Não é preciso ser apreciador do (possivelmente) mais famoso néctar português, o Vinho do Porto, para se deixar embriagar pela beleza do Douro Vinhateiro. Encostas em socalcos, estradas que serpenteiam junto ao rio e a companhia constante do Douro e dos barcos que nele navegam são um óptimo aperitivo para uma jornada de digestão fácil. Capaz, mesmo, de saciar o apetite de todos os sentidos.

Aceite um conselho e reserve um fim-de-semana para explorar esta região imensa, que há muito que é internacionalmente conhecida. E não, não é só pelos prazeres de Baco. Paisagens de cortar a respiração, uma hospitalidade franca e uma gastronomia fantástica associam-se à possibilidade de descobrir e saber mais acerca da história do Vinho do Porto.

As inúmeras quintas que cunham rótulos de prestígio reconhecido, cá e lá fora, abrem as suas portas e convidam-nos a entrar neste mundo onde a improbabilidade foi vencida pela vontade do homem. Explicaram-nos precisamente isso (e mais, mas se lhe contássemos tudo, iria perder a magia da descoberta) quando visitámos a Quinta do Bomfim. Sabia, por exemplo, que as uvas que dão origem ao Vinho do Porto são das mais caras do mundo? Entre outras razões, porque a produção é baixa e a cultura exclusivamente manual.

Mas se as máquinas não pisam este solo com características únicas – deixemos os detalhes para os especialistas –, você pode fazê-lo. E não se vai arrepender. Para perceber por que razão Vila Nova de Gaia é a “terra” com maior concentração de álcool por metro quadrado, propomos-lhe que vá à origem das coisas: Régua e Pinhão são os principais centros de produção de Vinho do Porto.

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Qualquer altura do ano é boa para visitar o Douro Vinhateiro, que se veste sempre de acordo com a estação. As videiras são disso exemplo: ora se despem, ora se se enchem de parras de um verde vivo, ora pintam em tons acobreados um quadro outonal.

Independentemente do período em que optar por rumar ao Douro Vinhateiro, há uma série de experiências que deve oferecer a si próprio.

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Se se concentrar no Pinhão, é impossível não visitar a estação ferroviária da vila – a mais bela do Douro. É conhecida pelos painéis de azulejo que recebeu em 1937, pese embora o comboio tenha lá chegado muito antes. Vinte e quatro painéis forram quase por completo as paredes do edifício principal, relatando as diferentes etapas de produção do Vinho do Porto, das vindimas ao pisar das uvas, sem esquecer os barcos rabelo rio abaixo em direcção às caves de Vila Nova de Gaia.

Mas há mais para ver. Se apanhar o comboio histórico que liga Régua ao Pocinho, passando pelo Pinhão e Tua, perceberá por que razão a linha do Douro é a mais bela do país. Não há como descrever, só vendo. Pontes de pedra, declives acentuados, vinhas a perder de vista, e água sempre por perto. Às vezes, a menos de 10 metros.

Mergulhe também na experiência de visitar uma quinta. No Pinhão, sugerimos que dê uma vista de olhos à Quinta do Bomfim, propriedade dos Symington, a família que é responsável por cerca de 32% do total da produção de Vinho do Porto de categorias especiais. Ao todo, possui cerca de 1.000 hectares de vinha (o maior conjunto de vinhas na região pertencentes a uma só família), distribuídos por 27 quintas. A do Bomfim cativa pelo facto de dar uma ideia abrangente de tudo o que rodeia a produção do Vinho do Porto – fazem-se visitas guiadas, mas pode simplesmente “estacionar” na esplanada e deixar-se levar pelo vaivém de barcos no rio e de comboios na linha. É claro que aqui também se fazem as incontornáveis degustações, mas arriscamo-nos a sugerir-lhe outro programa – um piquenique. Já lá vamos.

