Uma passeio de bicicleta junto ao mar, uma caminhada pela vila de Cascais e, ainda, um almoço que tinha sido encomendado há duas horas através de uma plataforma online. Foi assim que fomos conhecer a smart city (“cidade inteligente”) em que Cascais se está a tornar, graças a inovações criadas por startups no programa Big Smart Cities (e não só).
A quinta edição da competição de empreendedorismo promovida pela Vodafone e pela Ericsson – o Big Smart Cities – abriu as candidaturas, esta segunda-feira, e vai permitir testar algumas das ideias mais inovadoras, na vila de Cascais que que se tornou assim a primeira “cidade experimental” para startups.
Isto significa que os empreendedores nacionais vão ter um local onde podem testar, em ambiente real, as soluções tecnológicas que estão a desenvolver para aquelas que podem vir a ser as cidades inteligentes do futuro.
O objetivo do Big Smart Cities é descobrir e apoiar ideias de negócio, de base tecnológica, que sejam capazes de melhorar o dia-a-dia daqueles que passam ou vivem nos grandes centros urbanos do país. Cascais surge como o local de teste ideal, aos olhos das empresas que promovem a competição, devido às estratégias adotadas e às iniciativas desenvolvidas (a nível da mobilidade, eficiência e gestão de resíduos) que tornam a vila uma potencial “cidade exemplo” daquilo que poderá ser uma smart city.
“Cascais não é demasiado grande mas também não é muito pequena”, diz o vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais, Miguel Pinto Luz, tornando-a assim o local ideal para testar este tipo de inovações pensadas para os grandes centros urbanos.
Durante o discurso, Mário Vaz, Presidente da Vodafone Portugal, referiu que “Portugal pode e deve ter um papel relevante” na inovação tecnológica, acrescentando que este projeto pretende “selecionar ideias e apoiar os jovens para que possam passar do powerpoint para o negócio”, prometendo apoio e projeção internacional através do Big Smart Cities e do Vodafone Power Lab – programa de incentivo à inovação e ao empreendedorismo.
As candidaturas abriram esta quarta-feira e serão aceites até dia 23 de maio. A final do Big Smart Cities decorrerá a 11 de junho.
Inicialmente, apenas os vencedores do concurso vão poder testar os projetos na vila de Cascais, só depois é que a oferta será alargada a outras startups que apresentem projetos dentro do mesmo âmbito – que proporcionem uma resposta aos desafios que as cidades modernas enfrentam nos dias de hoje. Alguns projetos já se encontram implementados um pouco por toda a localidade (alguns estão fora da vila mas foram trazidos ao local para serem apresentados) e o Observador foi convidado a visitar cada um deles.
Uma volta de bicicleta
A primeira paragem foi a Casa da Guia, onde nos foi possível alugar uma bicicleta através da MOBICASCAIS, um projeto focado na mobilidade local que permite requisitar uma bicicleta através da app (Android e iOS), que pode ser recolhida num ponto e entregue noutro. Um dos responsáveis pelo projeto explica que “não são as bicicletas que são inteligentes mas sim a maneira como as podemos utilizar”. A autarquia adquiriu 1.200 bicicletas para este projeto e tem já a funcionar, entre Cascais e São Pedro do Estoril, 14 pontos, estando em fase de expansão para cerca de 75 até ao fim do mês de junho.
Além disso, a aplicação ainda permite saber quantas bicicletas e lugares estão disponíveis em cada posto de recolha e, dentro da rede de autocarros local e nas carreiras que façam parte do projeto, quanto tempo falta até ao próximo transporte. Com a parceria feita com a CP foi possível reduzir os custos dos passes de transportes em 26% do seu valor. Além da aplicação, é possível utilizar um cartão ou uma pequena moeda (preparada para tal) para requisitar uma bicicleta.
Energia de forma mais eficiente
Das bicicletas passámos para o Museu da Vila, que ainda se encontra em fase de construção mas que conta já com o Vodafone Smart Energy, uma solução de monitorização e gestão de energia de edifícios. O sistema permite controlar os gastos de cada aparelho, analisar os consumos gerais, controlar o que fica ligado e o que é desligado assim como, de forma remota, possibilita ao utilizador desligar qualquer um dos equipamentos ligados à corrente.
No museu, o sistema possuí sensores que conseguem perceber quando uma (ou mais) pessoa está junto a alguma vitrine e ajusta, automaticamente, a iluminação para proporcionar uma experiência mais agradável. Além disso, é ainda capaz de analisar a quantidade de pessoas que se encontram dentro da sala para criar um mapa de calor que permite perceber qual a peça a que as pessoas dedicaram mais tempo.
