“Queria agradecer publicamente ao Precário Guerra estar a confirmar tudo o que revelei no Porto Canal. Muito obrigado, vemo-nos na terça”, escreveu Francisco J. Marques (com um emoji gozão de língua de fora e a piscar o olho no fim), diretor de comunicação do FC Porto, no passado domingo, após uma série de outros tweets enquanto Pedro Guerra comentava pela primeira vez, no programa “Prolongamento” da TVI24, a alegada troca de emails com o ex-árbitro Adão Mendes, que tinha sido divulgada no programa Universo Porto de Bancada, do Porto Canal, na semana passada. Agora, o ataque continuou. E surgiram mais revelações esta terça-feira à noite.
Queria agradecer publicamente ao Precário Guerra estar a confirmar tudo o que revelei no Porto Canal. Muito obrigado, vemo-nos na terça ????
— Francisco J. Marques (@FranciscoMarkes) June 11, 2017
O programa desta noite, que abordou a contratação de Sérgio Conceição na parte inicial, começou com um esclarecimento do jornalista Tiago Girão que o Porto Canal, através do seu diretor, tinha enviado um convite a Adão Mendes e Pedro Guerra na passada sexta-feira para estarem presentes no programa Universo Porto de Bancada, em data que fosse mais conveniente, sem qualquer resposta até agora. Depois, começou o resto, que já tinha sido introduzido em rodapé: “Daqui a pouco, novas revelações”.
Ainda com esperança que Pedro Guerra e Adão Mendes aceitem o convite…
— Francisco J. Marques (@FranciscoMarkes) June 13, 2017
“Durante uma semana, os visados, Adão Mendes e Pedro Guerra, não foram capazes de dizer o que fosse sobre o conteúdo dos emails. O Benfica foi passando a ideia que Pedro Guerra era um simples colaborador, quando tinha um email do clube, a terminar em slbenfica.pt, e que o senhor Adão Mendes andava afastado do futebol há 30 anos. Que não é verdade: tem uma ligação umbilical ao futebol e ao Benfica“, defendeu Francisco J. Marques, para quem Pedro Guerra “não tem legitimidade moral” para falar sobre a divulgação de emails, “que foram apresentados porque está em causa o interesse público”. “É uma investigação do Porto Canal, não comete nenhum crime e divulga o que é de interesse público”, frisou, antes de revelar mais emails datados de 2014 e do ano passado, desta vez entre o antigo árbitro Adão Mendes e Paulo Gonçalves, assessor jurídico do Benfica.
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Os emails entre Adão Mendes e Paulo Gonçalves
“Vou ler um email que na quinta-feira, 9 de outubro de 2014, Adão Mendes enviou. ‘O nosso amigo Manuel Mota recorreu da nota negativa no jogo Marítimo-V. Guimarães, ao ter marcado uma grande penalidade a favor do V. Guimarães que o observador da Madeira alega ser mal marcada. Vi imagens e o Manuel Mota tem razão. Temos de lhe dar nota positiva. Ele e eu apelamos ao doutor. Sobre o Renato [filho que também é árbitro], o Vítor Pereira nada disse até hoje, já o puseram na jarra tal como ao Manuel Mota. Abraço, não podemos dormir. Vem aí o esfolar do cabrito”, leu Francisco J. Marques sobre essa suposta troca de emails com Paulo Gonçalves, assessor jurídico dos encarnados: “Enviou para o Paulo Gonçalves. Toda a gente sabe quem é, ou será que não tem nada a ver com o Benfica? Não, é muito importante esteve, ainda agora, na Assembleia Geral da Liga. Tem responsabilidades no Benfica, muito grandes e muito fortes. Trabalha na dependência direta do presidente [do Benfica] e da administração da SAD. No email de resposta diz: ‘Caro amigo, obrigado pela informação. Abraço forte'”.
“Na terça-feira, 23 de setembro, um pouco antes, Adão Mendes tinha enviado um email a Paulo Gonçalves, o que demonstra que não era um caso isolado. ‘Anexo três documentos que explicam o que preciso de si. Peço que ponha toda a carne no assador, como eu a ponho todos os dias por nós. Se precisar algo mais diga, via email ou telefone. Caso indefiram preciso de recurso para o Conselho de Justiça. Sei que consigo vamos ganhar’. Isto vem na sequência de uma avaliação ao filho, que é árbitro. E o Paulo Gonçalves responde: ‘Amanhã de manhã tentarei explicar pessoalmente a razão que assiste ao árbitro e a incongruência e falta de fundamento para a não aceitação do DVD como vai ser apresentado. Se depender de mim…’. Mas a quem vai tentar explicar pessoalmente isto? Qual é a influência? Tem de explicar”, prosseguiu Francisco J. Marques, ainda com emails sobre os mesmos intervenientes.
