O que durante anos soou a uma história nos limites da ficção científica é hoje cada vez mais uma possibilidade. A ida do Homem até Marte está na ordem do dia, em especial pelo envolvimento do multimilionário e filantropo Elon Musk e da sua SpaceX, que propõe uma missão ao planeta vermelho já na próxima década.

Tendo como base esta ideia, o realizador Ron Howard e Brian Grazer juntaram-se para produzir a série Mars, exibida pelo canal National Geographic (também em Portugal) e que tenta mostrar de forma ficcionada como se projeta a nossa primeira viagem até Marte em 2033, num misto de documentário e de space opera.

Aproveitando a estreia da série de Howard no Nat Geo Channel no mês passado em Portugal, a Majora lançou uma espécie de companion/sequela da série em formato jogo de tabuleiro, justamente intitulado Missão a Marte 2049, cujo “enredo” decorre quinze anos após a chegada dos primeiros colonos ao planeta vermelho. A necessidade de estabelecer colónias sustentáveis esbarra no maior desafio para as colónias humanas em Marte: encontrar água. Sabendo que existe uma considerável camada de gelo no Polo Norte daquele planeta, é aí que todos os colonos apontam baterias numa corrida pela “conquista” do recurso mais importante à vida (tal como a conhecemos).

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É este o conceito-base do jogo de tabuleiro desenvolvido pelo game designer letão Dagnis Skurbe e publicado pela portuguesa Majora. Missão a Marte 2049 é sobretudo uma tremenda adição ao conhecido catálogo da rejuvenescida editora portuguesa, e uma boa forma de mostrar as suas pretensões e definições para o mercado dos jogos de tabuleiro portugueses.

Como é bem sabido por todos (os “mais velhos”, pelo menos), o catálogo da Majora é constituído em grande parte por jogos cujo teor familiar, simples e acessível, os tornam propícios a um ambiente descontraído e casual. Sendo destinado a jogadores a partir dos 9 anos, é fácil assumir a priori que Missão a Marte 2049 se enquadra apenas dentro do espectro familiar de jogos divertidos, mas muitas vezes circunscritos a um público unicamente infantil ou juvenil.

Missão a Marte 2049 é um jogo de tabuleiro perfeitamente compreensível para todos. A barreira da língua é quase mínima (dependendo apenas da utilização das cartas de Missão) e no qual a simplicidade gráfica e a iconografia são auto-explicatórias. E que contém diversidade mecânica suficiente para que diferentes públicos consigam jogá-los com maior ou menor nível de dificuldade e utilização das regras disponíveis.

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É uma tremenda dificuldade conseguir desenhar um jogo de tabuleiro que seja simples ao ponto de ser acessível a todos, mas que simultaneamente consiga manter um patamar de desafio suficientemente elevado para que jogadores mais exigentes e experimentados se sintam ligados o suficiente para não desistir. Depois de muitas noites a jogar Missão a Marte 2049, a conclusão a que conseguimos chegar é que esse difícil equilíbrio foi amplamente alcançado, já que vemos jogadores de board games com exigências de desafio e tática a conseguirem embrenhar-se pela estratégia necessária para conseguir chegar ao Polo Norte antes dos seus adversários.

Como um dos primeiros jogos de relançamento da Majora, Missão a Marte 2049 deixa antever a vontade da empresa em apostar em desafios que consigam ultrapassar os limites do ambiente familiar e casual. Conseguir trazer para o mercado português jogos com um design tipicamente europeu, onde a estratégia e a gestão são a tónica dominante, é algo que vem enriquecer não só o catálogo da editora mas também o nível de desafio dos futuros boardgamers. E, como referimos, conseguir equilibrar um jogo de entrada, aprendizagem e mecânicas simples com uma complexidade ajustável a cada faixa etária torna-o um dos produtos do género com maior alcance no mercado nacional atual.

Ricardo Correia, Rubber Chicken