Uma das séries de nicho da Nintendo e possivelmente uma das menos conhecidas é Pikmin. E compreendem-se os diversos fatores que contribuem para isso: este jogo criado pelo mítico Shigeru Miyamoto move-se num género pouco ou nada habitual para a companhia, a estratégia em tempo real, e foge em muito ao ritmo e dinâmica (e até público) das restantes franquias da Grande N.

É uma série de tremenda qualidade, original e distinta de qualquer outro jogo do mesmo género, e que só poderia vir da mente genial de Miyamoto, que, segundo informações há muito repetidas por diversos jornalistas, teve a ideia de criar Pikmin ao estar a “brincar” no seu jardim.

A ideia dos 3 jogos de Pikmin é sempre a mesma: somos um astronauta chamado Capitão Olimar que se despenha num planeta alienígena e que recorre à ajuda de umas criaturas-planta coloridas para conseguir escapar de volta à sua rota.

O ambiente é representado em vista aérea numa perspetiva isométrica, onde nos movemos por terrenos estranhamente familiares. Apesar da fauna local ser alienígena, os cenários são versões gigantescas (tendo em conta a escala de Olimar e dos pequenos Pikmin) do nosso próprio mundo, com objetos humanos abandonados pelos mapas.

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Olimar pouco mais consegue fazer que não seja assobiar o apito que chama à sua volta os Pikmin, ou dar-lhes instruções de para onde ir e o que fazer. As cores e as formas dos Pikmin demonstram as suas capacidades únicas: os vermelhos conseguem sobreviver ao fogo, os amarelos são mais leves e conseguem suportar a eletricidade, os azuis conseguem andam debaixo de água, os roxos são mais fortes que quaisquer outros, e os de pedra, bem, são resistentes como uma. Estes não são os únicos tipos de Pikmin, mas acabam por ser os mais recorrentes. E é com eles que resolvemos puzzles e interagimos com os obstáculos que os diversos “jardins” onde jogamos possuem.

Pikmin não é, nem nunca foi (nem será) um grande sucesso comercial, o que é uma tremenda injustiça para a qualidade da série. É uma das franquias mais inteligentes na jogabilidade e cuja enganadora complexidade o transformam num jogo perfeito como quebra-cabeças em família, à medida que vão surgindo à volta do sofá sugestões de como ultrapassar cada segmento ou que Pikmin usar em cada situação. O seu tom, como praticamente tudo o que a Nintendo faz, não poderia ser mais familiar e mais ternurento, criando-nos uma verdadeira ligação ao Capitão Olimar e aos Pikmin, em especial quando estes perecem seja comidos por outras criaturas, afogados ou através de muitos outros perigos naturais.

Não ser um sucesso comercial mas ser um sucesso crítico poderia ser algo que fadasse um título ao esquecimento pelos administradores de uma companhia. Mas o facto de ser uma franquia criada por Miyamoto e que lhe é muito querida, isso permite-nos, felizmente, a que vamos tendo alguns sinais de vida da série ao longo destes 16 anos desde a sua criação.

A última tentativa de relembrar Pikmin foi lançada há dois dias para a 3DS. Hey! Pikmin é o primeiro título da série a ser lançado para uma consola portátil, e igualmente o primeiro a abandonar a tridimensionalidade dos títulos que lhe antecederam para criar um ambiente bidimensional.

Não sendo desenvolvido pela casa-mãe Nintendo, mas por um estúdio que tem feito alguns jogos para a 3DS, Hey! Pikmin apresenta-se como um verdadeiro spinoff em diversos fatores que o constituem. O primeiro é que existe um claro objectivo de despir o jogo da complexidade que lhe é característica, aproximando-o de uma experiência mais casual, e dessa forma conquistar um público ainda mais jovem que não conhece a série.

O mundo aberto dos Pikmin da linha principal é substituído por um sistema de plataformas/puzzle visto de perfil, em níveis curtos que podem ser ultrapassados em poucos minutos, e em que o único objetivo é coletar todos os objetos e sementes perdidas, e encontrar a nave que marca o final deste estádio.

Mecanicamente, como é óbvio, houve uma tremenda simplificação. Visto que não temos de resolver problemas complexos em tridimensionalidade, Hey! Pikmin exige-nos apenas que movimentemos Olimar com o analógico e que controlemos os Pikmin com a caneta da 3DS.

Este espírito de casualidade e de simplificação é quase derrogatório com o espírito da série, e o pequeno nicho de jogadores que segue apaixonadamente a série Pikmin pela sua inteligência e disfarçada complexidade poderão sentir-se algo defraudados pela súbita mudança de tom. Mas na experiência de pai que já viu o filho pequeno a interagir com simpatia com Hey! Pikmin, diria que o objetivo da Nintendo foi amplamente conquistado: o de conseguir estender a mão simpática de Olimar e dos Pikmin às gerações mais novas, despertando-lhes a curiosidade para que um dia possam mergulhar nos jogos (ditos) “a sério” da linha principal da franquia.

A provar que apesar da saída da Switch o sucesso de vendas e o apoio da comunidade para com a 3DS merecem ser recompensados, Hey! Pikmin foi um dos dois jogos da Nintendo lançados num espaço de dois dias (sendo o outro Miitopia) em exclusivo para a sua consola portátil. É um jogo que pode ser usufruído pelos fãs de Pikmin, ainda que não sejam estes o seu público-alvo. E é, pelo seu tom e desafio adaptado à infância, uma das melhores apostas para acompanhar a 3DS dos seus filhos nas férias de Verão.

Ricardo Correia, Rubber Chicken