Rui Bragança, bicampeão europeu de taekwondo – arte marcial que é modalidade olímpica desde 2000 – terceiro do ‘ranking’ olímpico e segundo da hierarquia mundial, quer fazer o melhor possível nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, mas não promete qualquer medalha para Portugal.

Depois da frustração de há quatro anos por não ter conseguido chegar por uma ‘unha negra’ aos Jogos Olímpicos de Londres, Rui Bragança, de 24 anos, chega ao Rio de Janeiro em alta, mas o atleta de Guimarães põe água na fervura e prefere encarar a competição passo a passo.

“Este ano as coisas estão a correr muito bem, vamos ver no dia 17 de agosto [dia em que compete] se estou ou não na melhor forma de sempre. Expectativas? Passam por fazer um bom primeiro combate porque lá ‘só’ estão os 16 melhores do mundo, cada combate é uma final e sem passar o primeiro já não há segundo, terceiro ou quarto”, disse em entrevista à agência Lusa.

Ser bicampeão europeu, terceiro do ‘ranking’ olímpico e segundo do mundial faz sonhar com uma medalha, mas Rui Bragança reforça a dificuldade da prova.

“A competição desenrola-se num só dia, se estivermos bem tudo pode acontecer, mas se correr mal não temos uma segunda oportunidade. Nesse aspeto, o taekwondo é muito ingrato, são só seis minutos em que estamos lá dentro”, frisou.

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Rui Bragança considera ainda injusto que o critério do sucesso seja o de vencer medalhas: “as pessoas não têm sequer noção do que é chegar aos Jogos Olímpicos, quase se pode dizer que chegar lá é o objetivo, o que vem a seguir é o extra”.

“Pedirem uma medalha a mim, à Telma [Monteiro] ou ao Nélson [Évora], por exemplo, é muito complicado. Trabalhámos tanto durante quatro anos e dizer que, se falharmos, nada disto valeu a pena é o mesmo que dizer que esses anos foram para o lixo. Estar entre os melhores 10 mil atletas de todas as modalidades já é espetacular, um país com 10 milhões de habitantes conseguir ter 90 atletas e ‘sacar’ uma ou duas medalhas já era espetacular”, disse.

Bragança considera-se um atleta que “valoriza muito mais a tática do que a força ou a velocidade”.

“Tenho uma boa cabeça por assim dizer, costumo resolver os problemas de uma forma mais tática, mas há dias para tudo, posso ter de utilizar outras estratégias”, disse.

Prestes a acabar o curso de medicina na Universidade do Minho, Rui Bragança pondera abandonar a modalidade depois dos Jogos se os apoios continuarem a ser escassos.

“Não consigo passar outra vez por ter que pagar do meu bolso para competir, pedir ajuda aos meus pais, que já tanto se sacrificaram. Já passei por isso uma vez, uma segunda era de loucos. Neste momento só estou focado nos Jogos Olímpicos, vamos ver o que se passa depois do Rio, [mas] se não houver apoios não há condições [para continuar]”, deixou.

Lamenta que a primeira resposta dos patrocinadores seja “logo não, a mentalidade é ainda muito pequena”.

Rui Bragança, que recorre a um nutricionista para manter o seu 1,80 metros abaixo dos 58 quilos e dedica entre cinco a seis horas por dia à modalidade entre treinos e fisioterapia, gostaria de continuar porque esta é a sua “paixão”.

“Eu vivo para aqueles seis minutos que estou lá dentro, para aquela adrenalina, para aquela emoção, para aquele jogo. Até me dizerem que não posso mais, vou continuar, quando não der mais, acabou”, diz.