Os rolos de fotografia já passaram à história. O que até há pouco tempo só podia ser feito por um profissional, está agora presente no bolso de (quase) todas as pessoas. A fotografia é das tecnologias mais utilizadas para registar um momento para a posteridade mas, na realidade, o consumidor ainda não sabe exatamente o que está a comprar e as marcas aproveitam-se disso para vender.
Os smartphones têm câmaras cada vez com mais megapíxeis (MP). As marcas, por norma, fazem gala do número para parecer que a qualidade final será melhor e, na prática, isso vende. Atualmente podemos ver smartphones que alegam ter mais megapíxeis que algumas câmaras fotográficas compactas e, quando olhamos para modelos profissionais com alguns anos, estes equipamentos têm menos MP que alguns dos telemóveis do mercado atual.
Mas então isso significa que um smartphone com 16 MP tira melhores fotografias que uma câmara fotográfica, profissional, de 10 MP? Numa simples resposta, Luís Godinho, vencedor do prémio melhor fotógrafo português da Sony World Photography Awards 2017, afirma que “não contam para nada. Zero mesmo“.
No que toca a este tópico não podemos ser nem 8 nem 80. Claro que os megapíxeis importam, apenas não influenciam na qualidade da fotografia. Importa dar uma breve explicação técnica: um píxel é cada “ponto” minúsculo que forma uma imagem e é utilizado para indicar o grau de resolução/definição das imagens geradas por uma câmara. Portanto, ajudam a garantir uma boa qualidade, “embora seja subjetivo, pois depende sempre do tamanho em que vai ser apresentada”, explica Luís Godinho.
O que é importante perceber é que, segundo Adriano Neves, fotógrafo que venceu o Prémio de melhor fotografia a nível nacional no Sony World Photography Awards 2015 e 2016, “a principal característica dos megapíxeis é ter [uma imagem com] mais resolução, isto importa mais para impressão ou caso se venha a recortar uma parte da imagem”.
Mas então porque é que as empresas apostam tanto em promover as câmaras e os smartphones com base nos megapíxeis? Para Adriano Neves é apenas porque “as marcas são muito boas a publicitar os aparelhos com base nessa característica”. Escolher a câmara ideal dando prioridade aos megapíxeis que possui não é, de todo, a técnica ideal para obter o melhor resultado final. Existem outros fatores como o sensor, as objetivas e respetiva abertura, assim como o que se pretende fazer com o equipamento.
Se for para imprimir as imagens em grandes formatos (desde A3 a outdoors publicitários) claro que deve ter em atenção que vai ganhar maior resolução se optar por ter mais megapíxeis. “Mais resolução não é [igual a] ter mais qualidade“, explica Adriano antes de alertar para o facto de que a “resolução não faz a fotografia“.
Para um utilizador comum, que apenas quer uma câmara para fotografar o dia-a-dia, sem necessidade de fazer grandes edições e para publicar no Facebook ou no Instagram, não precisa de mais que dois megapíxeis. Estranho? Nem por isso. Os ecrãs dos computadores, por norma, têm uma resolução de 1920 x 1080 (Full HD) que corresponde aproximadamente a dois megapíxeis. Claro que vai notar uma grande falta de informação quando aproximar ou cortar a imagem, e é para essas situações que faz falta ter mais resolução, mas no plano geral, se tiver um bom sensor e uma boa objetiva consegue uma fotografia igualmente boa com 2 ou com 20 MP.
Também o tamanho dos ficheiro muda, significativamente, consoante a resolução escolhida. Nos exemplos acima é possível verificar que a fotografia com mais megapíxeis tem quase cinco megabytes face aos dois da imagem com menos resolução. Os resultados são, em tudo, idênticos (mudando apenas o formato das fotografias: a primeira fica mais retangular e a segunda fica em quadrado. Só fazendo zoom é que conseguimos ver, de facto, que diferença fazem os megapíxeis numa fotografia:
Um grande desafio dos fotógrafos recai sempre nas fotografias tiradas em condições de pouca luminosidade e, nestes casos, pode ajudar reduzir o número de megapíxeis da câmara utilizada. Isto porque, “menos megapíxeis permitem [capturar] uma maior quantidade de luz“, explica Luís Godinho. Ao ter menos pixeis para serem preenchidos, cada um capta mais luz individualmente em vez de a “espalhar” por uma resolução maior.
Luís Godinho não acredita nas comparações que se tentam fazer entre uma fotografia de um smartphone e uma tirada por uma câmara profissional (DSLR), mas diz que estas comparações “permitem que quem gosta [de fotografia] tenha de se esforçar mais”, referindo-se às apostas constantes das marcas em melhorar os smartphones para que sejam capazes de produzir fotografias cada vez melhores. Claro que, para quem realmente gosta de fotografar “o prazer é completamente diferente”, diz o fotógrafo. “Um smartphone faz uma imagem e uma câmara faz uma fotografia” conclui.
Adriano Neves admite utilizar o smartphones “para fotografar na rua” mas quase nunca para publicar, é apenas algo para que possa registar o momento, mas alerta que essas escolhas “dependem sempre da área de interesse em fotografia por parte da pessoa”, uma vez que “o problema principal é, normalmente, a objetiva” e não o número de píxeis do sensor. Esta característica tem menor influência na qualidade da imagem do que a sua gama dinâmica – “amplitude de intensidades de luz que o sensor consegue registar numa única exposição”, explica Adriano.
O fotógrafo explica ainda que, numa câmara profissional, o comprimento de uma objetiva pode chegar a ter “30 centímetros” (ou mais) e, um smartphone, está limitado a espessuras que caibam dentro de um bolso, assim como acontece com os sensores (numa DSLR têm cerca de 36×24 mm e num smartphone rondam os 5×4 mm).