Pedro Guerra, agora diretor de conteúdos da BTV e comentador televisivo (“em 2013 era apenas colaborador do jornal Benfica e da BTV”, esclareceu), esperou até à edição seguinte do programa “Prolongamento” da TVI24 para reagir, pela primeira vez, às acusações de “esquema de corrupção de árbitros” para favorecimento do Benfica feitas pelo diretor de comunicação do FC Porto, Francisco J. Marques. Que, devido aos Santos Populares, passou de segunda-feira para domingo. E com mais um “picante”: na passada sexta-feira, tinha sido criticado por alguns adeptos encarnados no jogo final do playoff de basquetebol e na Assembleia Geral do clube. O palco, digamos assim, era seu. Mas que acabou por ficar dividido com um interveniente surpresa: o antigo árbitro madeirense Marco Ferreira, que terminou em 2015 a carreira após ter sido despromovido.

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Antes, preparámos o programa com a outra figura que tem estado no epicentro deste caso: Adão Mendes. Depois de termos feito um pequeno perfil sobre o antigo árbitro e sindicalista de Braga, recuperámos uma entrevista concedida à revista Sim, a revista do Minho, em 2008. “Clube? Quando há um Braga-Guimarães, Deus queira que empatem. Ou se a vitória serve um, que ganhe o melhor. Também gosto da Académica. Os ‘três grandes’ são o que pior faz ao futebol”. Quatro anos depois, o teor dos emails trocados com Pedro Guerra, a serem verdadeiros, indiciavam uma aparente inversão nesta linha de pensamento. Mas, até hoje, o ex-árbitro ainda não se pronunciou.

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A defesa de Pedro Guerra a toda a polémica…

“Quero agradecer a muita gente que não conheço e que tem sido solidária. Porque as pessoas entendem que há uma grande mentira. Isto foi um embuste criado para desviar atenções da crise desportiva e financeira“, começou por defender Pedro Guerra, que em pouco mais de sete minutos comentou sobre a troca de emails com Adão Mendes.

Não sei se é uma montagem mas é uma grande mentira, uma calúnia. Diria mais: é uma canalhice. E só um canalha se pode lembrar de montar isto. Não há corrupção nenhuma e quem lançou isto vai ter de responder. Sei os princípios do Benfica e isto não é a sua conduta. E sei que a arbitragem portuguesa é isenta e imparcial. Este caminho tem de ser travado e a minha esperança é que o presidente da Liga, Pedro Proença, chame o presidente do FC Porto, que é o responsável por esta ‘inventona’, e o chame à razão. Sinto-me envolto numa vergonhosa cabala. Isto é falso, é tudo mentira. Foi feito com consciência criminosa e gravíssima sobre o Benfica e a arbitragem portuguesa, como já foi feito pelo presidente do Sporting em relação a 36 árbitros , 72 assistentes e 34 observadores, dizendo que se vendiam com os chamados ‘vouchers’ e confirmou-se que era falso. Agora temos uma segunda frente com oito árbitros que estariam ao serviço do Benfica”, salientou antes de ir direto ao assunto.

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Conheço [Adão Mendes] mas não é da minha intimidade. A ideia que tenho é que o conheci numa Taça de Portugal ingloriamente perdida, em 2013. Até me parece que é sócio do V. Guimarães. Sinceramente, não me lembro de ter trocado estes emails, não me lembro mesmo. Não digo que não existiu. Mas não me lembro”, explicou, antes de, mais tarde, voltar à carga sobre a alegada estratégia do FC Porto para esconder os problemas financeiros. “Se a troca de emails tivesse sido feita pelo FC Porto? Diria que não tinha relevância nenhuma, como não tem. Estamos a falar de corrupção, não é brincadeira”, destacou, defendendo ainda que os árbitros deveriam recusar-se a dirigir encontros dos dragões por “falta de condições”.

… o ataque de Marco Ferreira via telefone…

A certa altura, Sousa Martins, apresentador do “Prolongamento”, chamou à conversa Marco Ferreira, que estava ao telefone. “Queria inicialmente desejar boa noite a todo o painel”, começou. “Boa noite”, ouviu-se no estúdio, vindo de Pedro Guerra. Tudo calmo, sereno. Até que o antigo árbitro, que deixou o futebol em 2015 depois de ter apitado a final da Taça de Portugal (Sporting-Sp. Braga) e terminar a temporada em lugar de descida de divisão.

“Estes emails dizem que há indício de algo. Isto terá sido em 2013, foi na época antes de ter descido de divisão sem que ninguém tenha percebido. Se calhar não me portei bem e fui punido. Até pedi uma reunião com o Luís Filipe Vieira, através de uma pessoa, para saber qual era a sua opinião sobre mim, e disseram que nada tinham feito para a minha descida”, assegurou o madeirense. “Agora estou curioso por saber se há outros emails e se o meu nome aparece como não estando bem visto pelo Benfica…”, prosseguiu.

O tom da conversa mudou então de figura, tornando-se num bate-boca entre Pedro Guerra, que não gostou daquilo que Marco Ferreira teria insinuado, e o árbitro madeirense. Que, curiosamente, tinha feito uma publicação no Facebook após a denúncia de Francisco J. Marques, mais tarde apagada. “As pessoas que me ameaçam de morte, que dizem etc. são todos benfiquistas e não consigo entender. Se não há nada, deixem a justiça atuar”, rematou.

… e o humor de Francisco J. Marques no Twitter

Durante o programa, Francisco J. Marques, diretor de comunicação do FC Porto, foi deixando várias mensagens no Twitter utilizando o humor para tentar responder às afirmações de Pedro Guerra. Humor menos uma: “Mais um que vai ter de demonstrar em tribunal que eu disse ou escrevi que o Apito Dourado nunca existiu”.

“Fumei mas não inalei”, “É mentira. Bem, não me lembro, mas é mentira. E se for verdade é mentira. You know what I mean” e “Pronto, eu sou canalha porque o outro não segue as instruções. “Apague tudo”, bastava isso e eu já não era canalha. Mundo injusto este…” foram as três primeiras publicações depois de terminar com a promessa de mais novidades na próxima terça-feira, provavelmente no programa Universo Porto de Banca, no Porto Canal: “Queria agradecer publicamente ao Precário Guerra estar a confirmar tudo o que revelei no Porto Canal. Muito obrigado, vemo-nos na terça”.