Foi um dos momentos da tarde no The Future of Football, Congresso que o Sporting organiza pela terceira vez no estádio José Alvalade. “Sou do Sporting e sempre fui do Sporting. Vou ter de fazer uma pergunta: depois daquilo que ouvi, tenho mesmo de saber isto: porque é que no saudoso antigo estádio, quando ia na rampa, desde os juniores, estava sempre de mau feitio e dava cotoveladas? Eu não mas tive amigos meus que levaram!”, questionou uma fã na assistência com uma t-shirt verde.

Luís Figo riu-se. “Olhe, primeiro deixe-me que lhe diga que tem muito bom gosto no clube. Depois, olhe que não me lembro nada disso… Provavelmente apanhou-me num dia de mau humor”, respondeu num tom bem disposto. “Eu tenho esta aparência muito séria, devia ser disso. É estranho que me diga que tinha medo das pessoas, não tinha mesmo. Mas se vier agora aqui ter comigo, dou-lhe com um maior gosto um abraço”, completou. E a senhora, que já tinha três autógrafos do ex-jogador em casa, colecionou uma boa história.

A seguir ao painel I, subordinado ao tema “Treinar: o que faz a diferença?”, fomos falar com algumas pessoas que conheciam o antigo Bola de Ouro de ginjeira. Aurélio Pereira, o “Senhor Formação”, soltou uma gargalhada. E o pai do ex-jogador, que também estava presente desde cedo em Alvalade, estava bem disposto. Ninguém recorda essa vertente do jogador franzino de cabelo farto que veio do Pastilhas, na Cova da Piedade, com 13 anos. Lembram, isso sim, o trabalho que teve para atingir o patamar de melhor do Mundo, como foi. Um patamar onde alguns que tinham tanto ou mais talento do que ele nunca alcançaram. Porque, em tudo, o talento não chega.

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Treinador? Não, obrigado

Seguir uma carreira de treinador é uma decisão pessoal mas não quis porque conhecia demasiado bem os jogadores e sei como é o futebol. Podemos ser muito bons treinadores e não conseguir ter êxito, podemos ser mais ou menos ou mesmo maus e ter êxito. Não depende apenas de um treinador, depende de mais 30 pessoas. Por isso preferi ir para a área de gestão, que até gosto mais”, explicou o antigo atleta, de 44 anos, após especificar as características mais importantes para ter sucesso como treinador na formação e na alta competição.

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“Ser treinador na formação é um papel que tem um profundo saber: o próprio futebol de formação e os jogadores com os quais se contacta. Deve possuir caraterísticas de excelência. É o responsável direto pelo presente e futuro dos jovens que lhe são confiados. Implica ensinar e desenvolver a parte física, técnica e motora, mas também a psicológica, com os valores e os princípios que permitam conviver com a exigência. E o que deve ter para ser considerado de excelência? Conhecimento de jogo, capacidade crítica, capacidade de comunicação, carácter, defesa e motivação dos jogadores, sensibilidade e respeito. Deve procurar a formação desportiva e humana”, destacou, antes de passar para o patamar dos seniores.

“Seguir uma carreira de treinador é uma decisão pessoal mas não quis porque conhecia demasiado bem os jogadores e sei como é o futebol. Podemos ser muito bons treinadores e não conseguir ter êxito, podemos ser mais ou menos ou mesmo maus e ter êxito. Não depende apenas de um treinador, depende de mais 30 pessoas. Por isso preferi ir para a área de gestão, que até gosto mais”

“Já o treinador de alto rendimento deve ter um conhecimento profundo do desporto e capacidade de organização e planeamento para poder potenciar ao máximo os seus jogadores. Deve ter intuição, resolver problemas, aumentar os níveis de autoconfiança, ter capacidade para motivar os jogadores, saber adaptar a sua liderança às circunstâncias. O treinador de alto rendimento deve ser líder, educador, gestor, motivador, conselheiro e disciplinador. Mas aquilo que realmente distingue uns dos outros é a sede de novos conhecimentos, o esforço diário para se tornar melhor“, rematou o antigo extremo que passou por Sporting, Barcelona, Real Madrid e Inter num dia especial: “Muitos anos depois, regresso a uma casa que considero minha”.