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“Mas há mais. ‘Em anexo remeto relatório do observador, onde se pode ler que davam um 3.7 se não fosse o tal lance da grande penalidade. Oportunamente vou enviar o vídeo do jogo para verificar o erro em apreciação’. E Paulo Gonçalves responde outra vez: ‘Este foi o documento que foi entregue em mão hoje de manhã’. Mas que documento é este? E entregou em mão a quem? A 29 de setembro, Adão Mendes diz: ‘A Comissão de Análise e Recurso rejeitou novamente o recurso do Renato. Considera ter recurso para o Conselho de Justiça da Federação? Está em condições de assumir isso? As custas são da minha responsabilidade. Entretanto, enviei recurso para o presidente do Conselho de Arbitragem, Vítor Pereira, e para o plenário do Conselho de Arbitragem. O Vítor Pereira pode ser solução antes do recurso?’. Resposta do Paulo Gonçalves: ‘Não posso patrocinar o recurso para o Conselho de Justiça. Dominando a regulamentação desportiva relacionada com a arbitragem, e próxima do CA [Conselho de Arbitragem], tem a doutora Isabel Cunha. Ela é próxima do Paulo Costa, o que não sei se para si é impedimento. Vou pensar melhor, fazer uns contactos e amanhã falamos'”, prosseguiu o diretor de comunicação do FC Porto.
‘Candidatos a árbitros assistentes na Liga, exames a 11 e 12 de julho, em Rio Maior. Por esta ordem, estes são os melhores e nada pode falhar’. O que é isto? Que vigarice é esta? Que cambalachos são estes?”, questionou Francisco J. Marques
“O Adão Mendes volta a mandar um email: ‘Eu e a doutora Isabel Costa somos amigos, a questão é ser o glorioso a apadrinhar a questão e não alguns anti-Cristos. Temos de ganhar isto e eu sei que se o doutor puser a carne toda ganhamos. O chefe está comigo’. Aqui, o chefe é o primeiro-ministro. E não é o António Costa [referindo-se a Luís Filipe Vieira]. Depois, há um email enigmático do Adão Mendes, de terça-feira, 30 de setembro. ‘Meu caro, o Vítor Pereira já respondeu ao recurso do Renato e alegou que vai levar o caso ao plenário, era a altura de o…’. Resposta do Paulo Gonçalves: ‘Vamos então…’. Façam o favor de explicar publicamente o que é isto. Isto é comprometedor para o Paulo Gonçalves e para o Benfica. Mas há mais um pormenor: no dia 6 de julho de 2016, o Adão Mendes enviou um email a Paulo Gonçalves, o que mostra que isto é uma relação que perdura no tempo. ‘Junto envio lista dos melhores candidatos assistentes. Força nisso e cuidado, teste escrito’. O que tem? ‘Candidatos a árbitros assistentes na Liga, exames a 11 e 12 de julho, em Rio Maior. 1.º) Bruno Miguel Alves de Jesus, Lisboa. 2.º) Renato Manuel Fernandes Mendes, Braga. 3.º) José Pedro Morgado Laranjeira, Coimbra. 4.º) João Viegas Jacob, Setúbal. 5.º) Carlos Alberto Fernandes Dias, Porto. Por esta ordem, estes são os melhores e nada pode falhar’. O que é isto? Que vigarice é esta? Que cambalachos são estes?”, questionou Francisco J. Marques. “O Benfica está implicado num esquema que envolve arbitragem, um esquema que adultera a verdade desportiva”, salientou.
Os emails entre Nuno Cabral e Paulo Gonçalves
Mais tarde, Francisco J. Marques revelou emails trocados entre Nuno Cabral, delegado da Liga na altura, e Paulo Gonçalves. “Mas será que o Adão Mendes é um caso isolado e criou-se aqui uma circunstância? Não!”.
“Estes emails são trocados entre Paulo Gonçalves e Nuno Cabral, que é um Adão Mendes da nova vaga. Era um árbitro de qualidade duvidosa de Vila Real, pelos vistos ia para os cursos de arbitragem saber quem era do Benfica, do Sporting e do FC Porto para depois comunicar ao Benfica, e isto foi-me dito por árbitros, e à data destes emails era delegado da Liga. Hoje em dia, no Facebook dele, diz que trabalha para a Federação”, começou por dizer.
Isto é o polvo, Nuno Cabral é outro Adão Mendes. E os árbitros acabam por ser umas marionetas nas mãos das pessoas que trabalham para o Benfica”, disse o diretor de comunicação do FC Porto
“Na sexta-feira, 31 de março de 2014, enviou um email para Luís Filipe Vieira e para Paulo Gonçalves. ‘Caríssimo presidente e doutor Paulo, para vosso conhecimento e análise’. Não temos os anexos, não sabemos o que mandou. Nesse dia, Paulo Gonçalves responde: ‘Bom trabalho, excelente’. Não faço ideia do que seria, não temos os anexos. 14 minutos depois, o Nuno Cabral responde só já para o Paulo Gonçalves: ‘Obrigado amigo doutor. Apenas quero ser um menino querido para vocês e fazer bem o meu trabalho. E que o homem confie em mim como o doutor’. Acho que o homem é o primeiro-ministro, não há outra interpretação possível”, destacou Francisco J. Marques.
