Com quantos nós se faz macramé? Bem, se contarmos só com os básicos, são quatro. Depois, é repetir, misturar, entrelaçar e sobrepor sem grandes limitações. Nos últimos anos a moda voltou, primeiro à boleia das tendências de decoração ao estilo boho, com peças semelhantes a pequenos estandartes para pendurar na parede, depois com acessórios de moda. O macramé entrou diretamente nos catálogos de casas de sonho e com ele a vontade de aprender a técnica.

“Estava a decorar a minha nova casa. Tinha muitas madeiras, branco, tudo ao estilo nórdico. Já tinha visto algumas peças e disse à minha mãe que adorava ter uma no quarto. Ela nunca tinha feito macramé, mas mostrei-lhe o que era e, passados dois dias, tinha a peça que queria”, conta Sol Marques, que a partir daí começou a pensar em desafiar a mãe, Emília Cabrita, a criar uma marca. No verão do ano passado, já o plano estava em marcha. Foram noitadas consecutivas a fazer e desmanchar, a aprender através de tentativa e erro. No fim de 2016, a Cramet estava cá fora para vender peças feitas a quatro mãos.

As peças em fio preto são cada vez mais procuradas pelos clientes da Cramet. ©Divulgação

Tudo se altera, tudo se encomenda. Nas peças, varia o tamanho, a espessura e a cor do fio e os nós utilizados. Só não muda a proveniência dos galhos e paus utilizados. Vêm todos da quinta do avô de Sol e são lixados e tratados pelos mesmos dedos que manipulam os fios.

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O macramé não nasceu ontem

“Há seis anos, ninguém sabia bem o que era macramé”, completa a empresária que, aos 26 anos, continua a dividir o tempo entre o trabalho como designer e o próprio negócio. E sim, por cá é bem possível que, há meia dúzia de anos, a técnica passasse despercebida. Mas o macramé tem história e, na Europa, começa precisamente na Península Ibérica, no século XIII, onde foi introduzido por artesãos árabes. Na origem da palavra que hoje usamos está “migramah”, que é como quem diz “franja decorativa”. Hoje, macramé quer dizer nó.

A bíblia do macramé

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“Este tipo de trabalho fino não é propriamente uma novidade, a não ser no sentido em que, por ser antigo, foi esquecido e quando volta é como se aparecesse pela primeira vez. É uma renda bonita e eficaz, de pouca dificuldade para quem a faz, e útil para várias finalidades.”

Prefácio de "Sylvia's Book of Macramé Lace", edição de 1890

Foi artesanato de marinheiros europeus e, no final do século XVII a moda rebentou na corte britânica, moldada pelo gosto da rainha Maria II. Mas o grande fenómeno chegaria décadas mais tarde, em plena era vitoriana. O macramé passou a ser um dos labores mais populares entre as donas de casa inglesas e o Sylvia’s Book of Macramé Lace tornou-se o mais conhecido manual da época. Mas não ficou por aí. Nos anos 60, a cultura hippie desenterrou-o. Fizeram-se pulseiras, acessórios para os pés e malas à tiracolo. Foi tudo usado até mais não e, depois disso, o macramé voltou a sair de cena.

Coisa mais kitsch não há

Hoje, os manuais continuam a fazer do macramé uma técnica ao alcance dos autodidatas. Vasco Águas, de Lisboa, ficou com as bases logo no 5º e no 6º ano. Quando, já adulto, se aborreceu, retomou os nós como passatempo. Aí, valeram-lhe os livros e tutoriais no YouTube. “Já me tinha apercebido deste revivalismo através do Pinterest. Mas quando comecei a fazer e a pesquisar é que me dei conta da força que o macramé estava a ganhar”, afirma. Agora, o Barbudo Aborrecido não tem mãos a medir. Além do fio de algodão, anda sempre a experimentar novos materiais, do fio de camurça ao cordel comum.

A cor e a mistura de materiais são as imagens de marca do Barbudo Aborrecido. © Imagem retirada do Facebook

As primeiras peças continuam a ser o maior sucesso de vendas e também as mais kitsch. São suportes para pendurar os vasos no teto e fazem lembrar as marquises de avós e tias. Um suporte médio leva 30 metros de fio, mas Vasco já vendeu peças de parede em que usou, imagine-se, um quilómetro. Lojas onde comprar mais não há quase nenhumas. Em Lisboa, Vasco conhece a Franja ó Lar, na Estrada de Benfica, e todas as outras compras são feitas online.

