A pressão sobre o rating de Portugal está a aumentar, afirma o responsável pela análise de ratings soberanos da DBRS, a única agência que mantém o rating de Portugal acima de lixo, que está preocupado com baixo crescimento da economia portuguesa no segundo trimestre.
Entre as quatro agências de rating que o Banco Central Europeu usa para avaliar a dívida dos países que aceita que os bancos usem como garantia nos empréstimos que lhes dá, a DBRS é a única que não qualifica a dívida pública portuguesa como lixo, ou especulativa.
Como basta uma agência dar uma classificação acima de lixo para que o BCE aceite que os bancos usem essa dívida, também vale para sentido contrário: se a DBRS cortar um nível ao rating da dívida portuguesa, essa dívida deixe de ser aceite e pode criar um problema para os bancos, que a detêm, e para o Estado, tornando a sua dívida menos apelativa, logo mais cara.
Fergus McCormick, em entrevista à Reuters, relembra que a perspetiva se mantém estável, mas os dados mais recentes sobre a economia portuguesa, conhecidos na sexta-feira não auguram nada de bom e a pressão sobre a notação dada a Portugal aumentou.
Os dados do PIB que o INE deu a conhecer na sexta-feira, dando conta de um crescimento de 0,2% no segundo trimestre, “aumentou as nossas preocupações sobre as perspetivas de crescimento, que parecem estar a abrandar no terceiro trimestre”, disse o responsável.
“Por isso, a perspetiva mantém-se estável, mas parecem estar a crescer pressões de várias frentes”, acrescentou, lembrando a exigência da Comissão Europeia de que Portugal avance com mais cortes de despesa, algo que o Governo português se tem recusado a fazer por não considerar necessário para atingir os seus objetivos.
A DBRS vai rever a nota dada a Portugal em outubro, precisamente uma semana depois de Portugal ter de apresentar à Comissão Europeia uma lista com as medidas tomadas para corrigir a trajetória orçamental e garantir que sai da situação de défice excessivo este ano.
As incertezas em relação a que medidas serão essas e ao seu impacto no equilíbrio político atual são uma preocupação para o analista, tal como a possibilidade de o Estado ter de vir a injetar mais dinheiro dos contribuintes na Caixa Geral de Depósitos e no BCP. O analista diz que não se sabe se os partidos mais à esquerda apoiariam essas medidas.