Se achava que Nuno Gama não parte um prato, engana-se. Parte um e muitos mais — este sábado partiu mesmo um total de 78 pratos contra a calçada portuguesa, com nomes como “feio”, “azeiteiro”, “refugiado”, “hetero”, “cristão” e “caixa d’óculos”. Estereótipos que, sob o mote da tolerância, foram feitos em pedaços no arranque do segundo dia da ModaLisboa. Ao som da banda da Marinha, o criador português celebrou 30 anos de carreira com um desfile em dois espaços diferentes: na Sala das Galeotas do Museu da Marinha — para imprensa e convidados — e na Praça do Império, para o público em geral e debaixo de um sol abrasador.
“Partimos a loiça toda”, diz Nuno Gama ao Observador no final do desfile, com um sorriso de orelha a orelha. O objetivo? Quebrar estereótipos e lutar pela igualdade. “Será que vale a pena fazermos esta divisão da sociedade?”, interroga o designer. A resposta surgiu na coleção primavera/verão 2017, com mensagens anti-racistas nas camisolas como “I’m black & I’m a beautiful human being” (sou preto e sou um lindo ser humano).
Aprendi que cada vez que apontamos um dedo temos três dedos apontados contra nós. Temos de aprender a ser mais condescendentes e a aceitarmos os outros tal e qual como eles são”, diz Nuno Gama.
Uma lição de vida que retirou de 30 anos de carreira, 5o anos de vida e 25 anos a desfilar dentro da ModaLisboa. “O tempo tem uma coisa boa: dá-nos maturidade e ensina-nos a olhar para as coisas de forma diferente”, explica ao Observador.
Apaixonado pela luz da Capital, Nuno Gama chamou à sua coleção “Luzboa” e apostou em coordenados neutros em tons de branco e areia. “Lisboa tem uma luz que nos distingue e as suas cores, bem como a arquitetura, são uma inspiração”, diz o designer. O azul — que representa a Arrábida, o seu local favorito no país — esteve igualmente presente em lãs, sedas, caxemira, algodão e alguns linhos.
Em fotogaleria, encontra alguns conjuntos da primavera/verão 2017 de Nuno Gama.