De que material são feitas as asas?
Papel, metal, tecido, penas, cristais Swarovski e até esferovite. Na hora de garantir que as asas dão espetáculo e que as estruturas carregadas às costas pelas modelos são o mais leves possível, todos os materiais são bem-vindos. Em média, cada par de asas pesa entre 7 e 8 quilos, mas o recorde está um pouco mais acima. Em 2011, Alessandra Ambrósio desfilou com uma peça banhada a ouro e repleta de pedras e cristais. Pesava mais de 13 quilos.
A produção destas peças começa meses antes e passa pelas mãos de Serkan Cura. A Victoria’s Secret revelou parte do processo num vídeo que mostra a visita da equipa criativa ao atelier do designer, em Paris, mas também à conversa com Janaîna Milheiro, também ela designer, só que especialista em trabalhar com penas e plumas. Cabe aos artesãos tirar as peças do papel, mas a última palavra é a de Sophia Neophitou-Apostolou, a diretora criativa da marca de lingerie mais famosa do mundo.
“Adoro esta. Esta tem de estar no desfile”, esclama Sophia enquanto as asas, algumas inacabadas, são experimentadas por uma modelo. A complexidade das asas e dos restantes acessórios do desfile exige que sejam feitos em mais do que um atelier. Em Long Island, Estados Unidos, cabe ao Killer Studio completar o trabalho feito deste lado do Atlântico. O conforto é importante, mas também a segurança, sobretudo quando se fala de um par de asas composto por 2000 alfinetes-de-dama.
A saga para criar todo o vestuário e acessórios que complementam a roupa interior também passa por Nova Iorque. Este ano, a Victoria’s Secret começou a trabalhar com Kirk Maxson, perito em escultura em metal, responsável pelas centenas de pequenas folhas, finas e douradas, que compõem os looks inspirados nas deusas do Olimpo. O contraste com o trabalho de Jeff Fender não podia ser maior. O designer utilizou 40 tons de azul para dar cor a outras das linhas da coleção deste ano. À primeira vista, os padrões, pintados à mão, podem fazer lembrar a azulejaria portuguesa, mas a influência vem mesmo do outro lado do mundo, da porcelana chinesa.
Estes e outros esquiços passam ainda pelas mãos de Brian Atwood, também ele sediado em Nova Iorque. É ele quem desenha todos os sapatos que as modelos calçam no desfile. Um trabalho criativo que nunca chega a ver a reprodução em massa, mas que chega aos quatro cantos do mundo através de imagens e vídeos.
Qual a diferença entre anjos e modelos?
Das 58 mulheres que pisaram a passerelle da Mercedes Benz Arena, em Xangai, só 14 delas são anjos. Mas o que é que as distingue? Em primeiro lugar, um belo par de asas. São as musas da Victoria’s Secret. Mas mais do que as asas, são os contratos que as separam das restantes. Não são conhecidos os valores, mas serão certamente bem mais chorudos já que os anjos são a cara da marca, não apenas no desfile mas também em campanhas.
Mais do que um trabalho, ser anjo da Victoria’s Secret é um título que acarreta obrigações. Isso ficou bem claro em 2014, quando Doutzen Kroes interrompeu o seu contrato com a marca. Na altura, Ed Razek, diretor de marketing da VS, revelou que a retirada estava relacionada com “uma oportunidade lucrativa na Europa” para a modelo e que essa oportunidade “entraria em conflito com as suas obrigações para com a VS”.
Ser um anjo não é algo que dependa de um casting. A proposta parte da própria marca que só recorre a processos de seleção para escolher as restantes modelos. Atualmente, a brasileira Adriana Lima é o anjo há mais tempo no ativo. Ganhou um par de asas em 1999 e só falhou o desfile de 2009 por estar grávida. Alessandra Ambrósio chegou um ano depois, mas é a atual recordista no número de edições que já desfilou consecutivamente: 17. Tudo leva a querer que a supermodelo brasileira teve a sua despedida oficial no desfile de Xangai, pelas lágrimas que não segurou no final do desfile e pelos gestos que muitos interpretaram como um adeus. Se é verdade que a Victoria’s Secret vai sentir falta das curvas de Alessandra, não é menos verdade que este elenco de luxo também também precisa de se ir renovando.
