A linha vermelha está com perturbações e o atraso é superior ao normal. O aviso é constante, desde a Quinta das Conchas até ao Marquês de Pombal e daí ao Colégio Militar/Luz. A linha vermelha está com perturbações. E a azul? Nem por isso, anda bem, mais que bem (4-0 do Porto ao Feirense). E a verde? Calma, famos fer.

É o primeiro dérbi de sempre na Luz em que os dois clubes vêm de derrotas europeias. O Benfica ainda avança para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões, o Sporting sai da UEFA com o 1-0 do Légia. Do frio de Varsóvia para o calor humano da Luz (63.212 espectadores, a maior enchente de sempre para o campeonato), Jesus sonha em manter a invencibilidade do dérbi na casa do Benfica, onde acumula oito vitórias e um empate entre campeonato, Taça de Portugal e Taça da Liga. O objectivo é claro, apoiado na estatística. Seja pré-histórica ou até a recente, com base no 3-0 de há um ano. Para tal, é fundamental o regresso de João Pereira mais o de Bryan. No outro lado, Rui Vitória promove a estreia de Rafa Silva a titular na Luz. No apito, Jorge Sousa. Bora lá.

Sai o Sporting. Em todos os sentidos. Sai o Sporting com o bola. E sai o Sporting para o ataque. O Benfica está só a ver, como quem não quer a coisa. Aos oito minutos, Adrien liberta a bola pela direita e Gelson dança à frente de André Almeida até ao remate frouxo para defesa de Ederson. No quadradinho seguinte, Bryan dá de calcanhar para João Pereira e o cruzamento apanha Bas Dost no ponto de penálti. Vale o corte in extremis dos centrais contrários. A reacção do Benfica só acontece aos 12′, por Rafa, numa bela jogada de contra-ataque de Salvio. Atento, Patrício defende pela primeira (e penúltima) vez. Penúltima? Yup.

O Sporting continua mais insistente. Aos 17′, Zeegelaar centra, Bryan cabeceia e obriga Ederson a defesa apertada junto à linha de golo. Aos 23′, é a vez de Bruno César importunar o guarda-redes. E, aos 24′, é Bas Dost a falhar um toque subtil como forma de encosto a um contra-ataque rapidíssimo pela esquerda. Do Benfica, nem uma linha. A linha vermelha está com perturbações, o atraso é superior ao normal. Quando o atraso é reposto, é golo. E que golo. Canto do Sporting, alívio de cabeça de Lindelof para o braço de Pizzi e contra-ataque de Gonçalo Guedes a libertar Rafa na esquerda. O cruzamento de trivela é primoroso, a entrada de rompante de Salvio idem idem. Zeegelaar chega atrasado e está feito o 1-0.

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Acusa o golo, o Sporting. Sobretudo Bruno César, amarelado por protestos pela tal bola na mão de Pizzi. E só acerta o passo à beira do intervalo com um lance de Gelson, bem resolvido por Ederson. No minuto seguinte, Bryan atrasa mal a bola para a área leonina e isola Raúl Jiménez. O mexicano domina, olha, atira e Patrício afasta para canto. É a segunda (e última) defesa. Última? Yup, última. A partir daqui e até aos 90’+4, zero intervenções, seja pelo ar ou no chão, excepção feita ao trabalho de ir procurar a bola do 2-0.

Dois-zero? Sim senhor, aos 47 minutos. Antes, Campbell (que substituíra Bruno César ao intervalo) recebe de Coates, vai à linha e atrasa para o remate de primeira de Bas Dost ao poste. Ao poste, insistimos. O Sporting tem o 1-1 na mão e deixa-o fugir no instante seguinte. Salvio congela a bola por uns segundos e desmarca Nélson Semedo, cujo cruzamento é aproveitado por Raúl Jiménez para um salto em antecipação ao estático João Pereira.

Dois-zero, insistimos. O Benfica descansa, o Sporting atira-se para a frente. Sem medo. Daqui em diante, só Sporting, Sporting e Sporting. Ou melhor, só Ederson, Ederson e Ederson. Que categoria, o guarda-redes. Aos 60 minutos, Ederson nega o 2-1 a William e, depois, a Bas Dost. Aos 65′, Zeegelaar faz um cruzamento venenoso e Ederson dá uma palmada para fora da área. O golo aproxima-se a uma velocidade vertiginosa e chega com naturalidade, por Bas Dost, de cabeça, na sequência de um cruzamento perfeito de Campbell pela esquerda. A euforia leonina é imensa, tal como a crença. Falta o Benfica dizer uma palavra ou outra. Mas não, é Gelson quem decide arrancar uma e duas vezes pela direita para animar a noite. Em resposta, Rafa faz uma maldade a Coates e outra menos impediosa a Rúben antes de se desequilibrar com a saída arrojada de Patrício.

Olha olha, quem é ele, o Patrício. Pois é, aparece aqui o elemento menos activo de um dérbi estimulante, em que o Sporting domina em tudo (58% posse de bola, 8-3 em cantos, 26-10 em faltas, 6-4 em remates à baliza, 12-5 em oportunidades criadas). A linha vermelha está com perturbações e o atraso é superior ao normal? Errrr, nem por isso – o Benfica mantém a liderança à 13.ª jornada, agora com quatro pontos de avanço sobre o Porto e cinco sobre o Sporting.

Estádio da Luz, em Lisboa
Árbitro: Jorge Sousa (Porto)
BENFICA: Ederson; Semedo, Luisão, Lindelof e André Almeida; Salvio (Danilo, 55′), Pizzi, Fejsa e Rafa (Samaris, 90’+1); Guedes (Cervi, 64′) e Jiménez
Treinador: Rui Vitória (português)
SPORTING: Rui Patrício; João Pereira, Coates, Rúben Semedo e Zeegelaar; Gelson, William, Adrien e Bruno César (Campbell, 46′); Bryan (Alan, 60′) e Bas Dost (André, 84′)
Treinador: Jorge Jesus (português)
Marcadores: 1-0, Salvio (25′); 2-0, Raúl Jiménez (47′); 2-1, Bas Dost (70′)