Uma equipa de cientistas britânicos acredita ter descoberto o primeiro tratamento verdadeiramente eficaz para o autismo, doença que afeta uma em cada 68 crianças nos Estados Unidos da América e uma em cada 100 no Reino Unido. A descoberta, divulgada na revista The Lancet, foi feita depois de os investigadores terem seguido durante seis anos um grupo de 152 crianças, entre os dois e os quatro anos de idade, sujeitas a uma terapia comunicacional que também envolveu os pais.
Durante os primeiros seis meses, as famílias tiveram de visitar uma clínica duas vezes por semana. Os pais eram deixados a sós com os filhos e uma caixa de brinquedos. Quando as crianças tentavam interagir, os pais eram encorajados a responder da mesma forma: quando lhes era oferecido um brinquedo, davam um brinquedo de volta e quando os filhos diziam uma palavra, repetiam-na.
A terapia prolongou-se durante os seis meses seguintes, mas com menos intensidade. As primeiras melhorias fizeram-se sentir logo ao fim do primeiro ano, mas os maiores desenvolvimentos aconteceram nos cinco anos seguintes, refere o The Guardian. Ao fim dos seis anos, os sintomas diminuíram em 17%. Quando o estudo foi iniciado, a percentagem de crianças com autismo profundo era de 55%. No final do tratamento, o número tinha descido para 46%.
Num outro grupo de crianças, que não foi sujeito à terapia, a gravidade dos sintomas foi aumentando ao longo dos anos. No início, 50% das crianças tinham autismo profundo. No final, o número tinha aumentado para 63%.
Apesar da falta de interação que muitas vezes existe entre pais e crianças com autismo, o estudo mostra que uma terapia iniciada em idade pré-escolar pode ajudar a diminuir os sintomas a longo prazo. “Quando mudamos a forma de interação dos pais, isso faz com que as crianças tentem comunicar com eles”, explicou Jonathan Green, que liderou a equipa de cientistas das universidades de Manchester, Londres e Newcastle, à CNN. “E isso está relacionado com a mudança de sintomas”.
Apesar do sucesso, Jonathan Green frisou que este tratamento não é uma cura para o autismo, uma vez que as crianças não irão deixar de ter sintomas. Contudo, a terapia “sugere que trabalhar com os pais” e ajudá-los a interagir com os filhos “pode levar a uma melhoria dos sintomas a longo prazo“.
“A vantagem desta abordagem é que tem potencial para afetar o dia-a-dia da criança”, referiu ainda o investigador da Universidade de Manchester, citado pelo The Guardian. “As nossas descobertas são encorajadoras, uma vez que representam uma melhoria nos sintomas principais do autismo que anteriormente eram muito resistentes a serem alterados.”