Os You Can’t Win Charlie Brown são seis, não é coisa pouca, mas cada um tem uma boa razão para estar ali, no palco principal, os primeiros no espaço maior do NOS Alive. Preconceitos? Dúvidas? Apanhamos tudo isso e fazemos um bom concerto. Não é um palco grande de mais, não se perde nada, não há nada jogado fora. É para ser melancólico? Vamos a isso, mesmo com o sol ainda bem alto. Há canções que demoram a crescer porque esta rapaziada dá tudo pelas emoções? Na boa, não temos pressa, não temos para onde ir e não há nada melhor a acontecer. Não é festa rija mas é coolness de quase lusco fusco e isso agradece-se, fica-lhes bem a eles a entrega (são um dos três nomes portugueses que todos os dias abrem o palco NOS), fica-nos bem a nós a falta de correria destas canções. Até porque há muito a acontecer, há sempre muito a acontecer neste Passeio Marítimo de Algés. Pode não ser para todos os gostos mas há sempre muito a acontecer. Ora vejamos:

Há muita gente para entrar. As filas andam devagar, depois das filas de trânsito para chegar ao recinto, que andam igualmente devagar. É o preço da atenção à segurança, dos bilhetes esgotados, desta Lisboa, gaiata, de caos na estrada em toda a parte e de The Weeknd, o rapaz estrela que é neste primeiro dia o maior da aldeia e que convidou todas para a festa, o lambão.

Há T-shirts à venda na banca de merchandising. Pode não parecer nada de especial mas convém referir que estão à venda sacos que dizem “I love Ryan Adams because i love Satan”, e a verdade é que, sobretudo com Ryan Adams a tocar hoje, isto é tudo uma grande cowboyada (em bom).

Há um simulador de realidade virtual. Não se percebe muito bem que tipo de realidade simula mas a julgar pela fila que gera é coisa para ficar na memória.

Do rapaz-estrela ao melhor cafuné: seis concertos para o primeiro dia de NOS Alive

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Há o concerto de Rita & O Revolver, a primeira atuação no Clubbing. Ainda não é música dançante como a que aquele espaço vai oferecer quando for tardia a hora. É pop para manga curta e sandália, é canção para sorvetes de bom sabor. E acontece num palco que tem aquela vantagem óbvia: há sempre tanta gente a passar em frente que a assistência é garantida e o pezinho de baile também.

Há diálogos que se repetem, todos os anos, em todos os palcos, em qualquer língua. Diálogos como este, de um grupo indeciso mas com a certeza de que apanharam sol a mais:

– “This way”
– “No, it’s this way”
– “I’m telling you, it’s this way”

Há bonés coloridos e há tapetes verdes no chão. Torna as caminhadas muito mais agradáveis e faz assentar a poeira. Só ainda não sabemos quanto tempo vão durar mas por enquanto são incríveis.

Há gente sentada no palco Heineken porque no intervalo entre concertos há trailers e anúncios a passar e já se sabe que quando um ecrã está a funcionar tudo o resto pára.

Depois, no mesmo palco Heineken, acontece o concerto dos Gelpi. Estes brasileiros, que vão buscar o nome ao apelido dos irmãos que criaram a banda (olá Van Halen), fazem o que têm a fazer, música que não machuca mas que também não entusiasma, daquelas canções que nascem das guitarras mas sem grande ambição de ser muito mais. Continua tudo sentado e assim deverão permanecer. São muitos em palco mas ficam dúvidas se é justificada tamanha multidão (ao contrário do que dizíamos lá mais em cima sobre os You Can’t Win Charlie Brown).

Ainda sobre os diálogos que se repetem:

– “Temos que fazer bem o plano disto”
– “Achas?”
– “Epá, acho que sim”
– “E se não fizermos planos nenhum?”
– “Sim, também pode ser”

Há cerveja e vinho, há kebabs e salsichas Alive, há hambúrguer gourmet e espetadas de fruta com chocolate, há a barraca do Diversões Alentejano (daquelas com ursinhos e assim) e há matraquilhos. Há máquinas de selfies, espaços da Gulbenkian e do Turismo de Portugal. Amigos, há um barco. Um barco que não vai ao rio mas onde é possível conhecer youtubers (isso mesmo, youtubers), um barco que se chama “boat lá” e que diz que “vai ser do Caribe”.

Numa nota final: há homens em tronco nu e há outros que estão vestidos de sandes. Cada um com a sua fatia de pão à medida. Um festival, é o que é.