O taekwondo só chegou a modalidade olímpica em 2000, mas, depois de Nélson Évora e Fernando Pimenta terem falhado o pódio, esta arte marcial parece ser uma das últimas esperanças a que Portugal se pode agarrar. Rui Bragança entra em ação esta tarde e pode representar a oportunidade portuguesa de trazer uma medalha. Afinal, o ouro do campeonato europeu deste ano é dele.
A história de Rui Bragança no desporto começou cedo. Passou pelo karaté com seis anos, mas foi na natação que se quis tornar um desportista. Aos nove anos, já era chamado para as equipas de competição da modalidade, mas a passagem de Rui Bragança pelas piscinas teve um final inesperado: era alérgico ao cloro. Pegou na toalha, secou-se e procurou outro desporto.
Descobriu o taekwondo em Guimarães, aos 13 anos. Seria a modalidade que o levaria à glória, mas, no início, não era isso que estava nos planos. Foi uma medalha de bronze, no campeonato da Europa de juniores de 2007, no Azerbaijão, que lhe deu a certeza. Daí até se tornar o atual campeão nacional e campeão europeu, foi um pulo. Em 2011, foi vice-campeão do mundo.
Rui Bragança voltaria ao Azerbaijão em 2015, para a primeira edição dos Jogos Europeus. Foi medalha de ouro na categoria -58kg, em que compete atualmente, e trilhou um caminho impressionante até chegar ao Rio de Janeiro.
O desporto não impediu Rui de se dedicar aos estudos. Pode parecer complicado para um campeão europeu frequentar uma licenciatura em Medicina na Universidade do Minho, mas é precisamente isso que faz. “Dou tudo ao taekwondo e o pouco que sobra vai para a Medicina. Tem chegado e já estou no sexto ano”, revelou no início do mês, numa entrevista ao MaisFutebol.
Em 2012, tentou o apuramento para os Jogos Olímpicos de Londres, mas falhou. Na mesma entrevista, admitiu que o que mais lhe custou foi “perder o apoio financeiro do Comité Olímpico”. “Queria devolver esse dinheiro aos meus pais. A bolsa que eu recebia servia para eu recompensar os meus pais por tudo o que fizeram por mim. Estava feliz por isso. Quando perdi o apuramento, fiquei sem essa bolsa”, recordou Rui Bragança.
A história agora foi diferente. A 7 de dezembro de 2015, Rui Bragança escrevia no seu site: “Rio de Janeiro — aqui vou eu”. Era oficial.
Um mês antes de partir para o Rio, optou por não prometer medalhas. “Vamos ver no dia 17 de agosto se estou ou não na melhor forma de sempre”, disse à Lusa em julho. Uma das características da prova de taekwondo é o facto de a competição se realizar toda no mesmo dia (os oitavos de final começam às 13h15 e a final está marcada para a uma da manhã). “Se estivermos bem, tudo pode acontecer, mas se correr mal não temos uma segunda oportunidade”, sublinhou o atleta. “Eu vivo para aqueles seis minutos que estou lá dentro, para aquela adrenalina”, garante.
O currículo é importante, mas Rui Bragança desvaloriza-o. “Se chegar lá com um sorriso na cara, é o melhor que me pode acontecer”, disse aos jornalistas já no Rio de Janeiro. “Eu sou bicampeão da Europa. Há bicampeões asiáticos e bicampeões do mundo. Eu sou o número 3 do ranking olímpico. Temos o número 1, temos o número 2. Quando entro para o combate, está zero a zero na mesma, ninguém me dá mais um ponto”, disse o atleta.
Rui Bragança combate às 12h45 locais (16h45 em Lisboa) contra o colombiano Óscar Munoz — que venceu a medalha de bronze nos Jogos de Londres, em 2012 — na Arena Carioca 3. Caso se vá qualificando, pode seguir para os quartos-de-final às 19h, para as meias-finais às 21h e para a final à 1h (horas de Lisboa).