A cobertura completa dos Óscares 2017:

Nunca se tinha visto nada assim em 88 anos de Óscares. No momento de anunciar o vencedor da estatueta mais desejada da cerimónia, na madrugada de domingo para segunda-feira, o ator Warren Beatty abriu o envelope, fez uma pausa e anunciou “La La Land”. A orquestra tocou uma das canções do musical, ouviram-se palmas, toda a equipa subiu ao palco e foram feitos os discursos de agradecimento. Até que um dos produtores do musical, Steve Harvey, fez um ar mais sério e disse: “O vencedor é ‘Moonlight’. Não estou a brincar, o Óscar é vosso”. Olhares estranhos em palco, silêncio, alguns risos. Não era mesmo uma partida. O filme sobre as diferentes fases do personagem afro-americano Chiron era o verdadeiro vencedor do Óscar de Melhor Filme (veja todos os vencedores na fotogaleria acima).

“Eu sabia que ia estragar tudo”, brincou Jimmy Kimmel. Mas não é verdade. O apresentador está inocente. Warren Beatty regressou ao microfone para explicar como foi possível cometer a maior bronca que alguém podia cometer numa cerimónia transmitida para mais de 200 países. “Não estava a tentar ser engraçado”, disse, depois de explicar que, quando abriu o envelope com o vencedor, vinha escrito “Emma Stone”. “Por isso é que fiz uma pausa”, justificou. Na dúvida sobre se seria um engano — Emma Stone tinha acabado de receber o Óscar de Melhor Atriz –, o ator optou por anunciar o nome do filme, em vez de confirmar se aquele seria mesmo o envelope correto.

Se a cerimónia estava a ser uns graus acima de morna, não podia ter acabado de forma mais emocionante. Ainda que não seja no sentido positivo. Desde então, nas redes sociais tenta descobrir-se um culpado. Certo é que a culpa não é de Leonardo DiCaprio, já que o cartão que o ator leu antes de entregar o Óscar a Emma Stone não saiu mais da mão da atriz, como a própria disse aos jornalistas após a cerimónia. Por enquanto, ainda não há uma explicação definitiva.

A vitória de “Moonlight” na categoria mais importante só confirmou que a frase “Oscars so White”, tão usada no ano passado para criticar o excesso de nomeações e distinções de profissionais brancos, foi escutada. O primeiro Óscar da noite foi para o afro-americano Mahershala Ali, pelo papel como ator secundário em “Moonlight”.

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Na categoria de Melhor Atriz Secundária, ao contrário do ano anterior, os rostos não eram só brancos, graças a Viola Davis, Naomie Harris e Octavia Spencer. Como esperado, e com direito a ovação, Viola Davis foi a vencedora, pela interpretação em “Fences”. A norte-americana, que é atriz negra mais nomeada da história dos Óscares, com três nomeações, fez um discurso muito emotivo e cheio de lágrimas.

Com a vitória de Barry Jenkins (“Moonlight”) na categoria de Melhor Argumento Adaptado voltou a fazer-se história, já que, pela primeira vez em 89 edições, três negros venceram os prémios mais desejados do cinema.

No início do evento achava-se, contudo, que a noite seria histórica por outras razões. “La La Land” estava na corrida para 14 Óscares e podia tornar-se no maior vencedor de sempre, se ultrapassasse as 11 estatuetas de “Titanic”, “Ben-Hur” e “O Senhor dos Anéis – O Regresso do Rei”. Na sua primeira hipótese “La La Land” perdeu para Harry Potter, com “Monstros Fantásticos e Onde Encontrá-los”a levar a estatueta para Melhor Guarda-Roupa.

Perdidas mais duas categoria técnicas, cedo se percebeu que o musical do momento não ia bater recordes. Kenneth Lonergan subiu ao palco para receber o importante Óscar de Melhor Argumento Original pelo drama “Manchester by the Sea“. E “La La Land” perdia mais um. No final, ganhou seis, incluindo o de Melhor Atriz para Emma Stone.

