O Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), em Lisboa, lançou esta terça-feira uma nova petição, desta vez para comprar um pequeno retrato de D. Frei José Maria da Fonseca Évora, de autor desconhecido, no valor de dez mil euros. A campanha de angariação termina a 30 de maio.
O retrato, uma miniatura pintada sobre marfim, terá sido realizado provavelmente na década de 1730, quando José Maria da Fonseca residia em Roma, onde ocupou o cargo de embaixador de Portugal até 1740.
Esta iniciativa — “Todos Somos Mecenas” — acontece apenas seis meses depois de o MNAA ter adquirido A Adoração dos Magos, de Domingos Sequeira, graças a uma campanha inédita de angariação de fundos que envolveu 171 entidades e 15 mil particulares. Numa apresentação à comunicação social esta terça-feira, o diretor do museu, António Filipe Pimentel, salientou a importância de desenvolver projetos semelhantes no âmbito do panorama artístico português.
“Esta é uma situação congénere [à do Sequeira] mas com uma escala muito menor. Hoje, o Museu Nacional de Arte Antiga inicia uma campanha que tem como objetivo a angariação de dez mil euros para aquisição de uma miniatura que é importante pela sua escala e pela sua qualidade artística”, afirmou António Filipe Pimentel.
Além da obtenção de verbas, o diretor do MNAA frisou a vertente pedagógica da iniciativa, que contribui para a divulgação do património artístico nacional e também do acervo do Museu de Arte Antiga. “Depois de uma campanha da escala da que foi a do Sequeira, que se tornou num case study e que mostrou a capacidade de os cidadãos se envolverem”, é com naturalidade que o MNAA dá continuidade a um projeto que António Filipe Pimentel acredita poder estender-se a outras entidades.
Case o museu consiga reunir o montante necessário para a compra do retrato de José Maria da Fonseca, este irá juntar-se à restante coleção de miniaturas portuguesas que o museu tem em sua posse. As contribuições podem ser feitas diretamente no balcão do MNAA ou através de uma transferência bancária para o IBAN PT50.0036.0458.99106001472.91, do Grupo dos Amigos do museu.
José Maria da Fonseca, embaixador e patrono das artes
José Ribeiro da Fonseca Figueiredo nasceu em Évora, a 3 de dezembro de 1690. Frequentou a Universidade de Coimbra, onde estudou Direito Canónico, e integrou a embaixada do Marquês de Fontes a Roma, em 1712.
Foi aí, na cidade papal, que decidiu vestir o hábito franciscano e integrar o Convento de Santa Maria in Aracoeli, desempenhado a partir de 1723 vários cargos de relevo no âmbito da Ordem Franciscana.
Colecionador e mecenas, tornou-se um interlocutor privilegiado no processo de aquisição de obras de arte para a corte portuguesa (nomeadamente de um conjunto de esculturas para a Real Basílica de Mafra), assumindo funções como encarregado de negócios em Roma depois da interrupção das relações diplomáticas com a Santa Sé em 1728. Tornou-se embaixador de Portugal em Roma em 1930.
Além de ter desempenhado um importante papel diplomático junto da Santa Sé, José Maria da Fonseca foi também responsável em 1933 pela reabilitação da biblioteca do convento de Santa Maria in Aracoeli, conhecida por Biblioteca Eborense, onde gastou 17.900 escuros romanos (dos quais sete mil escudos tinham sido cedidos pelo Papa Clemente XII). É neste papel de homem de livros que surge representado no pequeno retrato, provavelmente encomendado para a sua coleção pessoal, que o MNAA pretende adquirir.
A imagem mostra D. Frei José Maria da Fonseca segurando um grosso volume. No fundo, é possível ver várias estantes com livros, numa representação da biblioteca de Santa Maria in Aracoeli, como acredita a historiadora de arte Teresa Leonor Vale, que esteve presente na apresentação desta terça-feira. A biblioteca foi, na altura, considerada a segunda mais importante em Roma a seguir à do Vaticano.
Depois de mais de 20 anos na cidade de Roma, José Maria da Fonseca foi nomeado bispo do Porto, em 1723, assumindo o cargo a 12 de março de 1741, depois de receber a confirmação papal. Ocupou-o até à data da sua morte, a 16 de junho de 1752.