Os melhores

“Poesia I”, Ruy Cinatti (Assírio & Alvim)

O primeiríssimo livro do ano, sem mais: três décadas após a sua morte, Ruy Cinatti volta com um primeiro volume da sua Poesia dedicado aos poemas publicados em vida, numa edição cuidadosamente fixada por Luís Manuel Gaspar e apresentada por Joana Matos Frias, a mais jovem e competente estudiosa da sua obra, abrindo-a a leituras contemporâneas. Um arrojo da Assírio & Alvim, que também merece elogios.

“Deus-Dará”, Alexandra Lucas Coelho (Tinta-da-China)

Audacioso e ambicioso romance dedicado ao Rio de Janeiro e à sua gente, por quem lá viveu durante quatro anos, num ambiente de crise aberta. Gírias cariocas, coloquialidade e modos de dizer são transpostos com tal supremacia, que a autoria parece brasileira. Actualidade política e herança colonial são dados lançados neste tributo a uma cidade especial, paixão da autora e de muitos de nós. Vai certamente marcar um antes e um depois, na literatura portuguesa dedicada ao Brasil.

“Algarve Building. Modernism, Regionalism and Architecture in the South of Portugal, 1925-1965”, Ricardo Agarez (Routledge)

Distinguido com o prémio de investigação do Royal Institute of British Architects (a associação profissional de arquitectos do Reino Unido), e publicado em Londres pela prestigiada editora Routledge, este livro é uma prova provada da excelência precoce de alguns portugueses (Agarez tem 41 anos) reconhecida na cena internacional. O Algarve a ganhar destaque na arquitectura portuguesa.

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“FBA. O design gráfico como prática de clarificação”, João Bicker (Almedina)

É a primeira vez que entre nós um designer escreve tão longamente sobre o trabalho do seu próprio ateliê: um ateliê na terceira urbe do país que, numa década e pouco, serviu o melhor que há em Coimbra, chegou ao principal museu nacional e recebeu galardões internacionais. A melhor prova de que o design português está vivo e pensa. O próprio livro, desenhado por Bicker, é uma demonstração conceptual.

“David Hockney: A Bigger Book”, David Hockney (Taschen)

Pelo formato (50 x 70 cm) e peso (35 kg!), pelo lugar e circunstância em que foi lançado (a inauguração da feira de Frankfurt), mas sobretudo pela importância e vitalidade do artista britânico, este álbum é totalmente histórico e único. Aos 79 anos Hockney mostra estar vivo e muito vivo, aproveitando as ferramentas de hoje para continuar a sua inconfundível inquirição estética. Simplesmente admirável.

O pior

“Anedotas do Nemésio”, Arnaldo Saraiva (Exclamação)

Escrevi (aqui e aqui) sobre este livro péssimo, e reli-o agora, para não ter dúvidas de que é uma mancha negra na literatura e cultura portuguesa. Como foi possível alguém dedicar o seu tempo a relembrar Vitorino Nemésio como anedotário é um pequeno mistério, apenas sondável nos escuros interstícios da mente humana. Mas existe, aí está, foi feito e merece ser repudiado. Não fica para a história da literatura, fica para a pequena história da ignomínia!

[as escolhas de Vasco Rosa:]

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