O Ministério da Defesa diz que falar em “extinção” dos Comandos à semelhança do que aconteceu em 1993 é “pura especulação”. Em comunicado, refere que o que está em causa é saber o que não terá “corrido bem” no curso, que já resultou na morte de dois militares. O comunicado surgiu depois de o Expresso avançar que a extinção dos Comandos era uma hipótese em cima da mesa do Ministério e de o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ter afastado essa hipótese

O Expresso avançou na sua edição deste sábado que, depois de concluída a inspeção do Exército aos cursos dos Comandos, uma das hipóteses em cima da mesa do ministro da Defesa, Azeredo Lopes, era a extinção daquela tropa de elite. Já em 1993 os Comandos foram extintos, depois de registadas três mortes em treinos. O curso só foi retomado em 2002.

A notícia surgiu dois dias depois de o anúncio do Ministério da Defesa, em comunicado, de que todos os cursos seriam suspensos (exceto o atual) e que o Exército tinha quatro meses para apresentar as conclusões da inspeção técnica extraordinária que está a ser feita aos cursos dos Comandos. O porta-voz do Exército, tenente-coronel Vicente Pereira, referiu então que todas as hipóteses estavam “em cima da mesa”.

Confrontado pelo Expresso com a hipótese de extinguir esta tropa de elite, o Ministério da Defesa respondeu: “Será necessário conhecer o resultado desta inspeção, bem como dos restantes inquéritos em curso, para se saber, por um lado, o que realmente não funcionou bem e, por outro lado, quais as medidas a adotar de forma a impedir a ocorrência de situações trágicas como aquelas que sucederam na última semana”.

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Este sábado, já depois da notícia da morte do militar Dylan da Silva, confrontado pelos jornalistas o ministro evitou a questão recusando “comentar interpretações e especulações”, ainda que as considere possam ser “legitimamente feitas”. “Não vou desmentir porque se tivesse de desmentir tudo o que é dito e não corresponde à verdade não fazia outra coisa”. O ministro considerou não ser o momento para falar nem do inquérito promovido pelo exército que está a decorrer, nem sobre as medidas que serão tomadas depois dessa investigação.

“É macabro e de mau gosto” falar dessas questões neste momento, argumentou o ministro deixando escapar pelo meio, em relação à notícia do Expresso: “Só se falaram com outro Governo”.

Pouco depois seria a vez de Marcelo Rebelo de Sousa, em declarações no Porto, tocar no assunto, mas de forma mais perentória. Marcelo afirmou que a extinção dos Comandos não está em causa, mas a inspeção em curso tem que apurar tudo o que se passou para, se necessário, mudar procedimentos. O Presidente lembrou a importância dos Comandos no contexto internacional.

“Não está em causa a extinção dos Comandos, mas uma coisa são as instituições outra coisas são as práticas e comportamentos. Há que apurar quais as práticas e comportamentos de tudo o que aconteceu”, disse Marcelo Rebelo de Sousa.

A inspeção em curso deverá avaliar “as provas de classificação e seleção de comandos” e os “seus referenciais”, explicou o Exército no comunicado enviado quinta-feira. A suspensão dos cursos foi decidida depois de um militar ter morrido na sequência de um treino. Um outro estava em internado com problemas hepáticos (acabou por morrer no sábado). Havia ainda registo de três outros instruendos que se sentiram mal.

Depois das palavras do Chefe de Estado, o comunicado do Ministério da Defesa a afirmar que “a única preocupação do Ministro da Defesa Nacional consiste em contribuir para que o Exército possa realizar com toda a serenidade e objetividade as diligências que tem em curso, de modo a saber-se o que de facto não terá corrido bem e encontrar-se a forma mais adequada de o impedir no futuro”. “Todos os cenários que possam ser levantados além disto são pura especulação”, acrescenta o comunicado.

Segundo os testemunhos de alguns instrutores ao Observador, é frequente que os instruendos não consigam terminar o curso de Comandos — considerado muito exigente. Também é frequente que alguns se sintam mal.

Artigo atualizado às 15h20 com o comunicado do Ministério da Defesa.