Ainda para ver, não há como evitá-lo: seja a pé ou de carro, a travessia da ponte rodoviária do Pinhão transporta-nos não só para o outro lado da margem, como também para a história. A de Gustave Eiffel, que a projectou no século XIX. Quem diria que teríamos por aqui, no coração do Douro Vinhateiro, a mão do homem que deu a Paris a torre mais conhecida do mundo?

Comer

Se é fã de cozido à portuguesa, cabrito assado no forno, doces conventuais, compotas e mel, está no sítio certo. Mas não fique já a pensar que por estas bandas só vêm à mesa pratos capazes de dar energia a lavradores. Para uma refeição frugal, num cenário que nos faz orgulhar de sermos portugueses, não deixe de… fazer um piquenique.

A Quinta do Bomfim providencia a comida e a bebida. A vista já lá está (à nossa espera)

Na Quinta do Bomfim tratam de tudo, só tem de reservar com 48 horas de antecedência, para o mínimo de duas pessoas. Assim, depois de uma caminhada pelas vinhas (há três percursos devidamente assinalados), faça uma pausa para degustar algumas das especialidades da região. A tradicional cesta vem repleta de iguarias: queijos portugueses (Nisa, Terrinho, Serra curado), bolinhas de alheira com sementes de sésamo, quiche individual de frango com cogumelos, bolos de noz, e ainda uma garrafa de Altano Branco e um copo de vinho do Porto. O menu do piquenique custa 25 euros por pessoa, mas verá que não dinheiro que pague a vista!

O chefe Rui Paula é uma referência da cozinha moderna portuguesa

Impossível também não recomendar uma paragem no DOC. Tendo a vantagem de ficar no caminho que liga Pinhão a Peso da Régua, o restaurante do chefe Rui Paula – distinguido com uma estrela Michelin – assenta em estacas. Bem firmes, tal como a personalidade das propostas que aqui desafiam os paladares mais exigentes. Ao almoço, recomendamos a esplanada, à noite, a atmosfera refinada da sala, sem ser demasiado exquisite. O serviço é bom, a carta de vinhos acompanha e os pratos excedem as expectativas. Atreva-se e pôr à prova o nome da casa, cujas siglas sintetizam o conceito: degustar, ousar, comunicar.

Outra alternativa, mais em conta, é ir até Lamego, onde o Restaurante Vindouro serve iguarias da cozinha regional duriense contemporânea.

Tendo como vizinhos os monumentos mais emblemáticos de Lamego, pode apreciar no Vindouro uma refeição completa para duas pessoas por 30€

Fazer

Descanse: não corre o risco de ficar entediado por estas bandas. E o grande responsável por isso é… o próprio rio. O Douro apaixona de qualquer perspectiva: a pé, de comboio, de carro ou de barco. Verá que, se o fizer de todas estas formas, o rio acabará sempre por levar a melhor – o Douro vai surpreendê-lo por conseguir dar-se a ver sempre de modo distinto.

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Obrigatório, mesmo, é percorrer a Nacional 222. Para os mais distraídos, convém recordar que esta estrada não é apenas mais um pedaço de asfalto. É sim, um dos melhores percursos do mundo para conduzir – assim o determinou um estudo promovido pela Avis rent a car, em 2015, segundo o qual a estrada ideal oferece uma relação 10:1 (10 segundos de recta para cada segundo gasto a curvar). Mas esqueça o desenho do percurso. Concentre-se, antes, na paisagem e siga viagem – de preferência, à pendura, para não perder pitada.

Ficar

Se o objectivo é privilegiar uma experiência mais vinícola, nada como optar por arrumar a bagagem numa das diferentes quintas que existem no Pinhão e nas aldeias adjacentes. Há, contudo, algumas referências que se impõem: o Vintage House Douro, um dos hotéis mais luxuosos do Douro Vinhateiro, que ocupa o lugar das antigas instalações da Real Companhia Velha; e a Casa de Gouvães, a quatro quilómetros do Pinhão. Esta última naturalmente mais virada para uma hospitalidade ‘quente’ e informal.

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