Depois da surpresa na final dos 100 metros, com a armada americana do mestre Justin Gatlin e do discípulo Christian Coleman a superarem Usain Bolt na despedida, a prova dos 200 metros tinha esse aliciante extra: quem seria o candidato a ficar com a coroa do Relâmpago? Wayde van Niekerk, Isaac Makwala, Sani Brown, Jereem Richards? Afinal, nenhum deles: na mais surpreendente vitória dos últimos Mundiais de atletismo, foi um turco nascido no Azerbaijão, Ramil Guliyev que arrebatou a medalha de ouro.
Aos 27 anos, este foi o maior feito do corredor que o El País descreveu de forma curiosa como “o homem de braços tatuados de porteiro de discoteca”. Tornou-se apenas o segundo europeu a ganhar a prova em mundiais, após o sucesso do grego Konstantinos Kenteris em 2001, e colocou em destaque a história de uma passagem difícil do Azerbaijão para a Turquia, em 2011, devido às semelhanças entre os dois países a nível de pessoas, língua e cultura. Meteu ministros ao barulho, o impedimento de ir aos Jogos Olímpicos de 2012, mas lá se naturalizou, passando a beneficiar de condições muito melhores a nível financeiro e logístico. O currículo, esse, ficou partido ao meio com alguns pontos em comum: ganhou o ouro nos 200 metros das Universíadas de 2009 como azeri, conquistou a prata nos 100 e nos 200 metros das Universíadas de 2015 como turco.
Gulyiev estuda pedagogia na Universidade Kutahya Dumlupinar, fundada em 1992, sendo também professor assistente. É mais um exemplo de atleta de topo que consegue conciliar o desporto com o ensino universitário e que marcou presença com sucesso nas Universíadas, uma espécie de Jogos com livros debaixo do braço onde nem todos os estudantes acabam por entrar (exemplo paradigmático disso são os Estados Unidos, que não contam com todos os seus atletas de topo) mas que consegue manter um nível competitivo elevado. Exemplo: Dmitriy Balandin, Josh Prenot, Shannon Vreeland, Mikhail Polishcuk ou Kylie Masse, um dos destaques nos últimos Mundiais de natação (tornou-se a primeira canadiana no setor feminino a ganhar um ouro), ganharam o ouro em 2015, na Coreia do Sul, e foram campeões olímpicos.
As Universíadas caminham para os 60 anos de existência mas têm vindo a modernizar-se ao longo do tempo: dos sete desportos (atletismo, natação, basquetebol, voleibol, ténis, esgrima e polo aquático), 45 países, 60 eventos e 985 atletas saltamos agora, em 2017, para os 21 desportos, 131 países, 272 eventos e um total acima dos 10 mil atletas. E é em Taipé que, a partir de sábado, passarão a estar concentradas todas as atenções.
Não entrando num top de medalhas que está entregue aos habituais Estados Unidos, China e Rússia, Portugal tem um passado de prestígio na competição: soma um total de 32 pódios, com a curiosidade de ter alcançado a primeira medalha há 50 anos através do judoca Fernando Almada e o primeiro ouro há 30, com o mítico nadador Alexandre Yokochi. A esse juntaram-se mais dez e de nomes consagrados que já deram cartas nos Jogos Olímpicos, Mundiais e Europeus: Pedro Soares, Jéssica Augusto, Nelson Évora, Sara Moreira, Alberto Paulo ou Fernando Pimenta. Carla Sacramento, Susana Feitor, Naide Gomes ou Patrícia Mamona foram outras atletas que já foram às medalhas.
Na última edição, há dois anos, Portugal conseguiu quatro medalhas em Gwangju, na Coreia do Sul: ouro no andebol masculino, prata no taekwondo com Joana Cunha (que será porta-estandarte em 2017) e Rui Bragança, bronze na ginástica artística com Filipa Martins. Agora, a delegação nacional contará com 65 atletas em 11 modalidades naquele que é o maior evento mundial multidesportivo a seguir aos Jogos Olímpicos. Susana Feitor, uma das grandes figuras do atletismo português, será a Chefe de Missão em Taipé. “Esta missão tem a pretensão de enviar uma mensagem desportiva e académica. O futuro da elite desportiva é mais auspicioso e brilhante quanto maior for a harmonia sinergética da formação académica e da preparação desportiva”, escreveu a atleta de Rio Maior.
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“Ser atleta de alto rendimento e estudante é uma tarefa árdua e muitas vezes incompreendida, apesar das universidades terem passado a olhar para esta realidade com outros olhos e se tenham começado a transformar para que os atletas possam ser estudantes ao mais alto nível. As Universíadas são o grande palco do desporto universitário internacional e quisemos preparar a missão por forma a dar as melhores condições possíveis a todos os atletas”, explicou antes da partida Daniel Monteiro, presidente da Federação Académica do Desporto Universitário (FADU).
A cerimónia de abertura das Universíadas de Verão, que se irão prolongar até dia 30 de agosto, realiza-se este sábado, e Portugal estará representado pelo seguinte lote de atletas:
Atletismo (12): Andreia Crespo, Cátia Azevedo, Diogo Antunes, Diogo Ferreira, Francisco Belo, Hugo Rocha, Mara Ribeiro, Marta Onofre, Marta Pen, Paulo Conceição, Samuel Barata e Samuel Remédios
Badminton (2): Bernardo Atilano e Rui Mendes
Basquetebol (12): Ana Granja Santos, Ana Sofia Ramos, Inês Pinto, Inês Viana, Isabel Costa, Joana Canastra, Joana Cortinhas, Joana Soeiro, Josephine Filipe, Maianca Umabano, Sara Dias Ressureição e Sofia Pinheiro
Esgrima (4): José Bartissol, José Charréu, Max Codeço e Pedro Macedo
Ginástica artística (6): Bernardo Almeida, Diana Abrantes, Diogo Romero, Filipa Martins, Ana Romero e Pedro Guimarães
Golfe (1): João Girão
Judo (4): Catarina Costa, Guilherme Salvador, Mariana Esteves e Pedro Silva
Natação (3): Ana Monteiro, Gabriel Lopes e Rita Frischknecht
Taekwondo (7): Bruno Fidalgo, Gabriela Martins, Jean Michel Fernandes, Joana Cunha, Júlio Ferreira, Nuno Costa e Rui Bragança
Ténis (2): Inês Mesquita e Nuno Borges
Voleibol (12): Afonso Guerreiro, Alexandre Pereira, Bernardo Martins, Bruno Cunha, Filipe Sousa, Frederico Duarte Santos, José Gomes, José Neves, Lourenço Martins, Miguel Cunha, Nuno Silva e Simão Moreira