[artigo originalmente publicado a 29 de setembro de 2019 e atualizado a 30 de setembro de 2020, após a morte de Quino]

Foi a 29 de setembro de 1964 que a primeira tira de Mafalda, criada pelo cartoonista argentino Quino, apareceu no jornal Primera Plana. 53 anos depois, a pequena contestatária continua muito atual na sua luta pela liberdade e pelos direitos da humanidade.

As primeiras tiras da “Mafaldinha” no jornal argentino Primera Plana. A “contestatária” já questionava o pai e criticava o país.

O cartoonista Quino, em 2014, por ocasião dos 50 anos da sua criação, foi premiado com o prémio Princípe das Astúrias. A tira, que tinha fãs (como Umberto Eco) por todo o mundo – em principal na américa latina-, fez da Mafalda também símbolo da defesa dos direitos das crianças e da luta pela Paz.

Morreu o argentino Quino, criador de Mafalda e artista de rigor que nunca quis abandonar a infância

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Com a ajuda da conta do Twitter da Mafalda, veja algumas tiras da Mafaldinha que melhor retratam como a contestatária marcou miúdos e graúdos.

A Mafaldinha não é (de longe) adepta de sopa, nesta tira faz o desabafo: “A sopa está para infância como o comunismo está para a democracia”.

Nesta tira, mais uma analogia da sopa à política: “Sopa? A fronteira ideológica é para além [atrás da divisória], se faz favor”.

Uma das características do génio de Quino é conseguir, recorrendo apenas ao desenho, fazer os leitores rir.

Com um espírito político, a Mafaldinha questiona olhando para o espelho: “A direita passa a ser esquerda… E a esquerda passa a ser direita”. No final constata: “É uma conspiração!”

Além da Mafalda, outras personagens das tiras ficaram muito conhecidas, como o Manelinho, que não era muito dado aos estudos (mas ao negócio da família, a mercearia do pai, onde já mostrava o seu espírito empreendedor). Nesta tira faz uma questão à professora. “O que não percebeste, Manelinho”, pergunta-lhe ela. Honestamente, responde ele: “Desde março até agora, nada!”.

Outro dos seus conhecidos amigos é o Filipinho. Lá por serem crianças, as questões que perturbam o cenário político internacional não deixavam de lhes escapar. Nesta tira o Filipe diz: “Francamente, eu acredito que se os norte-americanos e os russos dizem que querem o desarmamento [nuclear], é porque realmente querem”. Mafalda riposta: “Certo, Filipe!… E se te dissesse que as vacas voam, acreditavas, não é?”. Filipe sai e diz: “Chiça! És sempre a mesma coisa!”. O resultado da conversa vê-se no último quadradinho.

Umas das piadas recorrentes era a Mafalda brincar à “Estátua da Liberdade”. Os resultados eram também recorrentemente críticas políticas e sociais. Outro dos amigos, o Miguelito, vê-se na tira depois de lhe perguntar o que fazia. No cartoon vê-se a Mafalda a dizer: “Sou a Liberdade, a iluminar o mundo com a sua reluzente lâmpada!… De 15 watts.”

Cada um dos amigos simbolizava tipos de pessoas que se encontram na sociedade. A Susaninha, mais privilegiada que os amigos, tendia a ser mais fútil. Nesta tira, exemplo do diálogo conflituante das amigas, a Susaninha diz: “Quando for grande quero ter muita roupa!”. A Mafalda responde: “E eu muita cultura!”. Ripostando, a Susaninha questiona: “Prendem-te por saíres à rua sem cultura?”. Mafalda: “Não”. A Susaninha termina a argumentação constatando: “Experimenta sair sem roupa!”.

Outra tirada típica da Susaninha entre os amigos enquanto Mafalda discursa em prole dos direitos das crianças: “Nós não somos também parte do país?”. Amigos: “Sim! Muito bem! Bravo!”. Mafalda, no segundo quadradinho: “Não somos também como os outros?”. Amigos: “Claro que somos! Sim!”. Mafalda com mais uma pergunta: “E não somos tanto do povo como qualquer um?”. Susaninha não se contém e berra: “Ai, não! A mim insultos é que não!”.

E porque é tempo de eleições, como última tira (em português e porque não dá para deixarmos as quase duas milhares que Quino fez), fica a Mafaldinha a falar com outro membro do seu grupo, a pequenina amiga chamada Liberdade:

Parabéns Mafalda!