As duas filhas do recém-empossado ministro do Interior de França, Bruno Le Roux, 51 anos, terão assinado os seus primeiros contratos de trabalho com o Estado ainda adolescentes. As acusações estão a causar burburinho no país, a ponto de o primeiro-ministro, Bernard Cazeneuve, já ter pedido uma reunião hoje à tarde para obter esclarecimentos sobre este caso.
Em França é ilegal trabalhar antes dos 16, exceto se o empregador for um dos progenitores. Ao todo, foram 24 contratos, sempre em época de férias escolares – primeiro do liceu, depois da universidade, entre 2009 e 2016 – que as raparigas, hoje com 20 e 23 anos, assinaram através do pai, então deputado do Partido Socialista francês. Em conjunto, receberam 55 mil euros – dá uma média de 2.292 euros por cada um dos períodos de trabalho.
As acusações a Le Roux reavivam as recentes polémicas com Penelope Fillon, mulher do ex-primeiro ministro e atual candidato às eleições presidenciais, François Fillon, que terá encaixado 500 mil euros ao longo de oito anos como assistente, alegadamente, fictícia do mesmo parlamento. Em janeiro, quando o affaire Fillon rebentou, Le Roux declarou: “Acho que deveria existir uma regra e que estas situações não deviam ser permitidas. O processo seria mais transparente e correto se os deputados fossem simplesmente proibidos de trabalhar com os cônjuges”.
Agora, confrontado pelos jornalistas do programa Quotidien, da TF1, que revelou o caso, o ministro confirmou a contratação das filhas, em períodos de verão ou outras pausas nos anos letivos, mas garantiu que a situação é diferente, que as filhas realmente trabalharam para si e que não houve nepotismo no processo: “Nada de misturas. Estamos a falar de empregos de verão com um parlamentar”.
Problema: um dos contratos (e todos os 24 e respetivas datas foram confirmados pelo gabinete de Le Roux à TF1), celebrado com a filha mais velha, entre 10 de junho e 9 de setembro de 2013, bate com o período em que Marie trabalhou em Tournai, na Bélgica, como conselheira de vendas numa loja Yves Rocher. A própria disponibiliza a informação contraditória no currículo – ou disponibilizava, na rede sócio-profissional Linkedin, de onde entretanto apagou o perfil.
Ou então não, elucidou prontamente o gabinete de Le Roux: “Cada contrato previa funções específicas que foram cumpridas… eram missões que podiam ser efetuadas em horários alargados ou até à distância (trabalho de escrita, atualização de ficheiros, pesquisa, etc), e que várias vezes se prolongaram por dias extra, já durante o outono. Estes contratos pontuais não obrigam à presença física na Assembleia Nacional, consistem em funções que tanto podem ser desempenhadas na sua circunscrição como à distância”.