Os melhores

“Pierre Boutang”, Stéphane Giocanti (Flammarion)

Já o sugerimos no Verão. Trata-se de uma biografia exaustiva do sucessor de Maurras na chefia da Action Française. Vale por um lado pela pertinência do tema – afinal, Pierre Boutang encabeçou o movimento mais importante da direita francesa do século XX – e por outro pelo rigor com que Giocanti (mais uma vez) estuda o seu biografado.

“Afonso de Albuquerque – Corte, Cruzada e Império”, Alexandra Pelúcia (Temas e Debates)

Não estará, provavelmente, à altura do visado; mas também, à altura do Grande Afonso, quem estaria? Alexandra Pelúcia estudou as ligações familiares de Afonso de Albuquerque, narrou as suas principais conquistas e deu ideia do papel do César do Oriente na construção do Império Português. Há anos que não se publicava um trabalho de fôlego sobre esta figura central da História da Expansão. Espera-se – embora sentado – que seja o mote para mais uns quantos.

“Todos os Contos”, Clarice Lispector (Relógio d’Água)

Não é propriamente uma novidade de 2016 – Clarice Lispector já os escreveu há um certo tempo – mas o trabalho editorial de reunir, pela primeira vez na nossa língua, todos os contos da autora brasileira merece ser louvado. Há na autora uma certa candura trágica, um sopro depressivo num mundo leve que faz dela uma das grandes escritoras do século XX. Esta edição, mais do que confirmar o que já não precisa de confirmação, faz justiça a quem a muito a aguardava.

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“La cheffe, roman d’une cuisiniêre”, Marie Ndiaye (Gallimard)

No romance, 2016 foi, por todo o mundo, o ano de Ferrante. Mais do que repisar um fenómeno já mais do que falado, interessa-nos resgatar um livro muito curioso, sobre uma chefe de cozinha. Marie NDiaye inspira-se nas mères lyonnaises para criar um romance que trata a cozinha como arte e a língua – quer pelo tema, quer pelo estilo – com ela.

“Deus-dará”, Alexandra Lucas Coelho (Tinta-da-china)

Quanto ao romance português, Deus-dará, de Alexandra Lucas Coelho pareceu-nos a tentativa mais séria e estruturada de criar um grande romance. Procura o exótico, aquilo que é próprio do Brasil, faz etnografia de povos e classes nas suas mais diversas manifestações e romanceia com qualidade. Em relação aos outros romances da autora, julgamos ter dado com este livro um salto para outro patamar. Em relação aos seus contemporâneos, parece-nos mostrar, não tanto mais talento do que alguns, mas mais exigência e rigor com o seu trabalho.

O pior

Parece-nos injusto seleccionar um. Basta rebobinar o ano com atenção às críticas negativas para perceber uma tendência: embora haja, em todos os assuntos, bons e maus livros, o romance português contemporâneo talvez seja o que mais sofre com a falta de aproveitamento da língua, os temas pobres e a filosofia instantânea. Mais do que talento, falta provavelmente algum sentido crítico para perceber que nem tudo o que é experimental é útil, nem tudo o que é poético é boa poesia e que nem tudo o que faz estilo o tem.

[as escolhas de Carlos Maria Bobone:]

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Carlos Maria Bobone é licenciado em Filosofia. Colabora no site Velho Critério.