Todos gostamos de uma boa história. Algo de mágico acontece quando nos perdemos num mundo inteiramente novo ou até mesmo quando fazemos uma viagem no nosso tempo passado. Todos temos um livro de eleição, uma série obrigatória, um filme que é simplesmente brilhante ou um videojogo que “todos têm que jogar antes de morrer”.
Contudo, é necessário diferenciar as formas como a história é contada. Em muitos destes exemplos, ela desenrola-se diante de nós e, passivamente, limitamo-nos a observar.
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Nos videojogos, principalmente em Role-Playing Games (RPG), o jogador não só tem um papel na história como decide o seu desenrolar, sendo inegáveis as consequências associadas a cada escolha. No entanto, não somos totalmente livres, no sentido de que não podemos fazer algo que o jogo não permita. A nossa liberdade estará sempre dependente daquilo que os programadores incluírem no jogo. Mas, se vos dissesse de que há um tipo de jogo onde a liberdade é absoluta e o céu é o limite?
É aqui que entram os Tabletop Role-Playing Games, jogos onde os vários jogadores se reúnem à volta de uma mesa e cada um assume o papel de uma personagem por eles criada, enquanto um outro jogador, uma espécie de narrador, trata de criar um mundo com uma série de eventos e personagens com as quais eles possam interagir.
Há vários jogos dentro desta categoria, como o clássico Dungeons & Dragons, Paranoia, Vampire: The Masquerade. Todos eles têm um contexto pré-definido, mas tal como consta nas regras, tudo pode ser moldado ao nosso gosto. Se quisermos, podemos ter uma campanha de Dungeons & Dragons num cenário futurista e não de fantasia ao estilo de Senhor dos Anéis.
Mas como é que tudo funciona? Pode-se resumir a isto: o jogador encarregue de criar o mundo (apelidado de Dungeon Master ou Game Master) apresenta uma determinada situação aos jogadores, é ele o narrador da história e a “entidade” que supervisiona todo o jogo. Eles anunciam o que querem fazer, ao que o Dungeon Master lhes pede para rolar um dado de vinte faces (dependendo do jogo). Eles rodam o dado, juntando o valor específico que consta na sua folha de personagem, e anunciam o resultado. Perante o valor, o Dungeon Master decide se é suficientemente alto ou não para culminar em sucesso e procede à narração do sucedido.
A título de exemplo, os jogadores encontram-se a explorar uma caverna e de repente descobrem que a saída ficou selada por uma enorme rocha. Tanto quanto eles sabem, aquela pode muito bem ser a única saída e decidem remover a rocha através de um esforço conjunto. O Dungeon Master pede-lhes para fazer um check de Força e eles rolam os dados e adicionam o montante respetivo à sua Força, obtendo os seguintes valores, 13, 16 e 9, num total de 38.
Dado o esforço conjunto e o valor relativamente alto, o Dungeon Master descreve o processo de remoção da rocha. Mas não precisava de ser assim. Eles podiam também tentar destruí-la com as suas armas e magia, e até mesmo usar essa mesma magia para a mover ou mudar a sua forma. Podiam simplesmente ignorá-la e continuar com a exploração. O que se pode fazer está inteiramente limitado pela nossa imaginação.
Numa altura onde os videojogos estão cada vez mais realistas, porque é que deveríamos procurar este tipo de alternativa? Tudo se resume a isto: interação. Há jogos que ainda incluem a opção de ecrã dividido e outras mecânicas que permitam concentrar várias pessoas no mesmo espaço, mas é inegável que são poucos, havendo uma tendência para o modo online o que não é a melhor das experiências. Mais cedo ou mais tarde iremos sentir a necessidade de nos encontrar e de partilhar momentos com alguém.
Os Table Top Role Playing Games permitem isso mesmo, criar um mundo só nosso que podemos partilhar com amigos e familiares, um mundo que eles podem explorar e moldar com as suas ações, um mundo de potencial infinito que se pode visitar uma e outra vez, e que estará sempre lá quando mais precisarmos.
Numa era onde tudo quase se parece resumir a hardware, não há nada melhor do que reunir um grupo de amigos e rolar dados em conjunto e usar a melhor máquina que temos disponível: a nossa imaginação.
Daniel Carvalho, Rubber Chicken