A possibilidade de eleição de Mário Centeno, nesta segunda-feira, para a presidência do Eurogrupo abria a porta pelo menos a uma questão. Com o ministro das Finanças português na liderança do forum em que é discutida e analisada a situação da zona euro, as políticas orçamentais de cada um dos 19 países que partilham a moeda única e o cumprimento das metas do pacto de estabilidade e crescimento, a escolha de Centeno iria representar alguma mudança no rumo do Governo nestas matérias?

Após a confirmação de que a candidatura que era considerada como “favorita” tinha, de facto, alcançado a vitória, numa corrida disputada, inicialmente, por quatro candidatos, Mário Centeno deu uma resposta lacónica, mas clara: “não, nada”. A reação do ministro das Finanças tornou-se ainda mais significativa porque, na mesma reunião em que ascendeu a um cargo que assume a 13 de janeiro para desempenhar durante dois anos e meio, foram lançados avisos a um grupo de seis países que, do ponto de vista do Eurogrupo, apresentam riscos de quebrar os compromissos de disciplina orçamental em 2018. E este conjunto de membros da zona euro inclui Portugal, além de Itália, França, Bélgica, Áustria e Eslovénia.

Os ministros das Finanças da zona euro convidaram os governos alvo de alerta a “considerarem de forma atempada as medidas adicionais necessárias para responder aos riscos identificados pela Comissão Europeia e, assim, garantir que os orçamentos para 2018 cumprem as regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento”. Mas Mário Centeno afirmou que não haverá alterações no rumo escolhido para Portugal. Afirmou que Bruxelas já deu indicação de que espera que as suas previsões acabem por se alinhar com as do Governo e manifestou-se confiante de que as metas serão cumpridas. “Estamos em crer que a avaliação que fazemos do esforço estrutural e do esforço nominal [no Orçamento do Estado para 2018] vai ser cumprida”, declarou o ministro das Finanças.

Compromissos com PCP e Bloco “não são colocados em causa”

A ascensão à liderança do Eurogrupo, desvalorizada pelos partidos à esquerda, poderá constituir um foco de novas tensões entre os parceiros da maioria parlamentar que sustenta o Governo liderado por António Costa. Mário Centeno afastou o cenário ao dizer que nada irá mudar na relação com o PCP e o Bloco de Esquerda. “Temos um conjunto de compromissos políticos em Portugal que não são, de todo, colocados em causa com esta eleição”, afirmou o ministro.

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Perante os jornalistas, Centeno falou, também, sobre as responsabilidades acrescidas que a liderança do Eurogrupo potencialmente acarreta. “Não é uma responsabilidade acrescida, nem nova”, disse em resposta a uma questão colocada na conferência de imprensa que se seguiu à reunião de ministros das Finanças do euro realizada em Bruxelas. “Este Governo e eu próprio, mais ou menos há um ano, estávamos a lutar aqui para que não tivéssemos suspensão dos fundos estruturais” e “um mês antes para não ter sanções”, recordou Mário Centeno. “É apenas um novo patamar dessa exigência, mas estou certo que é um nível de exigência a que Portugal e os portugueses estarão expostos e, mais uma vez, uso a expressão, orgulhosos”, acrescentou.

“Eu continuo a ser ministro das Finanças de Portugal e isso é uma enorme diferença”, assinalou Centeno, que, a propósito da sua escolha para a presidência do Eurogrupo, disse tratar-se de “um momento que valoriza a credibilidade de todo o processo que Portugal tem feito nos últimos anos, um sucesso que é entendido com um sucesso na Europa”. Quanto à responsabilidade por esta situação, o ministro das Finanças chamou os louros a si e ao executivo que integra: “O Governo tem vindo a trazer um conjunto de ideias e de abertura de novas formas de estar dentro daquilo que são as regras europeias”.

Acompanhado de Jeroen Dijsselbloem, o holandês que vai passar o testemunho a Mário Centeno, o novo líder do Eurogrupo declarou ser “uma honra” ter sido eleito e deixou uma garantia: o contributo “para aquilo que pensamos que deve ser a agenda que deve guiar o Eurogrupo nos próximos tempos”.

É possível fazer com que a zona euro cresça a um ritmo superior

Mais tarde, em entrevista à Bloomberg TV, Centeno afirmou ser possível fazer com que a zona euro cresça a um ritmo mais acelerado e por um período mais prolongado se forem concretizadas “as reformas necessárias”. Considerou, igualmente, que o novo ciclo político que se abriu após a realização de eleições gerais em diversos países europeus, as mais importantes das quais na Alemanha, deve ser aproveitado para concretizar mudanças “ambiciosas”.

Sobre objetivos para o mandato que inicia em janeiro próximo, o ministro das Finanças identificou a necessidade de reforçar o Mecanismo Europeu de Estabilidade e de prosseguir o processo de convergência das diferentes economias. “Todos os estados-membros têm de crescer a taxas mais elevadas”, disse Mário Centeno. A união orçamental poderá ser um dos próximos passos mas é uma meta mais difícil de atingir. “Temos de manter discussões mais profundas sobre esta matéria e ainda existe um longo caminho a percorrer”, declarou.

Mário Centeno encara as novas funções que foi chamado a exercer como as de um “gerador de consensos” entre os membros da zona euro. “A minha opinião é importante, mas agora sou mais um ouvinte”, concluiu o ministro das Finanças.