Uma peça “surpreendente”, ainda que sem “grande intriga dramática”, é como o encenador Jorge Silva Melo classifica “A noite da iguana”, de Tennessee Williams, que é estreada, esta quarta-feira, no Teatro Municipal S. Luiz, em Lisboa. “A peça é surpreendente, mas foi muito difícil fixar este texto, já que há imensas versões do autor”, disse Jorge Silva Melo à agência Lusa, acrescentando ser impressionante como um dramaturgo tão conceituado “era, afinal, tão inseguro”.

Nesta peça, cuja ação Jorge Silva Melo situou nos anos 1940, tal como no texto, logo após a queda de Paris e os bombardeamentos de Londres, na II Guerra Mundial, o encenador confrontou-se com o verdadeiro Tennessee Williams. “Porque o Tennessee das peças não é o que conhecemos dos filmes. Os filmes são versões das peças e o dramaturgo não se conhece pelos filmes”, afirmou.

Sem centrar a ação nas pulsões sexuais do ex-pastor Lawrence Shannon (interpretado por Nuno Lopes), como o fizera John Houston no filme homónimo de 1964, Jorge Silva Melo acabou por centrar a trama no “contraditório do ser humano”, a que não será alheia a “ascensão da besta [o nazismo] na Europa de então”, disse o encenador à Lusa.

“A noite da iguana” é a peça com que os Artistas Unidos, aqui em coprodução com o S. Luiz e o Teatro Nacional S. João, fecham o ciclo Tennessee Williams, depois de terem levado à cena “Doce pássaro da juventude” e “Jardim zoológico de vidro”.

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“Voltar a autores que nos fizeram felizes, até porque um autor não se esgota num texto”, explica o encenador, sublinhando que este texto do dramaturgo norte-americano tem uma estrutura um pouco diferente das outras peças do autor.

Com tradução de Dulce Fernandes, “A noite da iguana” tem interpretação de Isabel Muñoz Cardoso (Judith Fellowes), Pedro Carraca (Hank Prosner), Tiago Matias (Jake Latta), João Meireles (Herr Fahrenkopf), Vânia Rodrigues (Frau Fahrenkopf), Pedro Gabriel Marques (Pancho), Catarina Wallenstein (Charlotte Goodall), Américo Silva (Nonno), João Delgado (Pedro), Bruno Xavier (Wolfgang) e Ana Amaral (Hilda).

A cenografia e o figurino são de Rita Lopes Alves, a luz de Pedro Domingos, o som de André Pires e a coordenação técnica de João Chicó. Tem produção de João Meireles e Nuno Gonçalo Rodrigues e Bernardo Alves, como assistentes de encenação.

No S. Luiz, em Lisboa, a peça pode ser vista até 5 de fevereiro, de quarta-feira a sábado, às 21h, e aos domingos, às 17h30. “A noite da iguana” vai estar igualmente em cena no Teatro Nacional S. João, no Porto, de 9 a 26 de fevereiro. O ministro da Cultura, Luís Filipe de Castro Mendes, assiste à estreia.