Mudar de horário duas vezes por ano não é um hábito exclusivamente português. Cerca de 70 países no mundo vão atrasar, este domingo, o seu relógio uma hora. A alteração acontece em toda a União Europeia, mas há outros países que não fazem parte do grupo que escolheram seguir as mesmas normas. A medida foi implementada pela primeira vez em 1916, na Alemanha e no então império Austro-Húngaro, com o objetivo de poupar energia, um argumento que tem sido tema de debate nos últimos anos.
Em Portugal, em 1992, o Governo, então chefiado por Cavaco Silva, adotou o horário da Europa central, mas a opção foi muito criticada, já que no inverno o sol nascia muito tarde e, no verão, era de dia até depois das 22h00. A partir de 1996, o Governo chefiado por António Guterres voltou ao antigo horário.
E como funciona no resto do mundo? O Observador atualiza este artigo com oito casos curiosos em que mudar os ponteiros do relógio é menos simples do que parece.
Rússia
Em 2010, o então presidente russo Dimitri Medvedev, decidiu que a hora de verão seria para manter. “[Com a mudança da hora] os nossos biorritmos são prejudicados (…). Até as coitadas das vacas não conseguem perceber porque passam a comer ou a ser ordenhadas mais cedo ou mais tarde”, justificou, citado pelo jornal The Guardian.
A mudança foi revogada em 2014, quando também foi decidido que o país passaria a ter 11 fusos horários, dois a mais que o modelo anterior.
Venezuela
A Venezuela reverteu, em abril, a mudança de fuso horário de meia hora estabelecida em 2007 pelo presidente Hugo Chávez. No “modelo Chávez”, o relógio avançava 30 minutos no verão e atrasava uma hora e meia no inverno.
No governo de Nicolás Maduro, o horário oficial do país passou a situar-se a quatro horas atrás do Horário do Meridiano de Greenwich. A mudança foi motivada pela forte seca, que estava a afetar o reservatório de Guri, responsável por gerar dois terços do consumo energético do país.
Egito
Pouco depois da revolução da Primavera Árabe, em 2011, o governo egípcio promoveu uma votação online para descobrir se os seus cidadãos eram contra ou a favor terem de ajustar as horas. 80% votaram contra. O Governo aceitou a sugestão.
Em 2014, com um golpe de Estado pelo meio, os relógios passaram a mudar quatro vezes por ano. A mudança durou pouco. No ano seguinte, o governo do país cancelou outra vez a medida.
China
Habituada aos seus próprios ritmos, a China não muda a hora: de uma ponta à outra do país, desde a fronteira com o Quirguistão até à Coreia do Sul, o fuso horário é o mesmo. À escala, é como se os relógios marcassem o mesmo de Lisboa até Moscovo.
Índia
Tal como a China, a Índia também não muda a hora. Nem sempre foi assim: durante as guerras com a China e o Paquistão, em 1965 e 1971, respetivamente, o horário mudava para se reduzir o uso de energia. Outro dado: apesar do seu tamanho, a Índia vive toda no mesmo fuso horário de 1947, ano em que se tornou independente.
Austrália
A Austrália tem seis estados, mas as horas só mudam consoante as estações em quatro deles. Não se pense, porém, que os restantes ignoram o assunto. Só na Austrália Ocidental houve quatro referendos para que o horário mudasse: em 1975, 1984, 1992 2009. A resposta foi sempre “no”.
Ilhas Chatham, Nova Zelândia
Em 1945, a Nova Zelândia determinou o seu horário oficial a 12 horas da Hora Média de Greenwich. No entanto, os habitantes das Ilhas Chatham decidiram adiantar os seus relógios 45 minutos em relação ao resto do país. Detalhe: a população estimada do local é de 600 habitantes, segundo dados de 2013.
De acordo com o site neozelandês Stuff, não há uma explicação oficial para esta mudança. Acredita-se tenha sido uma decisão do os marinheiros que trabalharam no arquipélago e que acabou por ser adotada pelos habitantes das ilhas.
Todos os anos, em abril, o território atrasa o relógio uma hora, até setembro.
Brasil
É a exceção que confirma a regra: enquanto grande parte do Brasil muda as horas duas vezes por ano, os 16 estados do Norte e do Nordeste do país ficam sempre na mesma. Tudo porque não vale a pena: estes territórios estão tão próximos da linha do Equador que a exposição solar é (quase) a mesma durante o ano inteiro.