Guarde este número – Processo de inquérito n.º 15 2016/17. O assunto não adianta muito: “Procedimento disciplinar instaurado no âmbito das competições desportivas profissionais”. O resto explica tudo. “Instaurado processo de inquérito, por decisão do presidente do Conselho de Disciplina, de 8 de junho de 2017, tendo por base declarações e notícias relacionadas com denúncias de eventuais atos de corrupção. O processo será enviado, hoje, à Comissão de Instrutores da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, mantendo-se em segredo até ao fim do inquérito”.
Sem nunca se falar nos nomes dos clubes nem do fundamento das declarações, o Conselho de Disciplina abriu esta quinta-feira um inquérito sobre o alegado esquema de corrupção de árbitros para favorecimento do Benfica denunciado por Francisco J. Marques, diretor de comunicação do FC Porto, no programa Universo Porto de Bancada da passada terça-feira, onde leu emails trocados entre o ex-árbitro Adão Mendes e o diretor de conteúdos da BTV, Pedro Guerra, na temporada 2013/14.
As quatro acusações do FC Porto ao Benfica nos últimos dois meses
Das quatro acusações do FC Porto ao Benfica feitas desde o início de abril, três passíveis de averiguação, esta é a primeira vez em que o Conselho de Disciplina abre um inquérito disciplinar. O alegado apoio ilegal dos encarnados às suas claques e o suposto condicionamento ao presidente da APAF, Luciano Gonçalves, passaram ao lado.
O que se passou desde a denúncia em 36 horas?
Após a denúncia de Francisco J. Marques, por volta das 23 horas, no Porto Canal, ninguém tem passado ao lado do teor das palavras que estavam escritas nos emails lidos pelo diretor de comunicação dos dragões. Logo na altura, o responsável acrescentou também que estaria disposto a dar toda a documentação às entidades.
Benfica avança com processo-crime contra diretor de comunicação do FC Porto
O Benfica, até por ser parte envolvida, foi a primeira parte a reagir. Logo no dia, considerou a denúncia de um alegado esquema de corrupção de árbitros para favorecimento das águias “um absurdo”. Na quarta-feira de manhã, o clube emitiu um comunicado onde reforçava a ideia e avançava com um processo-crime contra Francisco J. Marques. “O Sport Lisboa e Benfica repudia e desmente de forma veemente as falsas e absurdas insinuações do diretor de comunicação do FCP e avançará com o correspondente processo-crime por difamação e outros processos que se justifiquem. Considerando que mais não visam do que desviar as atenções da crise e graves problemas por que passam outras instituições“, destacava a missiva dos encarnados.
Mais tarde, o Ministério Público confirmou também que já tinha aberto um inquérito à troca de emails denunciada terça-feira à noite no Porto Canal, encaminhando uma denúncia anónima do caso que tinha surgido para o Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa.
Associação de árbitros desafia FC Porto a revelar dados sobre acusações de corrupção
À noite, foi a vez da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF) emitir um comunicado assinado pelo seu presidente, Luciano Gonçalves. “As declarações feitas são graves e não devem deixar de ser analisadas e investigadas desde a sua veracidade à intencionalidade, para bem da transparência do futebol. A APAF, tal como em casos anteriores, quer o prestígio da classe e do futebol e, para tal, irá tomar as ações e diligências necessárias para apuramento da verdade e não poderá deixar uma vez mais cair por terra, mais este episódio detrator do nosso futebol. Se existe alguma veracidade nas graves acusações que fazem, devem para bem do futebol, apresentar esses dados as instâncias competentes, Polícia Judiciária e Ministério Público; se é apenas mais uma diversão, então condene-se e penalize-se estes comportamentos de uma vez por todas”, defendeu.
“Chega de ‘achincalhar’ a arbitragem, é incalculável o prejuízo destes comportamentos para a formação da arbitragem e do futebol. Iremos apresentar queixa das referidas declarações, afim de se provarem a sua veracidade. A APAF e os árbitros estão disponíveis como sempre tiveram para ajudar nas diligências que as autoridades competentes achem adequadas. Mas não contem com a arbitragem para este circo”, concluiu.