Pilhas de documentos impressos e gigabytes de ficheiros com informação contabilística. Regra geral, é esta a imagem que se tem do ambiente em que trabalham os funcionários dos órgãos de supervisão dos mercados de capitais. Em especial, daqueles que têm como tarefa prioritária verificar se a informação prestada aos investidores pelas empresas cotadas em bolsa é rigorosa e merecedora de confiança.

Nos dias que correm, a perceção pode pecar por ser antiquada. Os avanços tecnológicos também contaminaram os reguladores, que parece terem ganhado novas ferramentas para cumprirem as responsabilidades que lhes cabem.

É o que sucede com a Securities and Exchange Comission (SEC), a congénere da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários que opera em Portugal. O polícia do mercado norte-americano apanhou uma empresa de imobiliário e construção numa fraude contabilística de valor elevado. A forma a que recorreu para confirmar que a firma, de origem mexicana e cotada nos Estados Unidos, tinha enganado os acionistas fugiu aos métodos habituais.

Através do recurso a imagens captadas por satélite, a SEC conseguiu demonstrar que muitos dos empreendimentos que a Desarrolladora Homex garantia estarem finalizados e terem gerado receitas e lucros, não passavam, afinal, de informação enganadora. As imagens obtidas pelo supervisor mostraram uma realidade bem diferente daquela que era alegada pela Homex. Em muitos dos locais onde era suposto encontrarem-se as casas que a empresa afirmava ter edificado, apenas se viam terrenos sem qualquer sinal de terem, sequer, sido o palco de trabalhos de preparação para a construção.

A empresa registou durante três anos, nas respetivas demonstrações de resultados, o volume de vendas obtido com a colocação no mercado de 100 mil casas fictícias, correspondente a 3,3 mil milhões de dólares [3,1 mil milhões de euros]. Numa declaração oficial, citada pela Bloomberg e assinada por Melissa Hodgman, diretora do supervisor, a SEC revelou ter utilizado “imagens de satélite de alta resolução, bem como outras técnicas inovadoras de investigação, para descobrir que dezenas de milhares de casas, supostamente construídas e vendidas, eram, na verdade, nada mais do que terrenos vazios”.

As conclusões da investigação não tiveram consequências para a Homex, empresa que já foi a maior construtora do México, mas que passou por uma grave crise por endividamento excessivo. A nova administração cooperou com a SEC no processo de averiguação da fraude, o que levou os responsáveis do regulador a decidirem não aplicar qualquer coima. As ações da empresa foram suspensas da cotação em bolsa durante quinze dias, período que termina a 17 de março próximo, devido “à falta de informação rigorosa e adequada” nos relatórios anuais. A Homex entrou em processo de insolvência em 2014, do qual saiu um ano depois.

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