Mais de 260 doentes estiveram em hospitalização domiciliária no primeiro ano de funcionamento da única unidade pública do país que permite a pacientes agudos que ficariam internados receber os cuidados em suas casas.
O Hospital Garcia de Orta, em Almada, é o primeiro hospital em Portugal a ter uma unidade de hospitalização domiciliária, um modelo usado em vários países e que traz vantagens como evitar infeções hospitalares multirresistentes ou reduzir os custos de internamento.
A diretora do Serviço de Medicina e responsável pela Unidade de Hospitalização Domiciliária do Garcia de Orta, Francisca Delerue, explicou à agência Lusa que os doentes têm de aceitar este tipo de solução — que geralmente recebem com agrado –, é forçoso que tenham um cuidador e determinadas condições na habitação.
“O doente tem de ter um diagnóstico, não pode ser um doente para avaliação”, explicou a médica, indicando que muitos dos casos em hospitalização domiciliária são pneumonias, infeções urinárias que requeriam antibiótico intravenoso ou insuficiências cardíacas.
No fundo, são doentes agudos que precisariam de ficar internados. Segundo Francisca Delerue são incluídos na hospitalização domiciliária os doentes mais leves entre aqueles que precisam de internamento.
Num ano de funcionamento, já passaram pela experiência de internamento no domicílio mais de 260 doentes, com uma média de internamento de oito dias, mais curta do que a média do internamento no hospital.
O custo médio por doente da hospitalização domiciliária é de entre 600 a 700 euros, bem abaixo do internamento convencional.
Segundo Mário Pinto, especialista em medicina geral e familiar e que está envolvido num projeto de internamento no domicílio, os custos em casa são pelo menos duas ou três vezes mais baixos do que no hospital.
Além disso, sublinha o especialista, deixa livres camas que podem ser dispensadas para situações com maior gravidade ou instabilidade clínica.
“É um serviço mais económico e mais fácil de gerir. E traz mais conforto ao doente e menos infeções hospitalares”, reforça Mário Pinto em declarações à Lusa.
Segundo o médico, há um novo projeto a ser desenvolvido para o Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, que abrange de Chaves a Lamego, e que tem a mesma base estratégica da unidade do Garcia de Orta.
No hospital de Almada, os potenciais candidatos a internamento na urgência são geralmente detetados nas urgências, que faz um pedido de avaliação à unidade de hospitalização domiciliária.
É feita uma avaliação inicial, onde uma assistente social que integra a equipa se assegura das condições que o doente tem em casa, além da presença indispensável de um cuidador.
A equipa do Garcia de Orta — composta por nove enfermeiros, quatro médicos, um farmacêutico, uma assistente social e uma dietista – tenta sempre que o doente faça os exames necessário no serviço de urgência, antes de ir para casa, onde é deixado um dossier com um guia explicativo e um contacto da equipa que funciona 24 horas.
No mesmo dia em que é decidido o internamento no domicílio, o doente recebe a visita do enfermeiro e, no dia seguinte, a visita do médico.
Segundo Francisca Delerue, dos mais de 260 doentes, apenas quatro tiveram de voltar ao hospital com agravamento da situação, o que é considerado “muito residual”.
Depois de ter alta, o processo do doente segue nos cuidados de saúde primários, sendo feita habitualmente uma ligação através do próprio hospital.
A aceitação por parte dos doentes do Garcia de Orta a este modelo tem sido “excelente”, refere a médica, que não tem dúvidas que no futuro abrirão mais unidades do género em hospitais portugueses, à semelhança do que acontece em países como Espanha, França ou Inglaterra.
O projeto para o Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro pode ser o próximo passo, mas ainda aguarda financiamento do Ministério da Saúde.
O projeto “O Hospital em Sua Casa” pretende ser implementado numa área geográfica de 34 concelhos, servindo uma população de 454 mil habitantes.