Entre Donald Trump e Matt Damon, não se sabe quem sofreu mais

O monólogo inicial de Jimmy Kimmel teve as já esperadas críticas a Donald Trump. Nada de novo. Mas Jimmy Kimmel não resistiu em levar para o palco da cerimónia dos Óscares a contenda pública que mantém com o ator Matt Damon. “Quando conheci o Matt, eu é que era o gordo”, disse, perante um Matt Damon rechonchudo e sem sinais de querer sorrir. Mais à frente, nova bicada: Kimmel elogiou, com ironia, claro, o facto de o ator, “egoísta” por natureza, ter sido generoso o suficiente para dar o papel principal em “Manchester by the Sea” (do qual é produtor) a Casey Affleck. O irmão mais novo de Ben Affleck acabaria mesmo por ganhar o Óscar de Melhor Ator.

Mais para o fim da cerimónia, Jimmy Kimmel ainda simulou um momento para falar sobre o seu ‘filme favorito’, “We Bought a Zoo”, protagonizado por… Matt Damon, claro. “Ele não tem talento nenhum, mas trabalha tanto!”, disse Kimmel, que logo a seguir cortou a palavra a Matt Damon quando este estava em palco para anunciar o Óscar de Melhor Argumento Original. Contas feitas, Matt Damon foi mais atacado do que Trump, mas com uma diferença fundamental: a história da inimizade entre Jimmy Kimmel e Matt Damon arrasta-se há anos, mas é um brincadeira entre os dois. Uma piada que já teve momentos épicos, como recuperava aqui a Time.

Donald Trump, por sua vez, não se manifestou uma única vez no Twitter. Nem quando Jimmy Kimmel lhe escreveu um tweet em direto, que em apenas um minuto somou mais de 100 mil likes. Por falar na rede social Twitter, os mean tweets lidos por alguns atores foi um momento engraçado que vale a pena rever. A rubrica não é inédita: Jimmy Kimmel importou-a do seu programa.

Ver um grupo de turistas entrarem de surpresa na cerimónia, achando que iam ver uma exposição de vestidos de Hollywood, também foi digno de registo. Não só porque acabou por ser verdade, ainda que com modelos vivos, mas também pelo deslumbramento que alguns mostraram ao ver os seus atores favoritos.

Atenção, grandes estúdios. As plataformas de streaming digital estão à espreita

O Óscar de Melhor Filme Estrangeiro foi o primeiro grande momento político da cerimónia, com a vitória de “O Vendedor”, de Asghar Farhadi. O realizador iraniano, que já tinha vencido um Óscar com “Uma Separação”, enviou em sua representação Anousheh Ansari, engenheira e astronauta. “A minha ausência é por respeito pelas pessoas do meu país, assim como dos outros seis países, que foram desrespeitadas por uma lei desumana que bane a entrada de emigrantes nos EUA. Divisões criam medo e guerras. Os realizadores podem usar as câmaras para quebrar estereótipos, para criar a empatia que precisamos”, leu, referindo-se à lei de imigração que Trump tentou implementar.

Houve pelo menos mais um momento histórico esta madrugada: a Amazon chegou aos Óscares pela primeira vez com “Manchester by the Sea”. Casey Affleck venceu como Melhor Ator, ao qual se juntou o Óscar de Melhor Argumento Original. Depois de tomarem conta da televisão, as plataformas de streaming digital preparam-se para tomar de assalto a sétima arte. Este foi o primeiro sinal. Os grandes estúdios que se preparem.

Contas feitas, “La La Land” com seis Óscares e “Moonlight” com três foram os grandes vencedores. “Arrival – O Primeiro Encontro”, que estava nomeado em oito categorias, conquistou apenas Montagem Sonora.

Veja a lista completa de vencedores dos Óscares 2017

Melhor Filme

“Moonlight” – vencedor
“La La Land”
“Arrival — O Primeiro Encontro”
“Fences”
“O Herói de Hacksaw Ridge”
“Hell or High Water”
“Hidden Figures”
“Manchester by the Sea”
“Lion — A Longa Estrada Para Casa”

Melhor Realizador

Damien Chazelle, “La La Land” – vencedor
Barry Jenkins, “Moonlight”
Kenneth Lonergan, “Manchester by the Sea”
Denis Villeneuve, “Arrival — O Primeiro Encontro”
Mel Gibson, “O Herói de Hacksaw Ridge”

Melhor Atriz Principal

Emma Stone, “La La Land” – vencedora
Isabelle Huppert, “Ela”
Ruth Negga, “Loving”
Natalie Portman, “Jackie”
Meryl Streep, “Florence — Uma Diva Fora de Tom”

