tal como o contrato anterior, este também continha cláusulas de rescisão e indemnização. Se fosse despedido (como foi), o administrador financeiro receberia uns oito milhões de euros.