A coleção desenhada por Erdem Moralioğlu para a H&M chega à loja do Chiado, em Lisboa, já na próxima quinta-feira. Entre vestidos de festa, golas vitorianas e rendas, salta à vista aquela que é a maior assinatura da marca britânica: os padrões florais. Em 12 anos de criações, o designer canadiano nunca os perdeu de vista e aproveitou a colaboração com a cadeia sueca para recuperar materiais e detalhes que fazem parte da história da sua própria marca.
Mas a Erdem está longe de ser um dos nomes mais sonantes da moda, pelo menos quando comparada com outras casas que já colaboraram com a H&M, entre elas Balmain, Versace e Kenzo. “Isso só torna tudo numa surpresa ainda maior para os nossos clientes. É ótimo pensar que, graças a esta colaboração, pessoas que não sabem quem é o Erdem vão ficar muito mais familiarizadas com o seu maravilhoso trabalho”, admite Ann-Sofie Johansson, assessora criativa da H&M, ao Observador.
Erdem x H&M. Veja todas as peças da coleção que chega à loja a 2 de novembro
À semelhança da coleção desenhada por Alber Elbaz em 2010, quando a H&M colaborou com a Lanvin, Erdem pensou em peças especiais, sobretudo na linha feminina. Vestidos longos, tecidos pesados, saias rodadas e lantejoulas fazem desta uma coleção romântica, mas também cara. O ponto de partida é 19,99€, preço das collants, e a peça mais cara, um vestido preto de renda, está marcada a 299€. Ainda assim, nada está nada mal, se pensarmos que um vestido da marca britânica custa em média 200€. A maioria das peças pode afastar a coleção do uso quotidiano, mas o esforço de contrabalançar com roupa mais descontraída é visível. Erdem desenhou T-shirts, hoodies e pulôveres de lã, garantindo opções para quem não quer gastar além dos 99€ numa única peça.
A coleção Erdem x H&M também chegou ao grande ecrã. “Acho que a habilidade que o Erdem tem para trabalhar em torno de histórias encaixa muito bem no talento do Baz Luhrmann para contá-las”, afirma ainda Ann-Sofie Johansson. Coube ao realizador de Moulin Rouge dar forma e movimento ao imaginário de Erdem Moralioğlu, numa curta-metragem que vai muito além do exibir das roupas. A atriz Harriet Walter está entre as protagonistas, juntamente com os jovens Tom Rhys Harries, Hero Fiennes Tiffin e Ruby Dagnall. Entre os modelos que também entram na fita está o português Fernando Cabral. Um sonho florido, é claro, onde não podia faltar uma história de amor. Para perceber melhor as inspirações e o trabalho por detrás da coleção que chega às lojas nesta quinta-feira, falámos com o próprio designer.
As flores fazem parte da linguagem da Erdem. Quando é que percebeu que este padrão se tornaria na sua assinatura?
As flores sempre me fascinaram. Elas estiveram comigo desde que comecei a desenhar roupa feminina a sério e para mim são muito mais do que um estampado. Adoro tudo o que sugira feminilidade, seja um padrão floral ou uma renda. Também adoro a forma como um estampado digital, em pleno século XXI, parece ter saído da era vitoriana — é muito interessante jogar com a noção de tempo.
Disse que esta coleção para a H&M foi uma oportunidade de refletir sobre o trabalho dos últimos 12 anos. Isso faz dela uma espécie de best of da Erdem?
Na realidade, é algo muito diferente de um best of. Quando comecei a pensar sobre a colaboração, olhei para as minhas coleções passadas à procura de ideias e temas que pudesse revisitar, tornar frescos. Em alguns momentos, há referências, como é o caso do vestido plissado da minha primeira coleção, mas foi tudo mais centrado em detalhes ou tecidos que voltei a usar para criar uma coleção completamente nova.
Adoro pensar numa pessoa a usar um grande vestido de festa com uns ténis e uma camisola de malha. É essa atitude que atravessa a coleção Erdem x H&M.”
Nesta coleção desenhou vestidos de festa e peças românticas. Não acha que elas podem ser demasiado chiques (e caras) para uma loja como a H&M?
Adoro a ideia de ter pessoas a pegar nestas peças e a usá-las à sua maneira. Imagino um grupo de amigos numa grande mansão de campo, a divertirem-se com as roupas que lá encontram. Adoro pensar numa pessoa a usar um grande vestido de festa com uns ténis e uma camisola de malha. É essa atitude que atravessa a coleção Erdem x H&M.
E como foi a experiência de desenhar roupa de homem?
Fiquei muito feliz por desenhar também uma coleção masculina. É um processo diferente, sobretudo porque, para mim, desenhar para mulheres é um trabalho muito mais baseado numa narrativa e numa história. Com os homens, pensei naquilo que uso, mas também na minha infância e juventude e no que o meu pai vestia. Foi um processo bastante forense porque desenhei estas peças pela primeira vez.
De todas as colaborações que a H&M já fez, qual a sua favorita? Chegou a comprar alguma peça?
A minha colaboração favorita tem de ser Comme des Garçons. Foi uma coleção tão afinada e elegante que se tornou usável. Teve realmente aquele sentido democrático que eu adoro no trabalho com a H&M e que leva o teu trabalho até um grupo muito maior de pessoas. Infelizmente, não consegui apanhar nenhuma peça, mas é ótimo para mim estar a seguir esses passos.