Melhor Ator Principal

Casey Affleck, “Manchester by the Sea” – vencedor
Denzel Washington, “Fences”
Ryan Gosling, “La La Land”
Andrew Garfield, “O Herói de Hacksaw Ridge”
Viggo Mortensen, “Capitão Fantástico”

Melhor Ator Secundário

Mahershala Ali, “Moonlight” – vencedor
Jeff Bridges, “Hell or High Water”
Michael Shannon, “Animais Nocturnos”
Dev Patel, “Lion — A Longa Estrada Para Casa”
Lucas Hedges, “Manchester by the Sea”

Melhor Atriz Secundária

Viola Davis, “Fences” – vencedora
Michelle Williams, “Manchester by the Sea”
Naomie Harris, “Moonlight”
Nicole Kidman, “Lion”
Octavia Spencer, “Hidden Figures”

Melhor Argumento Adaptado

“Moonlight” – vencedor
“Arrival — O Primeiro Encontro”
“Fences”
“Lion — A Longa Estrada Para Casa”
“Hidden Figures”

Melhor Argumento Original

“Manchester by the Sea” – vencedor
“La La Land”
“Hell or High Water”
“A Lagosta”
“Mulheres do Século XX”

Melhor Fotografia

“La La Land” – vencedor
“Moonlight”
“Arrival — O Primeiro Encontro”
“Silêncio”
“Lion — A Longa Estrada Para Casa”

Melhor Montagem

“O Herói de Hacksaw Ridge” – vencedor
“La La Land”
“Moonlight”
“Arrival — O Primeiro Encontro”
“Hell or High Water”

Melhor Direção Artística

“La La Land” – vencedor
“Monstros Fantásticos e Onde Encontrá-los”
“Salve, César!”
“Arrival — O Primeiro Encontro”
“Passageiros”

Melhor Guarda-Roupa

“Monstros Fantásticos e Onde Encontrá-los” – vencedor
“Florence, Uma Diva Fora de Tom”
“La La Land”
“Aliados”
“Jackie”

Melhor Caracterização

“Esquadrão Suicida” – vencedor
“Star Trek Beyond”
“A Man Called Ove”

Melhor Banda Sonora

“La La Land” – vencedor
“Lion– A Longa Estrada Para Casa”
“Jackie”
“Moonlight”
“Passageiros”

Melhor Canção Original

“City of Stars,” “La La Land” – vencedor
“Audition,” “La La Land”
“How Far I’ll Go,” “Vaiana”
“Can’t Stop the Feeling,” “Trolls”
“Empty Chair”, “Jim: The James Foley Story”

Melhor Montagem Sonora

“Arrival — O Primeiro Contacto” – vencedor
“O Herói de Hacksaw Ridge”
“Horizonte Profundo”
“La La Land”
“Milagre no Rio Hudson”

Melhor Mistura Sonora

“O Herói de Hacksaw Ridge” – vencedor
“Rogue One”
“La La Land”
“Arrival — O Primeiro Encontro”
“13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi”

Melhores Efeitos Especiais

“O Livro da Selva” – vencedor
“Rogue One”
“Doutor Estranho”
“Horizonte Profundo”
“Kubo e as Duas Cordas”

Melhor Filme Estrangeiro

“O Vendedor” (Irão: Asghar Farhadi) – vencedor
“Toni Erdmann” (Alemanha: Maren Ade)
“Land of Mine” (Dinamarca: Martin Zandvliet)
“Tanna” (Austrália: Martin Butler, Bentley Dean)
“A Man Called Ove” (Suécia: Hannes Holm)

Melhor Documentário

“O.J.: Made in America” – vencedor
“13th”
“Life, Animated”
“Fogo no Mar”
“I Am Not Your Negro”

Melhor Filme de Animação

“Zootrópolis” – vencedor
“Vaiana”
“Kubo e as Duas Cordas”
“A Tartaruga Vermelha”
“My Life As a Zucchini”

Melhor Curta Documental

“The White Helmets” – vencedor
“Extremist”
“4.1 Miles”
“Joe’s Violin”
“Watani My Homeland”

Melhor Curta de Animação

“Piper” – vencedor
“Blind Vaysha”
“Borrowed Time”
“Pear Cider and Cigarettes”
“Pearl”

Melhor Curta-Metragem

“Sing” – vencedor
“Ennemis Interieurs”
“La Femme et le TGV”
“Silent Nights”
“Timecode”