“Ele era delegado da Liga, na altura dos emails. Num outro email, é especialmente grave. Foi enviado no dia 23 de junho de 2014. Nuno Cabral enviou o seguinte para Paulo Gonçalves a seguinte mensagem: ‘Destes 15, vão 12 a estágio para o próximo ano’. O que são estes 15? Os árbitros de segunda categoria que poderiam passar à primeira categoria. Mas como? Reencaminha de uma outra mensagem, que era o árbitro João Pinheiro. Na altura era um árbitro que era de nível III ainda. O que é isto? É muito grave. Nuno Cabral, aproveitando-se do facto de ser um ex-árbitro, convenceu alguém para lhe enviar aquilo. Para não se destruir a carreira de um árbitro, agora é preciso ir ouvir o João Pinheiro, o Nuno Cabral e o Paulo Gonçalves e castigar os responsáveis. E aparentemente o menos culpado é o João Pinheiro. Isto é o polvo, Nuno Cabral é outro Adão Mendes. E os árbitros acabam por ser umas marionetas nas mãos das pessoas que trabalham para o Benfica”, acusou o responsável portista.
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O email entre Paulo Gonçalves e Mário Figueiredo
Mais tarde, Francisco J. Marques acusou o antigo presidente da Liga, Mário Figueiredo, de ser subserviente face às vontade dos responsáveis do Benfica, apoiando essa ideia em mais uma troca de emails que começou por ser apenas entre Nuno Cabral e Paulo Gonçalves antes de chegar ao antigo líder da Liga.
“O Nuno Cabral, que era delegado da Liga, no dia 29 de janeiro de 2014, enviou um email a Paulo Gonçalves a dizer assim: Três dos delegados dos jogos da polémica da Taça da Liga estão nomeados, sou o único delegado até ao momento que não fiz Primeira Liga’. O Paulo Gonçalves leu o email, pega no email e envia para o Mário Figueiredo, à época presidente da Liga: ‘Mário, a ser verdade será que o homem é feio ou incompetente? É o único delegado que ainda não fez Primeira Liga e já foi nomeado 11 vezes para Chaves. Qualquer dia vai ser treinador do Desp. Chaves’. O Mário Figueiredo responde: ‘Paulo, só tu para me fazeres sorrir um bocado. Ele está pronto? Vem fazer aqui um jogo ao Porto, só tens de dizer. Um abraço’. Só que tens de dizer, é muito bom… Esta era a Liga do senhor Mário Figueiredo, dizia ‘só tens de dizer’. A subserviência…”, leu.
O email entre Mário Figueiredo e Luís Filipe Vieira
Por fim, o diretor de comunicação do FC Porto leu aquela que alegadamente foi uma correspondência entre o presidente da Liga e o líder do Benfica, Luís Filipe Vieira, também no final dessa época de 2013/14.
“No dia 2 de abril de 2014, o Mário Figueiredo envia um email para Luís Filipe Vieira. ‘Caro Luís, seguem em anexo as declarações feitas pelo António Salvador a seguir ao jogo com o Rio Ave. Ouve bem, por favor. Não fala em roubo nem faz acusações genéricas. Por favor, tem calma porque sempre estive e tenho estado do teu lado. Um abraço’. O presidente da Liga é que está ao lado do presidente do clube, ou são os presidentes dos clubes que estão ao lado do presidente da Liga? Subserviência, mais uma vez. E Luís Filipe Vieira respondeu ao estilo dele: ‘Ainda me querem fazer de atrasado mental’. É uma vergonha, isto é o futebol português em 2017, comandado, telecomandado e orquestrado pelo Benfica, por mais não sei quantas pessoas que não sabemos e que andam aí espalhadas ao serviço do Benfica para fazerem estes joguinhos, estas vigarices, estes esquemas. Tudo anti-regulamentar”, rematou.
A primeira reação do Benfica às acusações do FC Porto
Em declarações ao jornal O Jogo, logo após o final do programa, uma fonte oficial do Benfica considerou tudo o que foi dito no programa Universo Porto de Bancada de “totalmente irrelevante”, ao mesmo tempo que voltou a realçar os atos ilícitos praticados. “Voltaram a ser cometidos vários crimes no Porto Canal. O FC Porto vai ter de responder na Justiça. E são os mais variados crimes. Crime informático, falsificação, etc…”, assegurou.