Dezenas de milhar de venezuelanos saíram esta quarta-feira às ruas de Caracas para protestar contra o que dizem ser uma rutura do regime constitucional, para pedir o fim da “ditadura” e a convocação de eleições.

Aos manifestantes juntaram-se também portugueses, dizendo que o fizeram por um “melhor futuro para os filhos”, em solidariedade com os venezuelanos para que haja mais democracia no país.

“A comunidade portuguesa está do lado do povo venezuelano, nestes momentos e anos difíceis. O povo venezuelano necessita que hoje estejamos do lado deles, apoiando-os e esse é o nosso propósito, apoiar a democracia, a Venezuela e o povo venezuelano”, disse um português à agência Lusa.

Radicado em Caracas há 30 anos, Renato Amaral insiste que a Venezuela deu muito aos portugueses, mas hoje a situação é difícil, “as carências primárias, de alimentos, de medicamentos, fazem com que o povo vá para a rua”.

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“Depois desta situação do Supremo Tribunal de Justiça [depois das sentenças limitando a imunidade parlamentar e assumindo as funções do parlamento], as pessoas sentem que de alguma maneira houve um golpe ou auto golpe, jurídico, de Estado no país”, acusou.

No entender de Renato Amaral, as instituições e os militares devem estar do lado do povo, que apela “à democracia, a que hajam eleições livres”.

Outro português, Abílio Manuel Soares de Almeira, natural de Aveiro e radicado na Venezuela há 34 anos, justificou a sua presença na manifestação para que “o comunismo vá embora”.

“Marcho pelos meus filhos e pelos meus netos, contra o comunismo, porque não há alimentos, não há materiais para trabalhar. Sou carpinteiro e não consigo materiais para trabalhar”, disse, lamentando que os políticos venezuelanos estejam a estragar o país.

Soares de Oliveira apelou aos venezuelanos “para que saiam às ruas, para acabar com o comunismo, como (aconteceu) em Portugal, há muitos anos, onde também o comunismo tentou chegar ao poder, como acontece aqui agora”.

“É preciso continuar em frente. Quando entraram os cubanos, danaram Angola e Moçambique, em 1974 e 1975 e aqui na Venezuela está acontecendo igual. Temos que marchar e caminhar em frente”, frisou.

Segundo a lusodescendente Maria Margarita Beja dos Santos o dia de hoje é dedicado “a todos nós, que merecemos viver em liberdade, num país que é de todos”.

“Temos direito a ter paz, tranquilidade e qualidade de vida (…) Pedimos a Nossa Senhora de Fátima e a Nossa Senhora do Coromoto que é a padroeira desta terra (Venezuela) lindíssima, que nos dê muita paz e que consigamos sair desta ditadura”, disse.

Doente, com um cancro, o venezuelano Adolfo Pelucarte, integrou a marcha porque, diz, “não vimos nada do que nos prometeram desde há 18 anos, começando por (Hugo) Chávez e menos, lamentavelmente e com o respeito que lhe devemos, o inepto que temos como Presidente (Nicolás Maduro)”.

Insistindo que a oposição não quer a violência, Adolfo Pelucarte explicou que o “o Governo utiliza como argumentos que a oposição é violenta, para levar todo tipo de armamento para a rua e logicamente vê-se como se fosse uma manifestação violenta”.

“Tenho estado em grande parte das marchas e não tem havido violência. Temos o direito constitucional de estar aqui e protestar e não que nos reprimam como se fossemos animais”, defendeu.

Adolfo Pelucarte apelou à União Europeia para que “ponha mais ênfase no bloqueio a Venezuela e não permita que o dinheiro roubado (pelos políticos) seja depositado lá”.

“Eu tenho um cancro e não posso caminhar mais de 100 metros e vim em cadeira de rodas. Na vez anterior marchei 12 quilómetros, em cadeira de rodas. Não há medicamentos. A ministra da Saúde mente quando diz que há medicamentos nas farmácias de alto custo, eu estive ontem e não havia”, disse.

Por outro lado questionou como podem os venezuelanos pagar 100 mil bolívares (aproximadamente 135 euros) cada 21 dias por um medicamento para um tratamento, quando o salário mínimo é pouco mais que isso.