Sempre que havia um Open Day público nas obras do novo pavilhão do Sporting, os responsáveis tinham sempre a preocupação de munir todas as pessoas de capacete e colete refletor, nem que fosse logo no início, ainda longe do coração da infraestrutura. São regras, normas de segurança. Mas nem sempre foi assim e, há 40 anos, quando nasceu o primeiro pavilhão do clube (e único, além da Nave no antigo estádio José Alvalade), os sócios e adeptos verde e brancos foram convocados para ajudar os operários nos tempos vagos.
Ainda assim, houve pontos de contacto. Por exemplo, a campanha para recolher donativos para a edificação da obra. No dia em que os leões inauguram o novo recinto, aqui ficam dez curiosidades de como se construía um pavilhão há quatro décadas, bem como as principais notas do primeiro jogo oficial realizado frente ao Real Madrid.
A Assembleia Geral que fez toda a diferença
O Sporting nomeava os seus presidentes através do Conselho Leonino nos anos 70, mas os “eleitos” não tinham vida fácil para aprovar operações que tivessem elevados valores. Por isso, e em dezembro de 1975, João Rocha convocou uma Assembleia Geral Extraordinária para fazer aprovar o projeto do novo pavilhão. “Sem estas estruturas, o clube falta a si próprio e não terá a projeção, interna e externamente, que se lhe exige e com que todos sonhamos”, defendeu o líder verde e branco, queixando-se também do dinheiro que era gasto em alugueres de pavilhão, como o Pavilhão dos Desportos, para as equipas de basquetebol, hóquei em patins e andebol.
Os Três Irmãos e o Grande Pavilhão
João Rocha tinha um pouco aquela ideia de que, quando era para fazer alguma coisa, era mesmo a sério. E assim nasceu um projeto nunca antes visto no país: o desenho original apontava para dois pavilhões para camadas jovens e treinos das equipas seniores, um maior com capacidade para 3.000 espetadores para os jogos das principais formações das diferentes modalidades e um multiusos com mais de 6.000 lugares que pudesse albergar outro tipo de eventos (na altura era falado para receber o Mundial de andebol). Eram os Três Irmãos e o Grande Pavilhão, com um custo total de 30 mil contos, uma fortuna na altura.
Quem quer dar serventia aos pedreiros?
Após a aprovação da obra, o Sporting pediu a todos os seus sócios, adeptos e simpatizantes ajuda para a execução da mesma nas horas livres, sobretudo ao fim-de-semana, deixando um desafio: “Quem está disposto a dar serventia aos pedreiros?”. E para “motivar” as tropas, João Rocha deu o exemplo, sendo célebre a imagem onde surge com uma picareta na mão no local dos trabalhos.
A Campanha Pró-Pavilhão
Além da mão de obra possível, o clube abriu também uma coleta para que todos os interessados pudessem contribuir para a edificação das novas casas para as modalidades, apelando até a que se fizessem tertúlias e encontros entre pessoas do Sporting para que, no final, se juntassem fundos que ajudassem à obra. “Os sportinguistas não podem esperar que o pavilhão caia do céu”, defendia o jornal do clube nessa altura. Foram recolhidos alguns milhares de contos.
Da inflação ao “salário João Rocha”
Outra das fontes de receita previstas dizia respeito à venda de lugares cativos por dez anos, algo que era normal aquando das inaugurações dos grandes recintos desportivos. No entanto, e quando estavam próximos de esgotar, quis a direção do Sporting cancelar a iniciativa face à inflação monetária que varria o país e que acabaria por não compensar em termos financeiros ao clube. No entanto, muitos dos que tinham comprado não quiseram que os leões lhes devolvessem o dinheiro e doaram a verba como “salário João Rocha”.
Um pavilhão em 64 dias? Nem nos melhores sonhos
A construção dos primeiros dois pavilhões, que entretanto ganharam o nome de Gémeos, revitalizou os cofres leoninos (porque deixariam de pagar aluguer de outros recintos para treinos e jogos) e a própria alma verde e branca. Tanto que, a 31 de março de 1976, foi lançado o desafio para se construir o Terceiro Irmão em 64 dias, a tempo de poder receber ainda uma meia-final europeia de hóquei em patins. A tarefa mostrou-se impossível mas a obra nasceu mesmo, com um número de espetadores bem acima dos 3.000 inicialmente referidos.
https://www.youtube.com/watch?v=ZodYS514A_k&t=90s
Como o Grande Pavilhão não passou do papel
João Rocha tinha o sonho de construir uma verdadeira cidade desportiva em Alvalade mas, a certo ponto, teve de colocar um travão no projeto inicial, acabando por deixar cair o Grande Pavilhão que seria o primeiro multiusos do país. Razão? Apenas 13% contribuíram com donativos para a obra, algo que foi interpretado como um sinal de que o que existia já parecia ser suficiente.
Uma derrota pesada no encontro de estreia
O primeiro jogo oficial realizado no Pavilhão de Alvalade era relativo à primeira jornada da Taça dos Clubes Campeões Europeus de basquetebol e tinha como adversário o Real Madrid, uma das melhores equipas dessa altura. E apesar de Quim Zé ter ficado na história como o primeiro jogador a pontuar no recinto, o Sporting sofreu uma pesada (e esperada) derrota por 138-80.
O problema de andamento… e das regras
O Sporting sofreria seis derrotas em seis jogos na Taça dos Clubes Campeões Europeus de basquetebol desse ano, tendo apenas dado luta no último, frente ao Cinzano (95-92). Havia uma diferença notória de andamento, que fazia com que as segundas partes fossem em queda livre. Mas esse encontro com o Real Madrid (de que não há imagens, ao contrário da partida com o Cinzano), que era campeão mundial, teve outra particularidade: os leões foram obrigados a jogar pelas regras europeias, que eram diferentes das nacionais.
A primeira bola de jogo que foi sorteada
Os cerca de 4.500 espetadores que assistiram ao primeiro encontro no novo pavilhão não saíram de mãos a abanar: o bilhete número 4.090 foi premiado com a bola de jogo, devidamente assinada por todos os jogadores que fizeram parte do encontro incluindo os do Real Madrid.