O advogado do juiz Neto Moura — que se socorreu da Bíblia na fundamentação de um acórdão sobre violência doméstica — fez em abril dois comentários polémicos no Facebook sobre o grupo feminista Associação Capazes. Ao Observador, Ricardo Serrano Vieira disse que tudo tem “um contexto” e que não vai apagar o que escreveu.
O primeiro comentário foi feito numa publicação pública onde a sua mulher reagia a um comentário que a Associação Capazes fez a um anúncio dos preservativos Control e à forma como foi promovido na página oficial da marca. “Enquanto continuamos a receber salários inferiores, enquanto ouvimos diariamente ‘se quer usufruir de direitos tem de ser penalizada’, enquanto existem mulheres que estão inibidas e são coagidas de exercer os seus direitos, enquanto morrem diariamente dezenas de mulheres vítimas de violência doméstica, enquanto ser mãe e mulher no mundo laboral ainda significa ser uma trabalhadora de segunda. Aquelas que se afirmam como feministas e defensoras dos direitos das mulheres, estão apenas preocupadas com uma campanha de uma marca de preservativos!!!! E é isto!”, escreveu a mulher do advogado a 1 de abril deste ano.
Ricardo Serrano Vieira comentou a publicação com a expressão “lambedoras de c….. dá nisto”. Nesse mesmo dia, o advogado publicava (também de forma pública) na sua página de Facebook o seguinte: “Alguém tem control? Afinal são só incapazes”.
Algumas feministas “não são coerentes”, diz
Contactado pelo Observador, o advogado disse que não vai apagar o que escreveu. “Sou pai de uma menina, casado com uma senhora e filho de uma senhora que ainda cá está. Defendo a liberdade de expressão, mas não gosto de falta de coerência”, disse, acrescentando que tudo tem “um contexto”.
Questionado sobre qual seria esse contexto, o advogado explicou que alguns elementos da Associação Capazes — uma associação feminista — “não são coerentes” com o que a própria associação defende. E concretizou, dando como exemplo o processo que a diretora da revista Lux, Felipa Garnel, moveu contra a jornalista Rita Marrafa de Carvalho. Em causa uma publicação, também, no Facebook sobre o percurso profissional da jornalista.
“Acho importante existirem associações feministas e até considero que são determinantes, mas por vezes os comentários dos elementos destas associações não são coerentes com o que estas defendem”, acrescentou.