Uma grande vila produz grandes quantidades de lixo
A paragem seguinte foi num pequeno parque no centro da vila de Cascais. O foco principal era o sistema de Gestão de Resíduos e de Sensores de Enchimento das Ilhas Ecológicas – Cascais Smart Waste, que permite poupar os recursos técnicos e financeiros que tratam da recolha de desperdícios. Através deste sistema, a vila de Cascais consegue reduzir o número de quilómetros efetuados, de circuitos realizados e a frequência de recolha, assim como as emissões de CO2 (dióxido de carbono). Este sistema implementado permitiu poupar 264 toneladas de emissões de CO2 em 2014.
Com estes sensores é possível determinar o nível de lixo existente em cada contentor das ilhas ecológicas, permitindo gerir, de facto, quais são os locais que precisam que se efetue uma recolha e quais é que podem esperar mais uns dias. Ao evitar viagens “desnecessárias” (nos casos em que os contentores ainda estão muito vazios, por exemplo) conseguem evitar fazer percursos em vão.
Esta solução conta ainda com uma nova implementação nos camiões de recolha, onde é possível encontrar três novos botões para que os funcionários, ao avistarem algum local que precise de atenção, possam deixar essa indicação durante o percurso; no dia seguinte, será enviado ao local o meio necessário. Por exemplo, caso alguém coloque um eletrodoméstico à porta de casa para ser recolhido, essa indicação pode ser transmitida pelo botão no camião para que alguém passe por lá a efetuar a recolha. Claro que esta medida serve também para outros problemas como é o caso da sinalização vertical que, por noite, chegam a ser reportadas 700 incidências.
Coimbra junta-se a Cascais para medir os níveis da água
Depois da apresentação em Coimbra, a solução IoT (Internet of Things ou, em português, Internet das Coisas) criada por três estudantes do departamento de Engenharia Eletrotécnica e Computadores da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, viajou até Cascais para mostrar que, além de medir os níveis de forma a poder indicar um possível cenário de cheias, consegue ter utilização também para os reservatórios de água de forma a saber quando se encontram quase vazios.
Startup de estudantes de Coimbra cria projeto IoT para prever cheias no rio Mondego
Este é um aparelho ultrassónico que, a cada minutos, consegue medir os níveis da água em determinado local e enviar, em tempo real, os valores para o sistema. Desta forma, em Coimbra, o projeto Rio Mondego consegue fornecer informações de níveis de água acima da média que podem causar cheias na cidade. Em Cascais, onde o cenário das cheias não é algo comum, é apresentado como uma solução para prevenir o oposto, as secas, fornecendo informação sobre os reservatórios para que se possa saber quando estão a atingir valores demasiado baixos.
Iluminação mais inteligente e eficiente
A iluminação pública não foi deixada de fora e, apesar de ainda não estar implementado por toda a vila de Cascais, o Vodafone Smart Lights é um serviço que permite, através de um sistema integrado de sensores, controlar de forma remota e em tempo real, cada poste de iluminação pública, sem que seja preciso recorrer a uma infraestrutura nova, visto que o serviço está dependente apenas da rede móvel da Vodafone.
Em cada poste é colocado um equipamento Vodafone Smart Light e assim torna-se possível controlar, de forma independente, cada ponto de luz. É possível ligar, desligar e ativar o modo de poupança do balastro (regulação de intensidade), possibilitando que se criem políticas avançadas compatíveis tanto com lâmpadas tradicionais como LED.
Um ponto sublinhado pela empresa foi a preocupação com a segurança, o que levou a equipa a utilizar redes especiais para se protegerem contra possíveis ataques informáticos.
A Ericsson e o Massive IoT
A empresa sueca Ericsson estima que, em 2022, existam cerca de 18 mil milhões de dispositivos IoT conectados e, com este contexto em mente, apresentaram diversos casos de uso IoT que esperam ver aplicados em diferentes cenários das futuras Smart Cities.
A Massive IoT, como a Ericsson apresentou, é caracterizada por um número grande de conexões, pequenos volumes de dados, aparelhos de baixo custo e com rigorosos consumos de energia – uma ideia que envolve os edifícios inteligentes com controlos e gestões energéticas automáticas, melhor logística de transportes, gestão de frotas e a monitorização industrial e da agricultura.