O economista Vítor Bento diz que, sem as compras extraordinárias de dívida do BCE, “provavelmente” estaríamos como em 2011, à beira do resgate. E critica a “falta de convicção em pôr as contas públicas em ordem”. “As coisas vão sendo feitas um pouco circunstancialmente, com a pressão de Bruxelas, mas não há a convicção de que temos de reformar o Estado e de que temos de tornar o Estado sustentável”, afirma o antigo conselheiro de Cavaco Silva, defendendo que, dadas as incertezas que aí vêm e a relação entre os partidos que suportam a maioria, “para o PS, este é momento ideal para eleições”.
Em entrevista ao Público, Bento diz que a maioria tem funcionado porque, até agora, a política tem sido “pelo lado fácil. Foi distribuir”. “Uma das contrapartidas” dessa política “de distribuir”, diz Vítor Bento, “e a mais improvável de todas, foi o investimento público”.
“É das coisas mais estranhas ver o Governo mais à esquerda que tivemos ser aquele que mais sacrificou o investimento público. Outra contrapartida foi o aumento de impostos, nomeadamente os indiretos. Por último, houve alguma ginástica orçamental — que todos os governos fazem — que permitiu superar 2016, mas vai tornar mais difícil 2017”, avisa o economista.
Depois da polémica da Taxa Social Única, ficou claro, na opinião de Vítor Bento, que quando se fala nos apoios ao governo socialista por parte dos partidos mais pequenos, este “cenário de instabilidade dificilmente poderá perdurar” porque “implicará um desgaste para o próprio Governo”.
Desse ponto de vista, o Governo, e em particular o PS, pode querer clarificar a situação. Aliás, começou a haver observações sobre a apresentação de uma moção de confiança que, no fundo, obriga cada um a definir-se. Também entendo que para o PS, provavelmente, este seria o momento ideal para ter eleições. Começa a aproximar-se da maioria absoluta, não creio que a atinja, mas a possibilidade de se tornar o principal partido no Parlamento muda a relação de forças que hoje existe e diminui a sua dependência da componente mais à esquerda.