O Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora, que começa esta sexta-feira, dedica a exposição central à relação entre a Nona Arte e vida real, através da reportagem e do jornalismo. “Pensámos que, face ao momento que estamos a viver, era interessante fazer uma ligação direta ao mundo real das pessoas através do jornalismo e da banda desenhada. A BD é o instrumento de passar a palavra de assuntos, uns graves, outros menos graves, de contar histórias de vidas humanas”, afirmou o diretor do Amadora BD, Nelson Dona, à Agência Lusa, durante a montagem do festival.

O 28.º Amadora BD volta a ocupar o Fórum Luís de Camões não só com a exposição central — intitulada “Contar o mundo: A reportagem em banda desenhada” –, mas também com mais de uma dezena de outras mostras coletivas e individuais. A exposição central, comissariada pela jornalista Sara Figueiredo Costa, foi feita em parceria com o Museu de BD de Angoulême e com o Museu de Cartoon Israelita, abrangendo diferentes perspetivas da ideia de reportagem em banda desenhada.

Entre os autores representados estão Joe Sacco — que declinou o convite para estar na Amadora por razões familiares –, a argumentista Anne Elizabeth Moore e o autor brasileiro Sama. Este ano, Nuno Saraiva é o autor português em destaque, por ter vencido o prémio de melhor álbum português de banda desenhada de 2016, com Tudo Isto é Fado. Além de ter desenhado a imagem gráfica do festival, o autor faz uma retrospetiva, muito resumida, de 30 anos de carreira, numa exposição que, visualmente, remete para um arraial, numa ligação direta aos bairros e figuras típicas de Lisboa. “O meu trabalho, tanto na BD e como na ilustração, é quase diário. Trabalho para múltiplos lugares e caminhos. Reunir tudo seria uma tarefa quase impossível”, afirmou Nuno Saraiva à Lusa enquanto finalizava a exposição.

Amadora BD. Nuno Saraiva vence prémio de Melhor Álbum Português

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A poucas horas da abertura oficial do festival, o Fórum Luís de Camões estava ainda transformado num estaleiro criativo, com os espaços expositivos cheios de balde, latas de tinta, escadotes, trinchas, pincéis e rolos de tapetes. Das exposições programadas, Nelson Dona destacou ainda as que são dedicadas a “dois centenários importantíssimos para a história da banda desenhada mundial”, dos autores norte-americanos Will Eisner e Jack Kirby. “São autores de linhas gráficas, narrativas e estéticas muito diferentes, mas ambos marcaram a história da BD. O Jack Kirby na criação de super-heróis e, no caso de Will Eisner, a novela gráfica que veio revolucionar completamente e trazer um outro público para a BD”, disse o diretor.

Até 12 de novembro, o Amadora BD terá ainda exposições sobre a presença portuguesa no mercado norte-americano, sobre o autor brasileiro Marcello Quintanilha e a ilustradora Joana Estrela. Quem for ao Fórum Luís de Camões terá ainda acesso a uma seleção da banda desenhada que foi publicada em Portugal ao longo dos últimos 12 meses. No dia 4, a organização anuncia os prémios para os melhores livros e autores do ano literário português.

Como habitualmente, haverá ainda um espaço reservado à venda de livros e outro para sessões de autógrafos com alguns dos convidados. Está confirmada a presença de Mike Royer, arte-finalista que trabalhou com Jack Kirby, e dos autores Jan Bauer, Marcello Quintanilha, Gustavo Borges ou Mathieu Sapin.

O Amadora BD terá ainda exposições fora do Fórum Luís de Camões, nomeadamente uma retrospetiva dedicada a Fernando Relvas na Galeria Municipal Artur Bual, e uma mostra sobre o livro coletivo Cidades, do Lisbon Studio na Bedeteca. O festival é organizado pela autarquia da Amadora e o orçamento ronda os 500 mil euros.

O Amadora BD decorre de 27 de outubro a 12 de novembro. O programa completo pode ser consultado aqui