Um erro histórico

Foi o último momento da noite, mas de tão insólito merece ser contado primeiro. Warren Beatty foi o escolhido para divulgar os vencedor do Óscar mais ambicionados da noite: o de Melhor Filme. Quando abriu o envelope parecia confuso, mas o público julgava que era apenas uma manobra de suspense. A seguir gritou-se “La La Land” e ninguém pareceu estranhar: a equipa subiu a palco, começou a fazer a festa e a agradecer aos amigos e família. Depois, a reviravolta: afinal, o vencedor foi “Moonlight”. Warren Beatty tinha recebido o envelope errado, referente ao prémio de Melhor Atriz (entregue a Emma Stone) e anunciou o nome errado. A equipa de “La La Land” sai de palco para dar lugar aos atores e equipa técnica de “Moonlight”. O público ficou boquiaberto e as palmas pareciam paralisadas. Um final arrebatador para um evento sem grandes incidentes.

Jackie Chan e os pandas

A companhia escolhida por Jackie Chan, um ator com mais de duzentos filmes no currículo, para atravessar a passadeira vermelha conquistou as atenções dos fotógrafos. O reconhecido ator com cinquenta anos de carreira veio com dois pandas de peluche nas mãos, que exibiu com um sorriso singelo no rosto. Nada de demasiado estranho, no entanto: como confesso embaixador da cultura asiática nos Estados Unidos, Jackie Chan levou para a ribalta dos Óscares dois símbolos da UNICEF e os peluches que simbolizam a sua luta ativista pela conservação da Natureza. Conforme o ator explicou a uma jornalista na passadeira vermelha, os pandas estão em risco de extinção. Depois de ter adotado dois, um macho e uma fêmea, em 2009, aceitou o convite das autoridades de Chengdu — a província chinesa com mais pandas — para se tornar “embaixador” dos animais desta espécie. Como não podia levar os pandas que adotou há oito anos para o evento mais esperado da sétima arte, levou duas representações deles. E aproveitou o barulho das luzes para sensibilizar o público para a importância da conservação das espécies.

A introdução de Justin Timberlake

Foi como começar com as boas notícias. Até agora, as grandes cerimónias de entregas de prémios começavam com as inevitáveis piadas dos anfitriões, todos eles humoristas, em relação à tensão social e política vivida nos Estados Unidos. Os Óscares quiseram marcar a diferença e chamaram Justin Timberlake para cantar “Can’t Stop the Feeling”, uma das canções nomeadas para os Óscares. Nem o artista, nem os seus companheiros de palco pararam por um minuto em palco. E cativaram ainda mais o público quando decidiram descer as escadas e misturarem-se entre os atores, como num flashmob.

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As piadas de Jimmy Kimmel

Outra vez, a diferença. Jimmy Kimmel não começou pelas piadas que tinha preparado sobre Donald Trump, embora tenha concentrado os seus esforços num clássico: dirigir-se aos atores e realizadores mais famosos da noite. Foi aí que encontrou o mote para fazer referências humorísticas na política, quando se dirigiu a Meryl Streep — a “atriz mais sobrevalorizada”, nas palavras do novo presidente norte-americano — e falou sobre os ataques feitos por Trump à atriz, nomeadamente sobre um alegado vestido Ivanka Trump que Meryl Streep iria usar. Mas Jimmy Kimmel nunca foi agressivo: as suas piadas foram graciosas. Teve sempre capacidade de resposta e soube reagir bem aos improvisos e ao inesperado. Mesmo quando o nome de Trump vinha à baila.

Doces a cair do céu

É um jeito muito americano de viver a sétima arte e é um hábito que os europeus importaram do outro lado do oceano. É comum ver pessoas a comer pipocas, a beber refrigerantes ou a comer doces em frente ao grande ecrã, principalmente quando a sala de cinema fica em pleno território norte-americano. Ora, nada mais adequado para os Óscares do que presentear os convidados dessa forma. E por isso é que, por três vezes, caíram saquinhos brancos com gomas no interior. Não houve ator, do mais novo ao mais velho, que não ficasse encantado.

As ríspidas palavras do realizador de “O Vendedor”

Se toda a gente tentava ser glamorosa até na hora de fazer um comentário político, a discrição ficou para trás quando Asghar Farhadi deixou um recado à engenheira e astronauta Anousheh Ansari, que recebeu um prémio por ele. Na hora de agradecer o Óscar que a Academia lhe entregou por realizar o Melhor Filme Estrangeiro, “O Vendedor”, Farhadi disse que não estava em palco em protesto contra as “políticas injustas” de Donald Trump e em solidariedade com todos a quem o novo presidente norte-americano fechou portas. Foi a mais agressiva referência direta a Trump.

Os turistas acidentais nos Óscares

Foi um daqueles momentos que só mesmo a televisão podia criar. A realização dos Óscares decidiu pregar uma partida a alguns turistas e, em vez de os levar a um simples passeio pelo teatro que recebeu a cerimónia, fê-los entrar por uma porta lateral que dava acesso ao grande auditório onde se recebiam as estatuetas douradas. A sua expressão era de espanto, como se mesmo ali perante o rosto de Meryl Streep ou Casey Affleck não acreditassem que estavam a olhar para alguns dos nomes mais importantes de Hollywood. Houve até um casal “abençoado” por Denzel Washington, uma senhora que recebeu os óculos de Jennifer Anniston e um homem que pode tocar num Óscar.

Os tweets enviados por Jimmy Kimmel a Trump

Sim, Jimmy Kimmel foi espirituoso e gracioso nas piadas, mas nunca teve medo de citar o nome de Trump. Nem o nome, nem a conta oficial do multimilionário norte-americano que recentemente subiu ao mais alto posto dos Estados Unidos. Assumindo-se preocupado com o silêncio ensurdecedor de Trump durante a cerimónia — porque não tinha escrito nada no Twitter, algo pouco usual para o presidente dos EUA –, Jimmy Kimmel decidiu chamá-lo e escreveu: “Hey, estás acordado?”. A seguir enviou outro tweet: “#MerylStreepSaysHi”, numa referência a uma crítica feita por Trump à atriz, dizendo que a artista era “sobrevalorizada”. Ainda aguardamos resposta.

Os “mean tweets”

É um formato habitual nas produções de Jimmy Kimmel. O apresentador de televisão e humorista coloca famosos a ler comentários negativos que os internautas espalham pelas redes sociais para testar as suas reações. A produção decidiu levar o formato para dentro dos Óscares, precisamente com os atores que mais se destacaram nos prémios. Este foi o resultado.

Um “La La Land” que não impressionou tanto assim

Ganhou seis Óscares — bom, começou por ganhar sete até o último ter sido arrancado das suas mãos –, mas afinal não impressionou tanto o júri da Academia como seria esperado de um filme com catorze nomeações. Na verdade, os prémios foram bastante distribuídos por muitos dos filmes que fizeram mexer as bilheteiras durante os últimos meses. Embora tenha ganho o prémio de Melhor Realizador, Melhor Atriz Principal e outras estatuetas em categorias mais técnicas, o prémio de Melhor Filme ficou para trás. Ainda assim, este foi o filme com mais conquistas feitas na noite dourada de Hollywood.