O adjetivo que é mais comum associar ou ver associado ao restaurante Vela Latina é “clássico”. O mesmo adjetivo, aliás, que até há muito pouco tempo se podia ler na ementa, à frente de cada uma das históricas especialidades da casa: os filetes de pescada, os rolinhos de linguado com gambas, a cataplana rica do mar, o arroz de coentros com lagosta, a salada de lavagante fresco ou os fígados de aves em tarte de maçãs. Mas há outro que se podia/devia juntar à associação: “pioneiro”.

A histórica sala privada do Vela Latina. Mais clássico era impossível.
(foto: © Divulgação)

Em 1988, ano da abertura, “o Vela Latina era o único restaurante junto ao rio entre o Cais do Sodré e Paço de Arcos“, aponta Salvador Machaz, filho do fundador da casa e um dos atuais sócios. Não admira, por isso, que rapidamente se tenha tornado num dos espaços de referência de Lisboa, sobretudo para uma certa elite adepta não apenas da localização e da cozinha mas também da respetiva sala privada, onde se terão, certamente, discutido assuntos prementes da nação.

Mas os anos foram passando, a cidade ganhou novos pontos de atração e, apesar de alguns liftings aqui e acolá, o peso da idade começou a notar-se. Daí surgiu, naturalmente, a necessidade de uma renovação total. E é aqui que entram na história — e no projeto — Jorge e Viviane Leote, um casal com provas dadas na restauração, que desde há cerca de ano e meio se tornaram sócios de Salvador, de quem já eram amigos.

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O Waka abriu há pouco mais de um ano em Cascais. A carta foi recentemente renovada para marcar o aniversário.
(foto: © Divulgação)

Em 2008, Jorge e Viviane fundaram o Confraria, um pequeno restaurante de sushi em Cascais que entretanto se estendeu a Lisboa em dose dupla — primeiro no piso térreo do LX Boutique Hotel, no Cais do Sodré, e depois no vizinho Mercado da Ribeira. No ano passado, juntaram a esse portfólio o Waka, um pequeno restaurante peruano, de cozinha nikkei, ou seja, a que é influenciada pela comunidade de imigrantes japoneses no Peru. E não foi por acaso: a abertura deste último espaço, também em Cascais, foi feita já na perspetiva de testar o conceito pensado para o bar do Vela Latina, precisamente um restaurante com esse tipo de cozinha, que viesse acrescentar algo à oferta existente.

“Quando falámos em levar um novo conceito para aquele espaço, a nossa ideia inicial até começou por juntar sushi e ceviche. Mas depois chegámos à conclusão que o ideal seria uma cozinha nikkei, por ser algo cada vez mais procurado”, explica Jorge Leote. Nasceu assim o projeto do Nikkei, o restaurante que ocupará, a partir de meados de julho, o antigo bar do Vela Latina. Faz tudo parte de uma renovação em larga escala que obrigou ao encerramento temporário da casa, cuja oferta principal se irá manter.

Uma projeção em três dimensões do que será o futuro Nikkei, no antigo bar do Vela Latina.
(foto: © Divulgação)

“O restaurante tinha espaço a mais, estava desajustado. Vamos retirar a porta giratória, tornar os vidros mais transparentes para dar maior ligação ao exterior, a receção vai passar a ser o bar e o bar passa a ser o Nikkei. Vamos investir muito no som e no ambiente”, explica Salvador Machaz. No meio de todas estas mudanças, há algo que não mexe: a cozinha do Vela Latina continuará a cargo de Benjamin Vilaças, o chefe de longa data. Com as especialidades de sempre. “Queremos apenas melhorar o empratamento, tornar tudo mais democrático, mais descontraído“, acrescenta Jorge Leote.

A imagem do Nikkei também já está pronta. O restaurante deve abrir em meados de julho.

Já a oferta do novo restaurante será baseada naquilo que se serve no Waka. Mas não só. “Estamos a usar apenas 10% dos sabores que queremos vir a usar no Nikkei. Por exemplo, no Waka servimos três ceviches, mas no Nikkei queremos ter pelo menos sete”, avança Viviane. Para celebrar o recente primeiro aniversário do restaurante de Cascais, a carta foi renovada, com a introdução de alguns pratos novos, de autoria dos chefes peruanos Cesar Toledo e Maurício Gualta. É o caso dos cevichipo chips (5,90€), que mais não são que ceviche de peixe branco sobre chips de batata doce, o udon de camarão (12,90€) ou os risottos de quinoa de camarão ou salmão (11,90€). Não faltam, também, os típicos tiraditos nem as causitas, servidas no formato habitual de sushi mas onde o arroz é substituído por batata. Os próprios uramakis têm, nalguns casos, um toque peruano, como é o caso do acevichado (9,90€ – 10 unidades), servido com molho de ceviche.

Tiradito de polvo (8,90€), servido com molho de miso doce.
(foto: © Divulgação)

Os responsáveis esperam que o Vela Latina possa reabrir a 1 de julho. Já o Nikkei deverá demorar mais uns a 15 a 20 dias do que isso, já que “a cozinha está a ser montada de raiz”, justifica Jorge. Quando estiver tudo pronto, o espaço passará a contar com também com duas esplanadas, uma para cada restaurante — a do Nikkei virada para o jardim da Torre de Belém e a do Vela Latina virada para a Marina, com vista para ponte sobre o Tejo e para o Cristo-Rei. Mas não é tudo: também há também um terceiro parceiro na calha, que terá direito a esplanada própria. O anúncio estará para breve. Tal como a comida. Até lá, nada como ir treinando o paladar no Waka.