O elenco de anjos e modelos é anunciado com meses de antecedência, se bem que neste ano, a marca trocou as voltas a quem esperava que o desfile batesse certo com a lista de confirmações. A sul-africana Behati Prinsloo, mulher de Adam Levine, anunciou recentemente estar grávida do segundo filho. O anjo passou o desfile de 2017 mas teve direito a uma substituição de luxo. Depois de três anos ausente, Karlie Kloss regressou e com um loiro mais platinado do que nunca.
Os desfiles são sempre divididos por temas?
Parece que sim. O deste ano dividiu-se em seis partes — Punk Angel, Goddesses, Millennial Nation, Winter’s Tale, Porcelain Angel e Nomadic Angels — cada uma delas com uma estética muito própria. Na realidade, a lingerie em si muda muito pouco ao longo do desfile (à exceção da colaboração com a Balmain e da linha juvenil VS Pink, essas sim com estilos muito particulares). Tudo acontece nos adereços, nas cores, nos acabamentos e nos materiais de que são feitas as asas, que podem remeter para universos tão distintos como as divindades do Olimpo e os quadradinhos da banda desenhada. É onde a imaginação nos levar.
Quando ainda não havia anjos. 26 fotos do primeiro desfile da Victoria’s Secret
Quem atuou durante o desfile?
A par das asas, das modelos e dos conjuntos de lingerie mais cobiçados do mundo, os desfiles da Victoria’s Secret também são conhecidos pela banda sonora ao vivo. Pela passerelle da VS já passaram nomes como Rihanna, Taylor Swift, Black Eyed Peas, Lady Gaga, Justin Timberlake, Kanye West, Jay Z, Andrea Bocelli, Destiny’s Child e Spice Girls. Vestem-se a rigor e interagem com as modelos enquanto atuam. Alguns chegam a levar bailarinos e coreografia, como foi o caso da popstar chinesa Jane Zhang, uma das artistas convidadas em 2017. Juntaram-se a ela o ex-One Direction Harry Styles, o cantor norte-americano Miguel e o ator e cantor Leslie Odom Junior. Deram espetáculo, mas só vamos poder vê-lo no dia 29 de novembro, às 11h.
O que é o Fantasy Bra?
Bem, para a modelo brasileira Lais Ribeiro, a feliz contemplada do desfile deste ano, foi só o momento mais importante da sua carreira. Por muito que ache que todos os soutiens do desfile são lindos de morrer, há um em que olhos batem e do qual dificilmente se esquecem. Eis o Fantasy Bra, o mais caro e elaborados dos soutiens.
Todos os anos, a Victoria’s Secret escolhe um dos seus anjos para percorrer a passerelle com ele e a linhagem impõe algum respeito. A última portadora desta peça de luxo tinha sido Jasmine Tookes. Antes dela Lily Aldridge e antes Adriana Lima e Alessandra Ambrósio. Há poucas semanas, a marca divulgou um vídeo do momento em que Lais Ribeiro descobriu que seria ela a usar o Fantasy Bra em Xangai. Houve abraços, lágrimas e uns quantos gramas a mais.
Sim, porque este não é um soutien qualquer. O que Lais usou no desfile em Xangai chama-se Champagne Nights Fantasy Bra, demorou mais de 350 horas a ser feito e é composto por quase 6000 pedras preciosas, entre elas diamantes, safiras amarelas e topázios azuis. Está avaliado em 2 milhões de dólares (1,7 milhões de euros). Ainda assim, está muito longe de ser o mais caro. Na história recente da Victoria’s Secret há pelo menos dois exemplares que o encostam a um canto. Em 2013, o Fantasy Bra com que desfilou Candice Swanepoel foi avaliado em 10 milhões de dólares. Em 2004, foi a vez de Tyra Banks usar com o mesmo valor. Uns furos mais acima estiveram Gisele Bündchen e Heidi Klum. Ambas desfilaram com soutiens avaliados em 12,5 milhões de dólares, em 2005 e 2001, respetivamente.
