Donald Trump recebeu esta sexta-feira na Casa Branca a primeira-ministra britânica Theresa May, a primeira governante a visitar o presidente dos Estados Unidos da América desde a tomada de posse há uma semana. Numa conferência de imprensa conjunta, Trump salientou importância da ligação entre os dois países e afirmou que “um Reino Unido livre e independente é uma bênção para o mundo”.

“É uma honra receber a primeira-ministra Theresa May na primeira visita oficial de um líder estrangeiro”, começou por dizer o presidente norte-americano, aproveitando a oportunidade para contar que a sua mãe nasceu na Escócia, arrancando risos à audiência. Frisando a “relação especial” que existe entre os dois países, que considerou “uma das mais fortes da história, na procura pela justiça e pela paz”, Trump garantiu que, “hoje, os Estados Unidos da América renova um laço profundo com o Reino Unido”.

“Hoje, os Estados Unidos da América renova um laço profundo com o Reino Unido — militar, financeiro, cultural e político. Renovamos o nosso apoio a esta relação especial. Os Estados Unidos da América respeitam a soberania do Reino Unido e do seu direito à auto-determinação.”

Afirmando que “um Reino Unido livre e independente é uma bênção para o mundo”, Trump garantiu que a relação entre os dois países “nunca foi tão forte”. “Tanto a América como o Reino Unido entendem que os governos devem ser responsáveis pelos trabalhadores e que os governos devem representar os seus próprios cidadãos.”

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Dirigindo-se diretamente a May, Trump disse que “estamos ansiosos por trabalhar consigo, fortalecendo os nossos lanços e os nossos interesses comerciais”. “Esperam-nos dias gloriosos, para os nossos povos e para os dois países. Em nome da nossa nação, agradeço por nos ter juntado a nós hoje.”

Theresa May, agradecendo o convite endereçado pelo presidente norte-americano, salientou a importância da relação entre os dois países e referiu alguns dos temas que os dois governantes discutiram durante a reunião, como o terrorismo. Sobre o Estado Islâmico, a primeira-ministra britânica disse que os Estados Unidos apoiam a NATO e que tentará encorajar os outros líderes europeus a contribuírem mais para a defesa.

Putin? “Não conheço esse senhor”

Já na fase das perguntas, a primeira-ministra britânica voltou a afirmar que as sanções contra a Rússia devem continuar até o acordo de Minsk “estar completo”. Sobre as relações com o governo russo e Putin, Donald Trump admitiu que não conhece “o senhor” e que, por isso, não diz se gosta dele ou se lhe é indiferente.

“Espero que tenhamos uma relação fantástica”, disse. “Isso é possível, mas também é possível que não aconteça. Se tivermos uma boa relação com a Rússia e formos atrás do ISIS em conjunto, um mal que tem de ser travado, isso será uma coisa boa. Se a relação vai funcionar? Não sei.” Trump disse ainda que “ainda é muito cedo” para falar em levantar as sanções.

O presidente norte-americano foi também questionado sobre a sua opinião em relação ao uso de tortura, depois de numa entrevista na passada quarta-feira ter considerado que as técnicas de interrogatório utilizadas no passado na luta contra o terrorismo, e consideradas como atos de tortura, “funcionam”. Sobre essa questão, Donald Trump disse que o assunto está nas mãos do novo secretário da Defesa, James Matti, em quem afirmou confiar plenamente.

“Ele [James Matti] disse publicamente que não era especialmente a favor da tortura ou da simulação de afogamento. Não concordo necessariamente com isso, mas queria dizer que ele terá a última palavra porque lhe concedi esse poder.”

“Eu e o presidente mexicano temos uma boa relação”

Uma das muitas perguntas dos jornalistas disse respeito à conversa telefónica que Trump teve esta manhã com Enrique Peña Nieto, presidente do México. Afirmando que a primeira-ministra britânica tem mais do que se preocupar, o presidente norte-americano afirmou que teve uma “boa conversa” com Peña Nieto, com quem tem “uma boa relação”.

“Tenho sido muito duro no que diz respeito ao México. Tenho respeito pelo México, adoro os mexicanos, trabalho com eles constantemente”, começou por dizer, acrescentando de seguida que o país vizinho provocou graves prejuízos aos Estados Unidos e que fez os norte-americanos passarem por “parvos”. “As fronteiras estão enfraquecidas e as drogas estão a entrar. Não vou deixar que isso aconteça.”

Trump, que estive ao telefone com o seu homólogo mexicano durante uma hora, disse que os dois países vão trabalhar no sentido de criar uma “relação nova e mais justa”. “Os Estados Unidos não podem continuar a perder números elevados de empresas e de empregos. Isso não vai acontecer comigo. Vamos deixar de ser o país que não sabe o que está a fazer. Vamos renegociar vários aspetos da nossa relação e penso que vai ser bom para os dois países.”

May, por sua vez, afirmou que a relação entre “o México e os Estados Unidos só diz respeito ao México e aos Estados Unidos”.

WASHINGTON, DC - JANUARY 27: British Prime Minister Theresa May speaks during a joint press conference with U.S. President Donald Trump in The East Room at The White House on January 27, 2017 in Washington, DC. British Prime Minister Theresa May is on a two-day visit to the United States and will be the first world leader to meet with President Donald Trump.  (Photo by Christopher Furlong/Getty Images)

(Christopher Furlong/Getty Images)

“Acho que o Brexit vai ser uma coisa maravilhosa para o vosso país”

Sobre o Brexit, Trump lembrou que estava na Escócia quando afirmou que o Reino Unido iria sair da União Europeia. “E fui gozado pela imprensa por isso”, lembrou, acrescentando que “acho que o Brexit vai ser uma coisa maravilhoso para o vosso país”. “Vão ter a vossa própria identidade e as pessoas que querem no vosso país, e vão poder fazer acordos de comércio livre sem terem alguém a olhar para vocês e a verem o que estão a fazer.”

May chegou à Casa Branca por volta das 17h e foi recebida à entrada por Trump. Perante os jornalistas, apertaram as mãos em frente ao busto do primeiro-ministro britânico Winston Churchill, que voltou a ser colocado na Sala Oval (depois de ter sido retirado por Barack Obama) como símbolo dos laços que ligam o Reino Unido e os Estados Unidos da América.

De pé ao lado de May, Trump apontou que o busto era “o original”. “É uma honra termos Winston Churchill de volta”, disse. “Muito obrigada, estamos muito contentes que o tenham aceitado de volta”, respondeu a primeira-ministra britânica, citada pela BBC.

Os dois governantes estiveram à conversa durante cerca de uma hora. May garantiu que as conversações continuarão durante o resto do dia e que voltarão a ser discutidos temas como a Rússia e a Síria. A primeira-ministra britânica anunciou ainda que Trump irá visitar Inglaterra este ano e que será recebido por Isabel II.

Donald Trump tem elogiado a decisão do povo britânico de levar a referendo a saída da União Europeia e a rapidez com que o governo de Theresa tem tentado encerrar o processo. A primeira-ministra britânica, por seu turno, acredita que a eleição de Trump ajudará a fortalecer os laços entre o Reino Unido e os Estados Unidos.

Durante esta semana, o porta-voz do Governo britânico tinha dado a entender a conversa entre os dois governantes deveria centrar-se em questões comerciais. No topo da agenda política está um acordo de comércio livre entre os dois países depois do Brexit. De acordo com o porta-voz, no encontro serviria também para discutir questões de segurança, bem como vários “problemas urgentes da agenda internacional”, nomeadamente a questão síria e a ameaça terrorista.