O serviço de informações militares criticou duramente a atuação do Ministro da Defesa no caso do roubo de armamento dos paióis da base de Tancos num relatório enviado para a Polícia Judiciária (PJ) e para o Serviço de Informações de Segurança (SIS). Segundo notícia avançada pelo Expresso, no relatório do serviço de informações militares pode ler-se que Azeredo Lopes agiu com “ligeireza, quase imprudente”, revelando uma “arrogância quase cínica” e fazendo “declarações arriscadas e de intenções duvidosas”. O Chefe de Estado-Maior do Exército, o general Rovisco Duarte, também é alvo de críticas, sendo acusado de assumir as consequências, apesar de “não ter tirado consequências dos seus atos (o general pôs o lugar à disposição, mas o ministro não aceitou).
O documento em questão terá sido elaborado em julho, apenas um mês depois do anuncio público do assalto em 29 de junho. A secreta militar não hesitou em classificar o incidente de Tancos como algo de “extrema gravidade, devendo ser investigado e definidas todas as consequências”.
Recorde-se que na sua última entrevista a um órgão de comunicação social (DN/TSF) no dia 10 de setembro, Azeredo Lopes afirmou que, “no limite, pode não ter havido furto” em Tancos.
Críticas ao poder militar. Marcelo elogiado
As violentas críticas ao poder político e militar são uma constante o longo das 63 páginas de relatório que não se inibe de afirmar que ambos os poderes falharam “ao não terem dado aos paióis o tratamento de infraestrutura crítica no âmbito da sua proteção.” Acrescenta ainda que o incidente revelou “fragilidade de liderança e e capacidade de gestão de crise, quer ao nível militar, quer ao nível político.”
Marcelo Rebelo de Sousa foi o único representante político a ser elogiado. A “pronta e ponderada ação do Presidente da República” terá atenuado o impacto negativo do acontecimento, afirmam os autores do relatório, que não são identificados pelo Expresso.
Os três cenários "muito prováveis"
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No mesmo relatório divulgado pelo Expresso, os serviços de informações militares apontam três cenários “muito prováveis” de terem acontecido em Tancos, sendo eles:
- Tráfico de armamento para África (em específico, para a Guiné-Bissau e Cabo Verde)
- Um assalto promovido por mercenários portugueses contratados
- Envolvimento de jihadistas a operar na Península Ibérica
O relatório em questão — que terá tido como destinatários a Unidade Nacional de Contraterrorismo (UNCT) da Polícia Judiciária e os Serviços de de Informações e Segurança (SIS) — afirma ainda que este furto é prova do elevado grau de degradação das infraestruturas e meios das Forças Armadas . E que tal situação contribui para o “sentimento de insegurança e para a descredibilização do Exército e das Forças Armadas.”
Uma das autoridades a quem este relatório foi enviado, a UNCT, tem trabalhado em conjunto com o Ministério Público na investigação do caso. Num comunicado emitido a 4 de julho, a Procuradoria Geral da República anunciou que, “face às notícias relativas ao desaparecimento de material de guerra [em Tancos]”, o MP iria “iniciar investigações” por causa das “suspeitas de prática dos crimes de associação
criminosa, tráfico de armas internacional e terrorismo internacional.” As investigação prosseguiram sob a forma de “um inquérito com objeto mais vasto”, a ser levado a cabo pelo DCIAP.