Um grupo de 18 investigadores, agentes dos serviços secretos e diplomatas russos seguiu esta terça-feira para a Turquia, para apoiar a investigação do homicídio do embaixador russo em Ancara, Andreï Karlov, anunciou o Kremlin, citado pelas agências russas. “O grupo vai operar na Turquia no quadro do inquérito sobre a morte do embaixador da Rússia Andreï Karlov, conforme acordado pelos Presidentes russo e turco durante a sua conversa telefónica” na noite de segunda-feira, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

O embaixador Andreï Karlov, de 62 anos, estava a fazer um discurso durante a inauguração de uma exposição quando foi baleado por Mevlüt Mert Altıntaş, um agente do corpo de intervenção da polícia da capital da Turquia, Ancara. O homem tinha 22 anos, e trabalhava nas forças anti-motim de Ancara há dois anos e meio. O homicídio do embaixador russo terá sido uma “vingança” pela intervenção russa na cidade síria de Alepo, a favor do regime de Bashar al-Assad.

No momento em que disparou sobre o diplomata, Altıntaş gritou “Nós morremos em Alepo, vocês morrem aqui”, e “Alla u akbar [Deus é grande]”. “Só a morte me poderá tirar daqui”, disse o atirador, que pouco depois viria a ser abatido pelas forças turcas. “Enquanto os nossos estados não forem seguros, vocês também não se vão sentir seguros. Quem tiver responsabilidade na brutalidade na Síria irá lidar com as consequências”, acrescentou o radical, em turco logo após o crime. “Lembrem-se de Alepo!”

Polícia turca deteve seis pessoas e impõe censura

As autoridades turcas detiveram seis pessoas na sequência da investigação, de acordo com a estação de televisão turca NTV. Entre os detidos encontram-se o pai, a mãe e a irmã do alegado assassino, Mevlüt Mert Altintas, que foram presos durante a noite em Soka, cidade natal do atacante, situada no oeste da Turquia. O jornal da oposição Hürriyet informou que uma das pessoas detidas é o companheiro de casa do alegado autor do crime.

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Segundo a imprensa local, a polícia está a investigar a ligação entre o assassino e a organização do clérigo muçulmano Fethullah Gülen, autoexilado nos Estados Unidos desde 1999 e que se converteu num crítico aberto do Presidente, e que Ancara acusa de estar por detrás do fracassado golpe do passado 15 de julho. Estes meios de comunicação referem que a escola de polícia em que Mevlüt Mert Altintas se formou tem ligações ao Fethullah Gülen.

As autoridades turcas impuseram esta terça-feira um blackout temporário sobre a cobertura do tiroteio do embaixador russo na Turquia, segundo a AssociatedPress (AP). A ordem que impede a cobertura dos factos proíbe temporariamente as reportagens, imagens e comentários que não sejam feitos pelas autoridades oficiais, adianta a AP. Isto afeta toda a cobertura jornalística distribuída dentro de Turquia e órgãos de comunicação social são aconselhados a procurar assessoria legal se pretenderem transmitir notícias para o próprio país.

Fethullah Gulen: “Condeno de forma vigorosa este ato de odiável terror”

Fethullah Gulen, líder religioso turco exilado nos Estados Unidos, mostrou-se esta terça-feira “profundamente chocado e entristecido” pelo assassinato do embaixador russo na capital da Turquia. O presidente da Câmara de Ancara, Melih Gokçek, sugeriu na rede social Twitter a possibilidade de o ataque ter ligações a Fethullah Gulen, acusado pelas autoridades turcas de envolvimento na tentativa de golpe de Estado na Turquia no passado mês de julho.

“Condeno de forma vigorosa este ato de odiável terror”, disse Fethullah Gulen num comunicado difundido após a morte do diplomata russo, Andrei Karlov, por um polícia que afirmou tratar-se de uma retaliação pelo drama da cidade síria de Alepo. Moscovo é um aliado do regime de Damasco e as forças da Rússia estão envolvidas na campanha militar em Alepo. “Nenhum ato terrorista pode ser justificado, seja quem for o autor e as suas motivações”, acrescenta o líder religioso turco, antigo aliado do presidente turco e atualmente principal elemento da oposição a Erdogan.

“O povo turco e o mundo esperam a realização de um inquérito, por parte do governo, sobre as circunstâncias deste acontecimento para que sejam identificados os ajudantes do autor e para que sejam tomadas medidas. Para que o mesmo não volte a acontecer”, diz ainda Fethullah Gulen. Exilado nos Estados Unidos desde o final dos anos 1990, Gulen tem desmentido as acusações de envolvimento na intentona militar de julho, que já levou à prisão de 37 mil pessoas, sendo que 100 mil foram suspensas dos cargos que ocupavam na administração do Estado.