E a moda aqui tão perto

Há três anos, Ana Morais descobriu o macramé. Desde então, a Casulo, marca sediada no Porto, tem-lhe ocupado os dias inteiros. A coleção lançada em maio já esgotou e as encomendas estão com um mês de espera. “Esta coleção teve um impacto que eu não estava à espera. Talvez tenha sido pela primeira abordagem que fiz aos acessórios de senhora, que falam sobretudo para quem não liga tanto a decoração”, afirma. Uma mochila, um saco para a esteira do ioga, uma mala XL, uma alça para a toalha de praia e uma fita para a máquina fotográfica — as novas peças apontam o caminho a seguir. Ana quer desenhar mais acessórios de moda, a tendência que se segue nesta saga que é o regresso do macramé.

Os acessórios de moda da nova coleção da Casulo esgotaram num instante. Agora, peças como esta, só por encomenda © Divulgação

Para aprender a dar os primeiros nós

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Retrosaria Rosa Pomar
Rua do Loreto, 61, 2º Dto, Lisboa.
21 347 3090.
Preço: 55€.
Dia 29 de julho, das 10h às 14h.

Ovelha Negra
Rua da Conceição, 100, Porto.
22 093 5847.
Preço: 35€.
Dia 16 de Julho, das 14h às 18h.

Artlier
Rua Gervásio Lobato, 47B, Lisboa.
93 906 7111.
Preço: 40€.
Dia 16 de julho, das 10h às 13h.

Companhia das Agulhas
Rua Ramalho Ortigão, 8, Cv Dta, Lisboa.
92 549 3605.
Preço: 50€.
Dia 24 de junho, das 14h30 às 17h30.

Tempo para criar é que não pode faltar. Além das coleções, a Casulo continua a fazer várias peças personalizadas. “Gosto de criar, tal como gosto muito que as pessoas vejam uma peça minha e queiram mudar qualquer coisa para que tenha mais a ver com elas”, acrescenta. No ano passado, foi surpreendida por um convite do Studio Astolfi: fazer pequenos casulos para as montras da Hermès, no Chiado, e, pela primeira vez, fazer jus ao nome da marca. Missão cumprida: a montra fez um brilharete na primavera de 2016. Os novos desafios não ficam por aqui. Parece que a moda dos nós já chegou aos casamentos e há quem queira ter uma ou várias peças especiais por perto, durante o grande dia. No meio de uma agenda já de si caótica, Ana ainda dá workshops. Os próximos só chegam em setembro e, tal como os anteriores, devem esgotar em três tempos. É que comprar peças em macramé já não chega. Agora, toda a gente quer dar os seus próprios nós.

Nós à vista no Instagram

As inspirações são mais que muitas e não há como uma ronda pelo Instagram para perceber o que anda a ser feito no resto do mundo. Há marcas e designers para manter debaixo de olho. Os seguidores, esses, são aos batalhões.

Modern Macramé. A americana Emily Katz é designer de interiores e professora de macramé. No início de junho, passou por Lisboa para dar um workshop. Todos os dias, partilha os trabalhos mais incríveis que são feitos pelo mundo fora, provas de que esta técnica não está só ao serviço da decoração e da moda, mas também da arte.

https://www.instagram.com/p/BS4lZ0PAn9F/?taken-by=modernmacrame

EdenEve Macramé. Diretamente da Austrália, duas criativas que fazem tudo a partir de nós. De porta-chaves a cadeiras, a EdenEve Macramé também tem loja online, se bem que as ideias são de graça.

https://www.instagram.com/p/BNTh-5HBfnn/?taken-by=edeneve.macrame

MyMacramania. No Arizona, Estados Unidos, Heidi Martin não tem mãos a medir. As peças de parede ganham vários tamanhos e cores e a artesã também tem uma loja na Etsy.

https://www.instagram.com/p/BDGsrrRxsRz/?taken-by=macramania

Sundays Design Studio. Os Estados Unidos são mesmo a terra do macramé contemporâneo. Heidi Pullman, de Santa Barbara, junta-se à carteira de designers talentosas nesta área.

https://www.instagram.com/p/BS1hjqIAABl/?taken-by=sundaysdesignstudio

The Little Knot Shoppe. Do Instagram para a Etsy, outra marca a não perder de vista, desta vez, de San Diego.

https://www.instagram.com/p/BVf3RM9Ag1A/?taken-by=thelittleknotshoppe