“Veio dar-me uma palavra amiga, de apoio.” Foi desta forma que Teresa Leal Coelho, candidata do PSD à Câmara Municipal de Lisboa, resumiu ao Observador, o breve encontro que teve com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, no final da arruada do último dia de campanha. Cerca de vinte minutos antes o assessor da candidata do PSD telefonou a dois jornalistas a avisar que o Presidente da República ia passar pelo Príncipe Real para cumprimentar a candidata.
Não foi um encontro casual, ao contrário do que Teresa Leal Coelho disse esta noite, porque a candidata sabia que o Presidente ia passar por ali. A candidata até atravessou a rua para garantir que se cruzava com o Presidente. Aliás, na primeira versão deste texto, já estava explícito que a candidata sabia que Marcelo ia passar: “Momentos antes, Teresa Leal Coelho soube que o Presidente estaria por perto. Entretanto, a vice-presidente do PSD atravessou a rua e ficou à espera do carro presidencial”, escreveu o Observador.
Depois de a campanha ter avisado o jornal, João de Almeida Dias, um jornalista do Observador — que não costuma cobrir assuntos de política nacional — saiu da redação no Bairro Alto à pressa para não perder o momento e demorou cerca de cinco minutos a chegar ao Príncipe Real. Perto do local, a caminho de uma ação do CDS, estava também a repórter Rita Dinis que cobre as campanhas da direita em Lisboa. Ambos ouviram a candidata a usar a palavra “apoio”: “Veio dar-me uma palavra amiga de apoio.”
A meio desta noite, Teresa Leal Coelho disse à RTP o contrário do que tinha afirmado aos dois jornalistas: “Não falei nisso [apoio]. Simplesmente falei num encontro amigo. É sempre muito bom encontrar as pessoas de quem nós gostamos, que foi o caso”.
O encontro entre ambos foi rápido, a ponto de os jornalistas do Observador não terem tirado imagens. Mas a candidatura aceitou enviar as imagens ao jornal, que foram partilhadas de imediato na página pessoal de Rodrigo Mello Gonçalves, candidato à Assembleia Municipal, e depois na página oficial do Facebook da candidata, com o texto: “Teresa Leal Coelho recebe um beijinho de última hora de Marcelo Rebelo de Sousa”. Na versão inicial do artigo também estava referido que o vídeo tinha sido “gravado por um militante do PSD”.
O Observador decidiu avançar com estas novas informações depois das declarações de Teresa Leal Coelho a insinuar que tudo tinha sido uma “interpretação” por parte dos jornalistas — que o presidente estava a desmentir — e não palavras efetivas pronunciadas pela candidata.
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“Conversámos sobre como estava a correr a campanha”
O Presidente da República teria encontrado militantes de outros partidos da campanha da CDU, PS e CDS — que tinham feito arruadas pelo Chiado ao longo da tarde — antes de se cruzar com a candidata do PSD. Segundo a Presidência, o encontro foi casual.
O encontro aconteceu no Príncipe Real, em Lisboa, quando a candidata do PSD fazia uma pausa numa ação de campanha, e durante uma arruada, como disse Teresa Leal Coelho. Momentos antes, Teresa Leal Coelho soube que o Presidente estaria por perto. Entretanto, a vice-presidente do PSD atravessou a rua e ficou à espera do carro presidencial.
[Este vídeo, gravado por um militante do PSD, começou a ser filmado já depois de a conversa entre a candidata do PSD e o Presidente da República ter começado. Na imagem, vê-se uma apoiante de Teresa Leal Coelho que também quis falar com Marcelo Rebelo de Sousa]
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A conversa não durou mais de um minuto. Sentado no banco de trás do carro, o Presidente da República trocou algumas palavras com Teresa Leal Coelho. A conversa entre o ex-candidato do PSD à Câmara Municipal de Lisboa de 1989 e a candidata do PSD à Câmara Municipal de Lisboa de 2017 foi interrompida por uma apoiante de Teresa Leal Coelho, que foi surpreendida pela presença de Marcelo Rebelo de Sousa.
Conversámos sobre como é que estava a decorrer a campanha e se eu estava animada para domingo”, contou Teresa Leal Coelho ao Observador, momentos depois da conversa. “Eu disse que sim, que estou muito animada para domingo e que estou muito orgulhosa da campanha que fiz.”
O gesto, sublinha Teresa Leal Coelho, é de um amigo:
Veio dar-me uma palavra amiga, de apoio”, disse a candidata da PSD. “É isso que os amigos fazem.”
Marcelo reprova “manipulação” de Teresa Leal Coelho
O site da Presidência da República publicou uma nota onde se lê: “Como é evidente, o Presidente da República não apoia nenhuma candidatura eleitoral”. No mesmo texto, a Presidência da República “reprova qualquer tentativa de aproveitamento ou manipulação da sua posição”, numa resposta clara ao facto de a candidata pelo PSD à Câmara de Lisboa ter afirmado que o Presidente da República lhe deu uma “palavra amiga, de apoio”.
A mesma nota explica que, durante a tarde, Marcelo Rebelo de Sousa “cruzou muitos lisboetas em diversas ações de campanha, de pelo menos três partidos, que saudou como sempre faz”.
“Quando estava no carro parado no trânsito, cruzou uma quarta candidatura, tendo a cabeça de lista atravessado a rua para o cumprimentar. Nada neste encontro autoriza qualquer interpretação de apoio específico”, termina a breve nota.
Um dia antes, Marcelo condenava a utilização do seu nome na Maia
Esta quinta-feira, Marcelo Rebelo de Sousa interveio discretamente na campanha eleitoral para condenar a utilização abusiva do nome da sua família por um candidato à câmara da Maia. “Como sempre deixou claro desde antes da sua eleição, o Presidente da República não se confunde com os seus familiares. Qualquer posição tomada por um familiar não pode ser confundida, nem usada, com sendo a posição do Presidente da República: tal seria ofensivo para o Presidente da República e para o familiar”, escreveu Marcelo Rebelo de Sousa num comunicado enviado aos sete mandatários das candidaturas à câmara da Maia.
Em causa está uma mensagem de apoio enviada por António Rebelo de Sousa, irmão do Presidente da República e ex-deputado à Assembleia da República, eleito pelo PSD e, depois, pelo PS, à candidatura de Francisco Vieira de Carvalho, candidato do PS à câmara da Maia. Vieira de Carvalho publicou depois uma nota informativa mostrando-se “sensibilizado com apoio da família Rebelo de Sousa”, o que foi entendido pelo Presidente da República como utilização abusiva do nome da sua família. Até porque a nota informativa acabava da seguinte forma: “Refira-se que o Dr. Francisco Vieira de Carvalho foi, em 2016, apoiante do Prof. Marcelo Rebelo de Sousa e participante ativo na sua campanha eleitoral para a Presidência da República”.
Este texto foi alterado às 23h28, quando o Observador decidiu avançar com a informação de que a campanha sabia que Marcelo ia cumprimentar a candidata.