Quanto custou o desfile?
A Victoria’s Secret continua a reclamar para si o título de desfile mais caro do mundo. A marca ainda não divulgou o orçamento deste ano, mas tudo indica que o desfile em Xangai terá batido o recorde de desfile mais caro de sempre, até aqui detido pelo do ano passado em Paris, um investimento que rondou os 20 milhões de dólares (cerca de 17 milhões de euros) de acordo com o New York Times. Abaixo disto não será de esperar, afinal a máquina da VS foi peso para a China e montou arraiais na Mercedes-Benz Arena com cabeleireiros, maquilhadores, stylists, modelos e seguranças.
Afinal, já que é para seduzir o mercado chinês, que seja em bom. Em fevereiro, a marca abriu uma flagship store em Xangai, a primeira em território chinês. Ao investimento na imagem da marca junto do mercado chinês juntam-se retornos bem mais diretos. Segundo divulgou a Forbes em 2015, os direitos da transmissão pagos pela CBS ultrapassam a marca de 1 milhão de dólares. Além de anúncios pagos a peso de ouro durante o desfile, há ainda marcas a quererem garantir lugar (e visibilidade) nos bastidores do espetáculo.
A Victoria’s Secret colabora com outras marcas todos os anos?
Não, na verdade a colaboração Balmain x VS é a primeira da marca americana com uma casa francesa de moda de luxo. A coleção segue o registo arrojado do diretor criativo Olivier Rousteing e chega às lojas da Victoria’s Secret já no dia 6 de dezembro. Coube a estas peças irreverentes abrir o desfile desta segunda-feira. Os anjos e modelos incorporaram o espírito punk, vestiram-se de preto e vermelho e encheram-se de tachas e transparências.
O que é feito de Gigi Hadid? E Katy Perry?
Se há coisa em que o desfile deste ano não foi pacífico foi na atribuição de vistos para entrar na China. A primeira a ser afetada pela intransigência chinesa foi Gigi Hadid. O jornal chinês Global Times refere um vídeo publicado pela modelo em fevereiro, onde esta estaria a esticar os olhos para imitar a fisionomia tipicamente asiática. O gesto despertou a indignação de muitos e por sua vez a satisfação dos mesmos quando Gigi anunciou no Twitter que não iria marcar presença no desfile deste ano, ao contrário de Bella Hadid, a sua irmã mais nova, que pisou duas vezes a passerelle.
So glad Gigi Hadid isn't going to be walking in the #VictoriasSecretShow this year in #Shanghai after her Buddha stunt. #Cancelled pic.twitter.com/uJkkZjMHo1
— Hannah Rose (she/her/hers) (@haaannahrose_) November 17, 2017
Katy Perry também ficou em terra. A cantora era uma das atuações da noite, mas acabou por ouvir um não na hora de pedir um visto para entrar na China. Porquê? A culpa é de um vestido de lantejoulas e girassóis. O episódio remonta a 2015, quando a tour da cantora americana passou por Taipei. Katy já tinha usado o vestido dos girassóis em concertos anteriores, embora naquele espetáculo em particular a flor tenha vindo a assumir uma conotação política. É que o girassol é o símbolo do movimento taiwnês anti-China. Pouco importa se a artista tinha ou não consciência disso, passou por apoiante da causa de qualquer maneira.
I do hope, it is not true about Chinese Government's move to ban Katy Perry from performing in Victoria's Secret Fashion Show that has been scheduled for recording shoot on next week, because of her's actions in Taiwan on 2 years ago, these kind of ban is giving wrong impression. pic.twitter.com/pL2uXZwMj0
— Atelier for R.A. ✨ ???? ???? Fashion Designing (@writerlok2000) November 18, 2017