Falta, em Portugal, um verdadeiro movimento de preservação, não só da Natureza, como da relação entre a  Natureza e o Homem, e as infinitas possibilidades que a mesma nos dá, já nos dizia Thoreau. Falta o  ambientalismo de bases, aquele que surge de inspiração filosófico-intelectual, mas cuja concentração prática  é capaz de impactar diretamente a vida diária das pessoas, sob representação de uma solução política  afirmativa e positiva.

Precisamos de algo novo. Já não precisamos, nem dos antigos, nebulosos e adormecidos que o tempo se  encarregou de liquidar, nem da moderna contrafação do espírito verde. Passou o tempo da apendicite  comunista ou do descaracterizado Partido da Terra; e é preciso que passe, também, o da renovada onda de  “urbano-depressivos”, onde a ruralidade, autenticidade, profundidade e seriedade nunca fizeram parte do  propósito da sua criação.

Nem das pequenas e esquecíveis páginas dos programas eleitorais das grandes casas partidárias precisamos,  de tão insípida e descomposta que é tipificada a sua génesis, sendo insuficiente para resolver, quer a  imensidão dos problemas ecológicos e ambientais que assolam o país, quer a dinamização das capacidades  reais de toda a relação natural anteriormente descrita.

O que têm estes partidos para nos dizer, realmente, sobre o abate de centenas de milhares de árvores para a  construção de centrais fotovoltaicas? Sobre o terror das chamas que devastam, anualmente, todo e o mais  precioso património que este país teve a sorte de rifar? Sobre o desperdício alimentar e o desperdício de água  que lesam a condição do tecido social, económico e demográfico? Que soluções estruturais têm estes  partidos, e não as individuais figuras partidárias, para nos apresentar?

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Precisamos, para o sustentado desenvolvimento do país, de um movimento ambientalista que lute  verdadeiramente contra a expressiva descaracterização, destrato e desequilíbrio da “paisagem humanizada”,  que tal como Gonçalo Ribeiro Telles descreveu, deveria primar pelos interesses do Homem e da Natureza,  tendo o Homem como senhor, tendo a possibilidade de a alterar e até destruir, e escravo, porque caso não  utilize a Natureza em benefício da Humanidade, será por ela amordaçado.

Precisamos de nos inspirar, não nos esquizofrénicos esperneios de imaturidade e ignorância de Gretas ou  Climáximos, mas na valiosa, iluminada e educada obra que figuras como a de Ribeiro Telles nos deixaram.  Deve ser esse o guia para estruturar as reformas necessárias, porque ao contrário de quem se viu nascer a  atirar tinta a primeiros-ministros, há quem tenha morrido com a sua obra a perdurar pelo “teste do tempo”.

Precisamos de dar prioridade, não ao testemunho daqueles que encantam pela sua “ansiedade climática”,  como se o nosso país à beira-mar plantado fosse capaz de solucionar, no enquadramento internacional, um  apocalíptico cenário de destruição mundial; mas aos outros que, tal como eu, vivem no campo e têm  ansiedade do início de Verão, que por sinal introduz a época dos tenebrosos incêndios. Essa é a ansiedade  real de muitos portugueses. Uma ansiedade que vem de dentro, e não de fora.

Precisamos de ouvir as fundações, sociedades e movimentos ecológicos e ambientais, sem cair na esparrela  da tradicional tecnocracia portuguesa. De dar ao agricola laboriosus a oportunidade de traçar o seu próprio  destino, em prol do casamento que fez com o meio ambiente, em vez de o obrigar a diretivas urbanas que  nunca chegaram a pisar o interior português.

Entre aquilo que precisamos e aquilo que teremos, certamente se distinguirá a natural discrepância entre o  Sonho e a Obra do Homem. Mas é urgente que pensemos, fundamentalmente, na existência de um novo  movimento inter-geracional que possa ligar os desafios do mundo moderno, com a preservação, conservação  e devida correção das características atuais que marcam a relação natural entre a Natureza e o Homem.

Em toda a ação, prevalece a reflexão. E nunca o seu contrário.