O jornalismo nem sempre é uma atividade romântica. Muitas vezes, os profissionais dos media gastam horas e dias a ler e analisar tabelas de dados, para extrair e organizar informação. Por um lado, é um trabalho chato e que poucos gostam de fazer, por outro, é terreno fértil para o erro humano. Mas o jornalismo de dados tem um novo aliado: a Inteligência Artificial (IA).

O The Washington Post, jornal de referência norte-americano, aproveitou os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro para pôr a funcionar um mecanismo de IA capaz de produzir, automaticamente, centenas de pequenas peças jornalísticas. Trata-se de um sistema de computação que processa os milhares de dados gerados diariamente durante o evento, como por exemplos as classificações, tempos, medalhas, recordes, etc.

Ao contrário das pessoas, estes sistemas informáticos são capazes de sistematizar, em segundos, grandes quantidades de informação, que depois é organizada e apresentada sob a forma de notícia. Os computadores não só constroem essas notícias como executam tarefas complementares, tais como a partilha nas redes sociais. O jornal aposta na transparência do processo e criou uma conta no Twitter chamada Post Olympics. Este é um exemplo de um tweet de uma notícia gerada por computador:

Esta tentativa do The Washington Post de automatizar notícias parece estar ainda numa fase embrionária. Isto porque o algoritmo só ainda processou duas entradas nesta conta, sendo que a segunda corrige a primeira (e teve, provavelmente, intervenção humana).

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O software chama-se Heliograf e está a ser desenvolvido por uma equipa chefiada pelo responsável da área digital do The Washington Post, Jeremy Gilbert. Ao Recode, explicou que “o objetivo não é substituir os jornalistas, mas libertá-los” para outros trabalhos. A equipa envolve três programadores a tempo inteiro, com a colaboração de alguns jornalistas e analistas de dados.

O Post Olympics/Heliograf é um balão de ensaio importante para outro grande evento, que acontece em novembro: as eleições presidenciais norte-americanas. Este sistema de produção de “notícias de dados” não vai gerar composições de leitura espetacular, mas vai libertar muitos profissionais do trabalho moroso e complexo que é o tratamento de grandes dados. O que nem sequer é inédito: as agências noticiosas Associated Press e Bloomberg já fazem o mesmo.