A história de uma das lojas mais originais de Fátima começa com Walter Morales. Com 18 anos, combatia pela sua Argentina natal na Guerra das Malvinas, quando o navio ARA General Belgrano foi afundado pela Marinha britânica, a 2 de maio de 1982. Walter foi dos poucos sobreviventes. No regresso à pátria, os seus compatriotas estavam distraídos com a vitória no Mundial de 1982, a vingança servida pela “mão de Deus” na final frente a Inglaterra. O argentino refugiou-se na pintura, a melhor forma em que se expressava.

Walter casou e teve duas filhas, que herdaram do pai o talento para as artes plásticas. A primeira dedicou-se à escultura e a segunda, Daiana, estudou arquitetura de interiores. Para pagar os estudos, Daiana trabalhou em lojas de roupa, onde descobriu o gosto pela moda e pelo contacto com o público.

Já depois da morte do pai, numa viagem ao Peru, Daiana conheceu Rodrigo, um lisboeta que tinha um hostel na praia de Máncora. Apaixonaram-se e Daiana já não voltou a Buenos Aires. O casal luso-argentino era a alma do hostel, cujas cabanas tinham sido pintadas por si, e recebia os hóspedes como se fossem família. A argentina começou também a vender online algumas peças de moda que comprava no Peru.

Misfit, aquele hostel onde todos sabem o seu nome

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Rodrigo, por sua vez, tinha assentado arraiais no Peru durante uma viagem pela América do Sul. Há sete anos que vivia na praia, sem vir a Portugal. “Já nem sabia o que era calçar uns sapatos”, conta. Para matar saudades, compraram bilhetes para vir passar o Natal de 2016 a Portugal, com planos de seguirem depois para Cuba, onde pensavam abrir um hotel.

Quando chegaram a Lisboa, Daiana começou a desenhar por brincadeira, para descrever a cidade à sua maneira. Da digitalização dos desenhos surgiram os primeiros lenços Mora, que tiveram logo a aprovação dos amigos. A visita natalícia foi-se alargando por mais uns meses.

Um dos lenços desenhados em Lisboa.

É aqui que voltamos a Walter Morales e à “mão de Deus”, segundo a leitura de Daiana. Walter era muito devoto de Nossa Senhora de Fátima e levava as filhas com frequência a uma igreja que lhe é dedicada, nos arredores de Buenos Aires. Daiana na altura era pequena e não ligava muito, nem sequer sabia a história de Fátima. Mas após a morte do pai, tinha bem claro que, na primeira viagem a Portugal com o namorado, teria de ir conhecer Fátima, o local que o pai mais desejava visitar.

Quando visitou o Santuário com Rodrigo, as emoções foram, por isso, muito fortes. Disse logo ao namorado que era ali que iam ficar. Rodrigo perdeu o sono durante uns dias, não se imaginava a viver em Fátima. Mas a vontade de Daiana falou mais alto. Arranjaram casa e procuraram uma loja para expor a primeira coleção de artigos desenhados por Daiana. Assim nasceu a Mora Boutique, em vésperas do Centenário e da visita do Papa seu conterrâneo.

O nome da loja vem de Morales, o apelido paterno de Daiana. “E experimenta repetir Mora muitas vezes, o que ouves?”, pergunta. Numa terra de emoções e afetos, a alegria com que Daiana e Rodrigo recebem os clientes é meio caminho andado para o seu negócio vir a ter sucesso. Uma alegria que também transborda dos desenhos de lenços, panos, pulseiras, colares e vários outras criações, que se destacam da monotonia dos artigos religiosos tradicionais que se veem em todas as esquinas de Fátima.

Nome: Mora Boutique Shop
Morada: Rua de São José, 5 (Fátima Shopping Center, Loja 201)
Horário: 9h30-20h30
Contactos: onlinemora@gmail.com / 968 436 312
Facebook: www.facebook.com/moraboutiqueshop
Instagram: @moraboutiqueshop